Quinta-feira, Abril 25, 2024

Sol já gera electricidade para mais de um milhão de angolanos

Angola tem dezenas de projectos de energias renováveis que visam descarbonizar a economia e levar electricidade verde a milhões de pessoas, evitando o consumo de energias fósseis e a emissão de muitos milhões de toneladas de gases poluentes para a atmosfera. O Executivo de João Lourenço aposta forte neste sector, que contribui para a autonomia e segurança energética do país, atraindo investimento privado nacional e estrangeiro e permitindo a formação profissional e técnica de milhares de angolanos.

Ricardo David Lopes

Angola caminha a passos largos rumo às metas do Executivo de João Lourenço para a geração de electricidade a partir de fontes renováveis, com dezenas de projectos no terreno e muitos outros em curso, um pouco por todo o país.

O Presidente da República comprometeu-se, na 26ª conferência do clima das Nações Unidas (COP26), em Glasgow, em Novembro de 2021, a aumentar para 70% o uso de fontes renováveis de energia até 2025, face aos actuais 62%.

E, já no ano passado, em Dezembro, voltou a evidenciar a importância que atribui ao tema do clima e à influência das fontes energéticas na preservação do planeta, ao destacar, em Washington, num debate no congresso norte-americano promovido pelo Exim Bank (banco norte-americano para as importações e exportações), à margem da cimeira EUA-África, o potencial não só de Angola, mas de todo o continente africano, para ser parte da solução do problema energético mundial, agudizado pelo conflito da Rússia com a Ucrânia.

“Em África temos muito sol a desperdiçar-se, que se aproveita muito pouco, para a praia, mas é preciso fazer mais, usar essa vantagem natural para se produzir energia abundante”, sublinhou João Lourenço, reiterando que o continente conta “para a economia mundial”.

“Acreditamos que África possa ser também parte da solução para os grandes problemas actuais, como os ligados à geração de energia”, declarou o Presidente angolano, enfatizando a importância da atracção de investimento para que este papel seja assumido em pleno.

Em Angola, a energia solar é uma das fontes com mais potencial – e uma das que está mais avançada em termos de implementação. Segundo um relatório da Associação Lusófona de Energias Renováveis (ALER), datado de Julho de 2022, cerca de dezena e meia de parques fotovoltaicos estão em operação, ou em construção, para levar energia limpa a milhões de angolanos, sobretudo em zonas recônditas onde a rede eléctrica ainda não chegou.

O documento – intitulado “Energias Renováveis em Angola – Relatório Nacional do Ponto da Situação – Julho de 2022” – revela os projectos no terreno (Ver tabela PROJECTOS DE ENERGIAS RENOVÁVEIS) e destaca o contributo do sector privado nestes empreendimentos, que permitem poupar milhões de dólares em gasóleo para geração eléctrica, e evitam a emissão milhares de toneladas de CO2 e outros poluentes ambientais.

Solar, o bom exemplo
O exemplo mais recente de aproveitamento fotovoltaico encontra-se no Namibe. No início de Janeiro, foi dada como concluída a primeira fase das obras de construção da Central Fotovoltaica de 25 megawatts (MW), construída em Caraculo, município da Bibala, tendo os ensaios, entretanto, sido iniciados.

No final, o projecto, a cargo da Solenova – uma ‘joint venture’ entre a italiana Eni e a estatal Sonangol -, terá 50 megawatts e deu emprego a 230 funcionários residentes na província do Namibe.

O projecto está em linha com o Objectivo de Desenvolvimento Sustentável número 7 das Nações Unidas (acesso a energia limpa e acessível) e enquadra-se nos objectivos do Angola Energy 2025, o plano a longo prazo do Governo para o sector energético, cujo principal objectivo é proporcionar à população o acesso aos serviços energéticos básicos.

Os parques da Solenova contribuem igualmente para o país alcançar os objectivos do Plano de Acção do Sector de Energia e Água 2018 – 2022, que estabelece, a médio prazo, uma meta de 500 MW adicionais de energia renovável (Solar, Eólica, Biomassa e Mini-Hídrica) com um enfoque específico em projectos solares à escala de utilidade pública.

Em Julho do ano passado, João Lourenço foi a Benguela inaugurar, na Baía Farta e no Biópio, dois dos mais relevantes projectos fotovoltaicos em Angola (e no Continente), a cargo de um consórcio que integra a norte-americana Sun Africa e portuguesa MCA, entre outros parceiros nacionais e internacionais, composto por um total de sete parques distribuídos por Benguela, Huambo, Moxico, Lunda Norte, Lunda Sul, Bié e Huambo, num investimento global que ronda os 500 milhões USD.

Os parques fotovoltaicos inaugurados por JLo em Benguela contam com uma potência instalada de 285 MW, sendo que a central do Biópio, com 189 MW, leva energia a mais de um milhão de pessoas.

No seu conjunto, trata-se do maior projecto de energia fotovoltaica na África subsariana. E, no terreno, a construção e manutenção contam com mão-de-obra nacional, a quem foi e é ministrada formação técnica, para além do apoio prestado em acções de responsabilidade social junto de escolas, hospitais e outras instituições.

Com estes projectos, no que diz respeito ao solar, Angola vai aliás mais longe do que o previsto nos planos do Angola Energia 2025 e Novas Energias Renováveis, dando um sinal ao continente e ao mundo – e gerando importantes mais-valias para a população.

Metas ambiciosas
O Governo de Angola estabeleceu na sua estratégia como meta para 2025 que pelo menos 7,5% da electricidade gerada no país provenha de fontes de energias renováveis que não as grandes hídricas, com uma potência total de 800 MW prevista (ver tabelas).

Até lá, apesar do ritmo acelerado que João Lourenço imprimiu a este sector, há ainda muito a fazer. João Baptista Borges, ministro da Energia e Águas, apela por isso aos privados, para que tragam novos projectos. “As energias renováveis nacionais encontram-se numa fase embrionária, e a participação do sector privado numa fase ainda incipiente. Apesar da legislação nacional, das estratégias e planos referirem a importância e a intenção de envolverem o sector privado no acesso à energia, o contexto operacional e comercial não é ainda convidativo”, admite no Prefácio do documento da ALER, que conta com a colaboração do MINEA para a elaboração do relatório.

Contas feitas, diz o ministro, “de modo a concretizar a visão de longo prazo para o sector eléctrico será necessário mobilizar recursos, quer investimentos públicos, quer privados, na ordem dos 23 mil milhões USD”.

A ideia, explica, é que o investimento público seja “progressivamente substituído por um financiamento privado de longo prazo”, ficando as verbas do Estado reservadas “para projectos da esfera pública, como as grandes barragens, investimentos na rede nacional de transporte e expansão da rede de distribuição da energia eléctrica”.

Para além do sol e das grandes barragens – a par de mini-hídricas – o potencial de Angola no que diz respeito às energias renováveis é vasto, em especial no que diz respeito à biomassa, refere o relatório da ALER, que dá conta da meta de 500 MW de capacidade instalada, apoiando “a criação e desenvolvimento de novos projectos agrícolas e pecuários, nomeadamente de cana-de-açúcar, de novas explorações florestais nas regiões centro e leste do país e a criação de unidades de incineração para resíduos urbanos”. 

(Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)

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