Sexta-feira, Abril 26, 2024

Aquele quarteirão do Campo Grande

Texto: Ana Valado | Fotografias: Fernando Piçarra

O que antigamente era conhecida como “Aquela esquina do Campo Grande”, como refere Jorge Silva Melo num texto, publicado no Magazine Artes, quando a galeria fez quarenta anos, e que Maria Arlete Alves da Silva, mulher de Manuel de Brito, fundador da Galeria 111, inseriu no livro comemorativo dos 50 Anos da Galeria, é hoje um quarteirão inteiro. Um quarteirão onde se “respira” arte contemporânea portuguesa e também estrangeira nas suas mais diversas linguagens, sejam pinturas, desenhos, esculturas ou instalações.

A antiga Galeria 111, que começou como uma livraria de apoio às faculdades que ali existem, foi crescendo e expandindo-se para vários espaços adjacentes no mesmo quarteirão, sem deixar para trás os já existentes, dando-lhes sempre uma finalidade com vista à promoção da cultura e arte contemporâneas.

A mudança mais recente deu-se há cerca de dois anos, altura em que a Galeria 111 voltou para o espaço da rua Dr. João Soares, que já tinha funcionado como galeria de 2000 a 2015, com um novo conceito, ocupando uma área de 1000 metros quadrados, composto pelo  espaço expositivo e com acesso ao armazém. À frente deste espaço está Rui Brito, filho do fundador e colecionador Manuel de Brito, que com a ajuda da sua mãe deram continuidade não só ao negócio e à paixão do seu pai, mas também à sua coleção de arte frequentemente vezes por instituições portuguesas e estrangeiras para as mais importantes mostras realizadas em Portugal e no estrangeiro.

A PRÉMIO foi fazer uma visita à Galeria 111, guiada por Rui Brito, que nos mostrou este novo espaço, onde fomos surpreendidos por algumas peças insólitas que não estamos habituados a ver num espaço como este, como uma mesa de matraquilhos ou um saco de boxe, e não, não estamos a falar de instalações, são objetos que fazem parte da rotina de Rui Brito e que servem também como o próprio refere para “desconstruir a ideia que as pessoas ainda têm de uma Galeria de Arte”. 

Com regularidade o perito em História de Arte e amante de aviões, escolhe uma pintura como pano de fundo, veste as luvas de boxe e pratica o seu desporto favorito, Muay Thai (boxe tailandês), outras vezes convida amigos, artistas e clientes para animadas e descontraídas tertúlias.

Para além deste espaço, fomos surpreendidos por um arquivo imenso num primeiro andar do Campo Grande, muito visitado por estudantes universitários ou especialistas na área para realização de trabalhos e pesquisas. Aqui, por exemplo, podemos encontrar toda a correspondência trocada ao longo de mais de 50 anos entre a Galeria 111 e os artistas que por ela passaram. O espaço onde se encontrava anteriormente a Galeria está a ser renovado para acolher alguns núcleos da coleção Manuel de Brito.

Depois de um percurso pelos vários espaços, o anfitrião Rui Brito recebeu-nos na sua sala de tertúlias ao fundo do armazém para uma conversa intimista.

É atualmente o diretor da Galeria 111, uma das mais antigas galerias de arte do país, fundada pelo seu pai, Manuel de Brito, em 1964. Conte-nos como começou esta paixão pelo mundo da arte?

A minha paixão foi inevitável. Cresci no meio da Galeria, hoje com 58 anos e eu com 44 anos, entre artistas e obras de arte. Para além de um grande carinho pelas pessoas e pelas artes, fui desenvolvendo também uma grande sensibilidade estética, que só mais tarde dei conta quando comecei a estudar História de Arte na Faculdade de Letras. Nessa altura foi a primeira vez que tive a noção que o facto de ter nascido no meio em que nasci e dos meus pais sempre me terem levado a exposições e museus, desde pequeno, me proporcionou ter um conhecimento empírico desta realidade. Quando estava à conversa com os meus colegas, mesmo os mais estudiosos e aplicados, apercebi-me que o conhecimento teórico estava lá, mas perante uma obra de arte não sabiam explicar porque era boa ou má, se estava bem executada ou não. E eu tinha esse lado mais intuitivo.

Durante a sua infância, privou com os mais conceituados artistas nacionais, tendo já referido que as paredes do seu quarto em criança que, em vez de ‘posters’ da Disney, estavam repletas de quadros de famosos pintores portugueses. Quer partilhar alguma história curiosa que lhe tenha ficado na memória?

Sempre tive uma relação muito próxima com os artistas, com os quais em muitos casos privo desde criança. Acho que essa cumplicidade com os artistas nos destaca em relação a outros projetos. O meu pai sempre teve uma relação muito próxima com os artistas que frequentavam a nossa casa num ambiente muito familiar. E quando eu nasci os artistas de forma natural começaram a oferecer-me as suas obras e foi, nessa altura, que comecei a minha própria coleção. A primeira história de que tive conhecimento foi uma oferta de um quadro de Júlio Pomar do ano do meu nascimento (1977), uma colagem muito curiosa de um orangotango. 

O facto de estar sempre presente na galeria, nos ‘ateliers’, criou uma relação de muita proximidade com os vários artistas, algumas dessas relações ainda se mantêm como é o caso da Paula Rego, de quem sou extremamente próximo. De facto, tive a sorte de ter muitas ofertas de artistas, algumas com dedicatórias, e o meu quarto começou a ser forrado por esses gestos de generosidade e que para mim não têm valor comercial.

Um saco de boxe tailandês e uma mesa de matraquilhos tornam o novo espaço da Galeria 111 pouco convencional

Qual era o grande objectivo da Galeria 111 na altura da sua fundação, numa época em que o colecionismo ou o investimento em arte ainda não tinham grande expressão em Portugal?

A Galeria 111 inicia-se de uma forma um pouco amadora, por paixão. O meu pai instalou-se na Cidade Universitária como livreiro, com a particularidade de vender livros proibidos pelo regime, o que rapidamente captou a atenção de políticos, de criativos, etc.. O meu pai sendo um ‘self-made man’ começou a ter contacto com um conjunto de pessoas, nomeadamente das artes, que o desafiaram a fazer algumas exposições de jovens artistas,. O meu pai gostou da ideia e, na última sala da livraria, começou a fazer exposições de artistas que nunca tinham exposto. Estou a lembrar-me, por exemplo, de António Palolo, atualmente um dos grandes artistas da história de arte portuguesa, que expôs pela primeira vez com 17 anos aqui na Galeria. Este projeto não tinha pretensão de ser extremamente bem-sucedido, mas naturalmente isso veio a acontecer e a Galeria foi ganhando peso, a arte foi ganhando visibilidade e o meu pai começou a desenvolver, de certa forma, o mercado de arte em Portugal.

Que nomes passaram pelos primeiros anos da Galeria? 

Os primeiros artistas a exporem na Galeria foram Joaquim Bravo, Álvaro Lapa, Palolo e depois houve muitos outros, como a Paula Rego, a Menez em fases iniciais das suas carreiras. A Galeria foi crescendo e a paixão pela arte também. A livraria, a seguir ao 25 de Abril de 1974, deixou de ser tão estimulante. 

Como é crescer ao lado do “desenvolvimento artístico” de Paula Rego, por exemplo, acompanhando a sua evolução enquanto artista?

Eu falo muitas vezes da Paula Rego porque se calhar é a pessoa que eu mais admiro nas artes. Porque é uma pessoa que eu acompanhei muito de próximo, tenho muitas histórias com ela, ela tinha uma paciência infinita e um lado infantil muito grande. 

Para ter uma noção, a Paula trazia-me brinquedos de Londres para me oferecer e depois tinha a paciência de me explicar como eu podia colocar essas brincadeiras em prática. Por exemplo, nos anos 80, quando ainda não existia muita coisa em Portugal, a Paula Rego trouxe de Londres umas moscas varejeiras de plástico e depois sentou-se comigo e disse-me com um ar muito sério: “Olha Rui, quando os teus pais tiveram um jantar muito importante lá em casa e quando a tua mãe estiver a servir a sopa, tu sem ninguém perceber colocas estas moscas dentro da sopa”. Era a própria a incentivar estas brincadeiras, é o lado perverso dela, que muita gente acha que é maldade, mas é o seu lado infantil.

A Paula Rego pintou-me num quadro de 1988. Numa entrevista perguntaram-lhe onde ia buscar inspiração, e ela explicou: “Por exemplo, neste quadro é o Rui no quintal dele a brincar com o gato e depois apareceu um gafanhoto”. A Paula para mim é um grande exemplo de força, foi tendo várias dificuldades ao longo da vida e conseguiu sempre impor a sua arte, ir mudando de estilo, nunca esteve presa a uma fórmula e sempre esteve preocupada com aquilo que a rodeava, a temas sensíveis como por exemplo a questão do referendo da legalização do aborto. A Paula pega em temas e faz justiça à sua maneira, pintando. Ao mesmo tempo é uma pessoa que, além de ser muito generosa, nunca mudou a sua maneira de estar independentemente do sucesso que alcançou.

Eu uso muito a Paula Rego como um exemplo. Neste momento é um dos destaques na Bienal de Veneza, estive lá há umas semanas e constatei que de facto toda a gente está rendida ao seu trabalho e a Paula nunca deixou de ser a Paula.

Gosto muito do seu trabalho, acho que a percebo muito bem, mesmo o seu lado mais “macabro”.

E atualmente, quais os artistas mais marcantes que a galeria representa, portugueses e estrangeiros?

Nós mudámos para este espaço há dois anos e estamos numa fase de visualização de portefólios de artistas. Por exemplo, o Pedro A.H. Paixão é um dos artistas que tem tido maior procura e maior destaque da critica, tem sido um dos artistas com mais sucesso, o Rui Ferreira, o Pedro Vaz, o Alexandre Conefrey, alguns de gerações diferentes, porque gosto de trabalhar com essa transversalidade. Internacionalmente alguns dos projetos que estavam para ser feitos ficaram um bocadinho em ‘stand by’. Há um grande interesse do estrangeiro no nosso país e muitas galerias questionam se fará sentido abrir espaços em Portugal, algumas têm vindo a abrir, galerias francesas, italianas, mas o mercado não é assim tão grande e acho que faz mais sentido fazer parcerias com galerias estrangeiras e convidá-las a fazer uma exposição na Galeria onde mostram o seu portefólio de artistas. 

A meu ver faz mais sentido esse tipo de colaboração.

“O maior investimento é adquirir uma obra que gostamos e associar isso a um preço justo.”

E o inverso acontece?

Temos feito no Brasil, na Alemanha, mas é algo que está a ser trabalhado e vai acontecer cada vez mais. Portugal está claramente no mapa. Toda a gente fala de Portugal, temos cada vez mais visitantes franceses, americanos, muita gente a comprar casa no nosso país e a adquirir obras de artistas portugueses.  

Quer explicar-nos a existência de um saco de boxe e uma mesa de matraquilhos numa Galeria de Arte? O objetivo é “desconstruir” a ideia tradicional que as pessoas têm de um espaço como este? 

Permite descontração e confiança. Algumas pessoas entram dão um murro no saco de boxe e eu digo “cuidado isso é uma obra de arte”. As pessoas ficam assustadas.

O novo espaço da galeria, com cerca de 1000 metros quadrados e 17 lugares de estacionamento, tem um escritório aberto onde estou a trabalhar, o que me permite ter um contacto direto com quem nos visita. Muita gente que entra numa Galeria de Arte está à espera de um espaço frio, silencioso, associado a alguma “snobeira” e eu, naturalmente, pelos valores que herdei, sempre gostei de me dar com toda a gente, não me acho melhor que ninguém, nem admito que ninguém me trate mal. Nestes últimos dois anos, eu tenho sido incansável a passar essa energia. Recebemos muitas visitas de escolas, que trazem cá as suas crianças e mais tarde essas crianças trazem os pais e avós, por terem gostado do espaço e da forma como foram recebidas. 

A minha ideia é “desconstruir” o espaço da Galeria como um espaço elitista. Estou muito orgulhoso do que fiz aqui e acho que essa energia passa.

Está a trabalhar na Galeria há quanto tempo?

Comecei numa fase inicial aos 15 ou 16 anos a trabalhar em ‘part-time’, ao sábado, a atender clientes para ganhar uns “trocos”. Estudava aqui ao lado no Colégio Moderno, quando saía das aulas ficava aqui neste ambiente de Galeria, sempre foi uma coisa muito descontraída.

Por ser o filho mais novo nunca senti a pressão de seguir o negócio. O meu pai teve um filho, do primeiro casamento, que nunca se interessou por arte, a minha irmã também seguiu a área de Relações Internacionais e foi cedo para fora de Portugal e eu comecei a sentir alguma pressão. Sempre soube que gostava da área, mas nos primeiros anos segui as áreas mais económicas. Acabei por entrar em Gestão na universidade, mudei para Direito, depois para Economia, pertenci a associações académicas e acabei por trocar quatro vezes de curso. Um dia parei para pensar e decidi que o que gostava mesmo era de Arte. Dada a proximidade da nossa família à Faculdade de Letras, o meu pai enquanto livreiro e galerista e a minha mãe licenciada em Germânicas por esta instituição, acabei por fazer a licenciatura em História de Arte. Foi importante sobretudo numa fase inicial para me legitimar junto de alguns clientes.

Em homenagem a Manuel de Brito foi inaugurado o Centro de Arte Manuel de Brito (CAMB), no Palácio dos Anjos, em Oeiras, em 2006, sendo um prolongamento da Galeria e onde estava grande parte da coleção privada. O CAMB acabou por sair deste espaço por não renovação do protocolo com a Câmara de Oeiras. Está em cima da mesa a procura de um novo espaço ou uma nova parceria?

O palácio Anjos era um espaço que se adequava muito bem à coleção, mas que teve que ser abandonado por falta de interesse de parte a parte. Apesar de estarmos a pensar reformular o espaço da antiga Galeria para construção de um pequeno Centro de Arte, o espaço é muito limitado. No entanto não queremos deixar o espaço porque é histórico e achamos que faz sentido ter aqui um pequeno polo da coleção.

O Palácio dos Anjos foi um projeto que infelizmente o meu pai não viu terminado porque faleceu um ano antes de abrir.

Temos tido vários contactos para avançar com novas parcerias com Câmaras Municipais, mas estamos um bocadinho “escaldados” com esta experiência. Para já não está nada assente. Temos uma parceria com a Faculdade de Letras e gostaríamos de fazer algo com a Universidade de Lisboa, por exemplo. Uma curiosidade que muita gente desconhece é que o Pavilhão de Portugal na Expo pertence à Universidade de Lisboa.

As parcerias académicas são algo que nos interessa mais neste momento. Depois acabamos sempre por estar ligados a museus. A coleção tem atualmente cerca de 2000 obras, muito focada na pintura, escultura e desenho.

Após o falecimento do seu pai, em 2005, foram adquiridas novas obras para o espólio da coleção?

Sim, continuamos sempre a adquirir peças. Mesmo antes de inaugurar o Centro de Arte Manuel de Brito, em Algés, eu e a minha mãe, que no fundo gerimos a coleção, adquirimos cerca de 200 peças. Fizemos uma avaliação ao espólio e achámos que alguns núcleos estavam muito curtos e adquirimos algumas obras para reforçar determinadas áreas.

Para além disso, comprámos, já após a morte do meu pai, uma obra de Júlio Pomar, se calhar a mais importante do neorrealismo português “O Almoço do Trolha”, que o artista começou a pintar em 1946, com 20 anos, foi preso pela polícia política e só foi concluída em 1950. Esta era uma obra que a meu pai queria muito, pela proximidade que tinha ao artista e também por ser talvez a sua obra mais emblemática. O quadro estava numa coleção particular e o seu detentor nunca o quis vender. Após a sua morte os herdeiros levaram a obra a leilão e eu adquiri-a e hoje faz para da coleção Manuel de Brito. Foi uma homenagem ao meu pai.

Considera que o modelo das feiras de Arte está esgotado? Como estes certames se podem reinventar?

Se por um lado as feiras são um modelo muito útil e prático, para dar conhecimento das obras e para “abrir portas” a uma série de contactos, por outro tornam-se muito dispendiosas. 

Ao mesmo tempo realizam-se feiras por todo o mundo. Eu frequento muitas, mais como colecionador do que como galerista, e sinto realmente que o modelo está a esgotar-se. As feiras muito grandes como a Art Basel podem ter alguma importância, mas na minha opinião as feiras “satélite”, mais pequenas, mais direcionadas e mais acolhedoras estão a ganhar espaço e adeptos.

Nos últimos anos assistimos a uma mudança de paradigma, com o mundo da arte a tornar-se cada vez mais digital. Este factor tem afetado negativamente a atividade das galerias de arte no geral, em termos de vendas e de visitas?

Com os tempos de pandemia muitas galerias viraram-se para o digital e tornaram as suas feiras digitais, mas não é a mesma coisa. É preciso conhecer bem os artistas e as suas obras e, principalmente, ter confiança nas galerias. Sendo nós uma casa com 58 anos, com prestígio no mercado, os nossos clientes adquirem-nos as obras sem as ver, sabem que não especulamos preços, ou seja, confiam em nós. Em toda a história da galeria nunca vendemos um falso.

As pessoas depois do confinamento estavam com “sede” de ver exposições. Nestes dois últimos anos tivemos os melhores anos em termos de visitas. A nossa última exposição acolheu em mês e meio cerca de 1000 visitantes, o que é muito bom para uma galeria.

Sempre tivemos muito público, pelo interesse histórico de mais de 50 anos de atividade, mas também atraídos pelo Instagram, uma plataforma que nos traz muito público, que procura artistas mais baratos, mais caros, mais emergentes ou mais consagrados.

Durante a pandemia não tivemos uma crise económica. Crise está a acontecer agora. Na altura da pandemia os mercados abanaram um bocado e as pessoas não sabiam muito bem onde colocar os seus ativos e muita gente procurou obras de artistas consagrados como maneira de alocar o seu dinheiro de forma segura. São o caso de artistas como a Vieira da Silva, a Paula Rego, o Júlio Pomar e outros autores de valores elevados.

Por outro lado, existe o factor estético, as pessoas começaram a valorizar mais as suas casas, porque estavam fechadas entre quatro paredes. 

As rentabilidades são elevadas?

Depende do artista e de muitos outros fatores. Por exemplo, o meu pai comprou na década de 80 uma obra da Paula Rego por 300 euros que hoje vale 500 mil euros. A Paula Rego tem obras transaccionadas na ordem dos 3 milhões de euros e, apesar de já estar num patamar muito elevado, o facto do reconhecimento internacional da artista ainda lhe dá alguma margem de subida.

É preciso saber comprar, neste momento podem existir artistas mais jovens com um potencial imenso de crescimento. Mas é preciso cuidado e ser bem aconselhado, pois existem alguns artistas, que por estarem associados a determinados curadores ou por entrarem em exposições onde não têm mérito para estar, mas onde o ‘lobby’ da arte os posicionou, não têm consistência e acabam por cair. 

O maior investimento é adquirir uma obra que gostamos e associar isso a um preço justo.

A Galeria 111 esteve presente na ARCO Lisboa, entre 19 e 22 de Maio. Pode destacar-nos algumas das peças que lá estiveram representadas?

A feira decorreu na Cordoaria, um espaço que acaba por ser limitado, daí termos optado por apresentar três artistas. Fazia sentido a Paula Rego, por estar representada na Bienal de Veneza, por ter tido uma grande retrospectiva o ano passado na Tate Britain e por ser uma artista muito acarinhada pelo público português, achámos que deveria estar presente numa primeira participação da Galeria 111 na ARCO Lisboa. Os outros artistas foram o Pedro A.H. Paixão, artista que inaugurou este novo espaço da galeria e que tem tido uma forte procura, e o Rui Ferreira, de uma geração próxima da minha, que também desenvolve um trabalho muito interessante. 

Vão participar em mais feiras este ano?

Eventualmente vamos participar numa feira só com desenhos na Sociedade Nacional de Belas Artes, o Drawing Room Lisboa.

Este é um ano de afinações, até por todo o contexto internacional que tão bem conhecemos. Para o ano estamos a prever fazer mais feiras internacionais, vamos ver como a situação da guerra evolui.   

Que exposições vão estar patentes na Galeria 111 durante os próximos meses?

A exposição que agora terminou deu-me muito gozo fazer, até porque tocou em temas muito sensíveis da atualidade, como o colonialismo, a guerra e as ditaduras. Uma exposição planeada há uma série de tempo e que de repente parece que foi feita de propósito para a Guerra da Ucrânia. Denominada “Besta”, esta exposição coletiva integrou trabalhos de Alexandre Conefrey,  Pedro A.H. Paixão,  Rui Chafes e Rui Moreira. 

Agora está a decorrer a exposição “Espelho” de Adriana Molder, até 3 de Setembro.

Depois segue-se uma exposição de escultura de Miguel Ângelo Rocha, um artista que se vai estrear na Galeria 111.

Já trabalha no mundo da arte há algum tempo. Qual é a sua perceção do estado da arte em Portugal?

Neste momento estamos a ser muito impulsionados pelos estrangeiros que vieram para Portugal, sobretudo os franceses e belgas muito interessados em arte e com ótimas coleções e estão a acolher bastante bem os artistas portugueses.

Na minha opinião o mercado de arte em Portugal está saudável e bem sustentado, apesar de existirem altos e baixos.

PERGUNTAR RÁPIDAS A RUI BRITO

Qual o maior ensinamento que reteve do seu pai?

Os valores, a palavra, a maneira de estar e tratar as pessoas, a honra e o compromisso. Valores que preso muito.

Que artista gostaria que o retratasse? 

Já tive alguns artista a retratarem-me por iniciativa própria, mas não tenho essa necessidade.

Uma obra que gostaria de ter? 

Paula Rego, War, 2003

A exposição que lhe falta ver?

A Retrospectiva de Paula Rego, em Málaga 

Que desejos para a Galeria 111?

Gostava que o projecto se tornasse mais internacional, crescendo com as parcerias estrangeiras, e apresentar cada vez mais boas e inesquecíveis experiências sensoriais a quem nos visita.

Que conselhos a um jovem artista que está a dar os primeiros passos neste mundo? 

Manter a humildade, os pés bem assentes na terra, ver muita coisa, visitar muitas exposições, museus e galerias e nunca se deixar deslumbrar por algum momento mais bem-sucedido. 

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