Bruno Mota, Fundador e CEO da BOLD
O “Manifesto para a Ciência em Portugal”, escrito pelo Professor Mariano Gago em 1990, destaca, entre outros, a importância de Renovar a Educação Científica e de Criar Cultura Científica no nosso país. Mas muito tempo antes do Manifesto, a importância da inovação tecnológica para o desenvolvimento e crescimento nacionais já havia sido demonstrada: a invenção da caravela e do astrolábio náutico foi instrumental para que Portugal se pudesse aventurar nos Descobrimentos marítimos. Estes, por sua vez, revelaram-se importantíssimos para a descoberta de novas terras, de mais recursos naturais e novos povos com os quais fazer domércio, que só vieram enriquecer o nosso país financeira e culturalmente e nos permitiram crescer e criar um Império mundial.A relação simbiótica entre a educação e a tecnologia é uma das realidades mais fascinantes e evidentes dos dias de hoje.
O investimento na educação leva ao desenvolvimento de mais e melhor tecnologia que, por sua vez, nos capacita com mais e melhores ferramentas para o estudo e aprendizagem. Ainda que seja essencial para o desenvolvimento das nações, este ciclo virtuoso é, muitas vezes, ignorado e preterido em função de outros ganhos mais rápidos. É que os frutos que nascem do investimento na educação, só poderão ser colhidos anos e anos depois. Como disse Malcolm X, “a educação é o passaporte para o futuro,porque o futuro pertence aos que se preparam para ele hoje.”Ainda assim, como pode este ser um processo tão longo, quando o ritmo da evolução tecnológica a que assistimos hoje em dia é tão acelerado? Os avanços na ciência, na investigação e na tecnologia não deveriam também fazer acelerar o ritmo de crescimento e de melhoria da nossa sociedade? Se olharmos novamente para o ciclo virtuoso, vemos que é necessário que os eixos se alimentem mutuamente.
De pouco servem todas estas inovações se não forem reinvestidas e aplicadas na construção de novos processos educativos – o desafio consiste em perceber como aplicar determinada novidade técnica ecriar valor em cima dela. Para além disso, é necessário um tempo de maturação eaprendizagem para que o casamento entre ambas as vertentes dê frutos.Um exemplo disto são tecnologias como a Computação Quântica, Blockchain, Realidade Aumentada e Virtual, entre outras.
Qual será o impacto que terão para empresas, famílias e para a sociedade em geral? Embora existam muitas ideias sobre o assunto, ainda é difícil compreender todas as repercussões que possam vir a ter. Mas também convém recordarque há menos de uma década se falava com o mesmo tom de desconfiança e incerteza sobre Cloud, IoT, Automação, e outros, e hoje em dia desempenham um papel fundamental: trabalho remoto e ‘online’, ‘gadgets’ inteligentes que podemos controlar à distância e muitas outras comodidades que aprendemos a apreciar.É, por isso, essencial dotar a Escola e a Academia das ferramentas necessárias para que possam criar, experimentar, investigar e desenvolver soluções que possam vir a ser implementadas na sociedade civil. Ter uma estratégia educativa assente na inovação é essencial para a evolução de qualquer país.
Em Portugal, nos anos 70, um quarto da população não sabia ler nem escrever e a economia dependia em larga escala da agricultura e da indústria. Ora, só através de sucessivos investimentos em melhores condições de ensino, mais oportunidades de investigação, mais apoios a empreendedores e empresas que procurem desenvolver tecnologia no nosso país, podemos dar o salto para uma nova economia digital e aproximarmo-nos de alguns dos países mais tecnologicamentedesenvolvidos. É, por isso, importante não perder de vista duas das estratégias de que o Professor Mariano Gago falou no seu Manifesto: Renovar a Educação Científica e Criar Cultura Científica. Se a educação é a porta de entrada para um futuro melhor, a tecnologia e a inovação científica são a chave que nos permitem abri-la.