Manuel Caldeira Cabral, Administrador na Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF)
O forte crescimento das empresas tecnológicas em Portugal, que aconteceu nos últimos seis anos, foi uma mudança estrutural determinante, que alterou o quadro das maiores empresas portuguesas, criou mais de 40 mil novos empregos e vai contribuir para acelerar o crescimento do país no pós-pandemia.
No meu livro, “Construir a Alternativa”, mostro que esta reforma estrutural resultou do mérito dos empreendedores portugueses e do talento que existia no país, mas também da implementação de um conjunto de políticas públicas coerentes, que incluíram: apoios ao empreendedorismo, como o Startup Voucher; incentivos fiscais (Semente, KEEP); medidas de dinamização do ecossistema, como a criação da rede nacional de incubadoras; um forte aumento do financiamento público do capital de risco, colocando mais de mil milhões de euros em fundos de coinvestimento; apoios à internacionalização a mais de 400 ‘startups’; vistos para atrair empreendedores (Startup Visa); um programa para valorizar a participação de ‘startups’ portuguesas na Websummit (Road to Websummit) e uma mobilização da AICEP e do Compete para a atração de centros de desenvolvimento tecnológico para Portugal.
Quando, em março 2016, eu e o João Vasconcelos, lançámos o programa Startup Portugal, apresentámos estas medidas e afirmámos que queríamos colocar Portugal como um dos países europeus com melhores condições para as ‘startups’ crescerem e se afirmarem globalmente.
Na altura, o programa foi recebido com algum ceticismo. Estas empresas eram demasiado pequenas para poderem ter um impacto no crescimento e no emprego. Portugal não ia passar, de um dia para o outro, a ser visto com um destino para áreas de alta tecnologia. De facto, em 2015, não havia nenhum unicórnio português e o valor das empresas tecnológicas portuguesas não chegava a 1% do PIB. Portugal não estava no mapa dos investidores internacionais.
Em seis anos, o quadro mudou completamente. Multiplicaram-se exemplos de investidores internacionais a fazer entradas de capital de 5, 10 ou mesmo 50 milhões de euros em ‘startups’ portuguesas. Dezenas de centros de desenvolvimento tecnológico vieram para Portugal, criando dezenas de milhar de empregos qualificados por todo o país. Lisboa surge hoje como a 6ª melhor cidade para fundar uma ‘startup’ na Europa e o Porto como a 18ª (Startup Heatmap Europe). O valor das empresas tecnológicas portuguesas já ultrapassou os 15% do PIB.
Portugal tem hoje cinco unicórnios. Se estivessem na bolsa nacional, três destas empresas, estariam entre as cinco com maior valor. Estas empresas são muito diferentes das tradicionais grandes empresas portuguesas: Estão em crescimento rápido, enquanto a maioria das grandes empresas tradicionais apresenta um crescimento lento, e atuam no mercado global, ao contrário das tradicionais que estão centradas no mercado nacional. Estes dois aspetos, significam que estas empresas deverão continuar a dar um contributo importante para reforçar e alterar o padrão de crescimento.
Esta foi uma reforma estrutural importante, que resultou de um conjunto integrado e coerente de medidas de política e do esforço de mobilização do ecossistema português e de atração de investidores internacionais, que responderam de uma forma fantástica.
Descrevo estas medidas e os resultados conseguidos no meu livro, em que abordo muitas outras áreas de política económica em que atuei, que incluíram políticas de reforço da digitalização e da inovação, com os programas Indústria 4.0 e Interface, de apoio à capitalização e incentivo ao investimento (Programa Capitalizar), de suporte à internacionalização (Programa Internacionalizar), e a atuação que desenvolvi nas áreas do Turismo e da Energia. O livro apresenta as reformas feitas por estas políticas e os seus resultados e discute a ações que são necessárias para reforçar o seu efeito no crescimento de Portugal no período pós-pandemia.
(Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)