António Cunha Vaz, Presidente CV&A
Tudo está a acontecer. Vertiginosamente. Globalmente. Inesperadamente. Portugal está a meio do exercício do seu mandato na Presidência do Conselho da União Europeia. António Guterres, Secretário-geral das Nações Unidas, anunciou a sua intenção de se recandidatar ao cargo por mais um mandato. Dentro de seis meses a Senhora Merkel sai do poder na Alemanha. Em Israel, pela quarta vez, Benjamin Netanyahu ganha as eleições, em Myanmar o golpe de estado militar faz massacres sob a passividade do mundo, em Moçambique e com o Governo a fazer o possível e impossível para controlar os ataques de terroristas islâmicos a vida não está fácil para as populações, no Brasil a pandemia está a atingir proporções nunca vistas, na Austrália as inundações atingiram dimensões inimagináveis, em África há cada vez mais focos de conflito e, confesso, a indecisão ou o excesso de decisão sobre a pandemia tem deixado Portugal em estado de nervos. Enquanto a realidade, do ponto de vista médico, parece melhorar, do ponto de vista da economia a situação é mais grave. E não nos falem de bazuca europeia ou de moratórias, porque as segundas são como aspirinas para tentar curar uma doença séria e a primeira é uma realidade que se esperava que acontecesse no primeiro semestre e, para ser sincero, creio que verá luz do dia em Outubro. Veremos quem sobrevive.
E se a bazuca peca por chegar tarde, as moratórias pecam por ser um produto que só serviria o seu propósito se antes da pandemia as empresas estivessem sãs. A grande maioria delas não estava, apenas está a sobreviver porque há esta medida e quando chegar a hora de começar a pagar capital vai ter grandes dificuldades em sobreviver. O Mundo empresarial português acaba? Não. Nunca existiu! Os capitalistas portugueses não têm capital, sempre foram subsidiados pela banca e o mercado é demasiado pequeno para assegurar a sobrevivência de muitas empresas. Espera-se que a banca sobreviva, que se pare de ficar feliz quando os negócios dos nossos concorrentes correm menos bem e que o número de empresas que nasça seja superior e melhor em qualidade do que aquele que vai perecer.
Internacionalmente é importante que o eixo Paris Berlim pense no resto da Europa da União, que Portugal não continue a deixar que se pense que a capital da Ibéria – como se a Ibéria existisse – é Madrid, que a crescente tensão entre a China, a Rússia e os EUA reduza, que os países da América Latina encontrem um caminho de desenvolvimento e que, em particular o Brasil, pela sua dimensão, se reencontre, sendo que o papel da Índia como maior democracia do Mundo e como potência industrial, bem como o papel de alguns países asiáticos e do médio oriente, com ou sem petróleo devem ser considerados como essenciais, economicamente mas, também, climaticamente. África tem um papel especial neste futuro do mundo. África não pode ser um continente eternamente adiado e ter populações repetidamente deixadas ao abandono. A responsabilidade de assegurar o desenvolvimento de África é dos africanos e dos seus governos. Mas os países ditos desenvolvidos não podem ser cúmplices, nos sectores público e privado, de um desbaratar de fundos que nunca chega a ser em benefício das populações.
Termino com Portugal. Quando um Estado assina contratos deve honrá-los, sejam eles assinados com entidades nacionais ou estrangeiras. Sob pena de, no caso destas últimas, se arriscar a afastar o seu interesse em investir neste país à beira-mar plantado. Se os responsáveis do Estado não têm competência para negociar contratos, mudem-nos. Responsabilizem-nos. O que o Estado Português não pode é captar investimento quando precisa e querer faltar às obrigações assumidas com quem cá investe quando não é o caso. l