Sábado, Abril 27, 2024

O reconhecimento do Renascimento Português

Nélson Soares

De 10 de Junho a 10 de Setembro, o Louvre acolhe 15 dos mais relevantes trabalhos da Renascença portuguesa, cedidos pelo Museu Nacional de Arte Antiga. “L’Age d’Or de la Renaissance Portugaise” é o título da exposição que presta homenagem a uma pintura que “merece ser conhecida” e que vai beneficiar da projecção de um dos museus mais visitados do mundo. A mostra está inserida na Temporada Cruzada Portugal-França.

Não obstante as ligações históricas e culturais entre os dois países, a pintura portuguesa raramente está presente ou até identificada em museus franceses. Quem assinala a omissão é o próprio Museu do Louvre, na introdução de “L’Age d’Or de la Renaissance Portugaise”, assumindo que a arte nacional “merece ser melhor conhecida” pelo público francês, em particular esta exposição que apresenta, no Dia de Portugal, algumas das mais emblemáticas pinturas da renascença nacional, na Ala Richelieu do emblemático museu parisiense.

Jorge Afonso, “Adoração dos Pastores”, Lisboa MNAA © DGPC / ADF, Luísa Oliveira

A iniciativa está incluída na programação da Temporada Cruzada Portugal-França 2022, evento de diplomacia cultural, e apresenta uma sequência de 15 trabalhos de autores como Nuno Gonçalves (1450-1492), Jorge Afonso (1504-1540), Cristóvão de Figueiredo (1515-1554) ou Gregório Lopes (1513-1550), cedidos pelo Museu Nacional de Arte Antiga, no âmbito deste protocolo. Mas não se trata de uma formalidade para o Louvre, antes de uma homenagem a uma pintura “refinada e maravilhosamente executada”, bem como a uma escola portuguesa que “opera uma síntese muito original entre as invenções pictóricas da Renascença italiana e as inovações flamengas”, inspirada em pintores como Jan Van Eyck, que se fixou no nosso país entre 1428 e 1429.

De resto, o museu francês recorda a afirmação desta variante renascentista portuguesa, a partir de meados do século XV, potenciada com o investimento que D. Manuel I (1495-1521) e D. João III (1521-1557) realizaram nos seus reinados, rodeando-se de pintores da corte e fazendo inúmeras encomendas de retábulos. Até à crise de sucessão de 1580, assinala o Louvre, o renascimento português encontrava-se em franca expansão e com uma qualidade comparável às melhores escolas europeias do seu tempo.

Mestre Português Desconhecido, “O Inferno”, Lisboa MNAA © DGPC/ADF, Luísa Oliveira / José Paulo Ruas

Lisboa metrópole do séc. XVI

A curadoria da exposição “L’Age d’Or de la Renaissance Portugaise” invoca, neste contexto, o momento “particularmente inovador na história da pintura europeia”, quando alguns pintores de origem flamenga, como Francisco Henriques ou o Mestre da Lourinhã, importaram para Portugal “o domínio de uma técnica muito refinada de pintura a óleo”, com enlevo particular por paisagens e pelos efeitos decorativos de tecidos e materiais preciosos. Esta tendência foi evoluindo com Jorge Afonso – designado por D. Manuel I como pintor régio, em 1508 – e com um conjunto de artistas que se formou à sua volta, assimilando as técnicas e dando resposta às solicitações da corte.

Frei Carlos, “O Bom Pastor”, Lisboa, MNAA © DGPC / ADF, José Paulo Ruas

Jorge Afonso, Nuno Gonçalves – apresentado pelo Louvre como “o primeiro grande pintor português – e os restantes autores reunidos nesta súmula renascentista beneficiaram, ao longo do século XVI, do ambiente multicultural que se vivia em Lisboa. A “capital do vasto império português”, refere a apresentação da exposição, florescia com as “riquezas e descobertas do Novo Mundo” e contemplava os apoios de uma corte com vocação para o mecenato.

Com curadoria de Charlotte Chastel-Rousseau, conservadora do Departamento de Pintura do Museu do Louvre; e Joaquim Oliveira Caetano, diretor do Museu Nacional de Arte Antiga, “L’Age d’Or de la Renaissance Portugaise” é a reconciliação de Paris e da Europa artística com um período virtuoso da pintura portuguesa. Como recorda a organização, as últimas exposições sobre o Renascimento português na capital francesa datam de 1987 (“Soleil et ombres : l’art portugais du XIXe siècle”, no museu do Petit Palais) e 2001 (“Rouge et or. Trésors du Portugal baroque”, no museu Jacquemart-André). Estava na hora de retomar a história.

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