Sexta-feira, Abril 19, 2024

António Avelar de Pinho: Um percurso “Bem Bom” a marcar gerações

Ricardo David Lopes

António Avelar de Pinho marcou e encantou gerações com a sua música, letras, livros e produções musicais, mas nem por isso assumiu um estatuto de estrela ou vedeta. Poucos sabem, mas há o seu “dedo” em obras das Doce, Rui Veloso, Lara Li, Gabriela Schaaf, José Cid, Heróis do Mar, Dina, Rão Kyao, Táxi, Rita Guerra ou Tonicha, entre outros, em rábulas de Herman José, no famoso Fungagá da Bicharada, de José Barata Moura, ou no Avô Cantigas.
Nasceu no Entroncamento, a 27 de Maio de 1947, onde fez o ensino primário, até ter sido enviado para o Colégio Militar, em Lisboa, de que não gostou. Também passou pelo Instituto Superior Técnico, onde não terminou engenharia, mas nem por isso deixou de ‘projectar’ e construir obras com bases sólidas no imaginário coletivo português.
O seu percurso artístico começa oficialmente em 1968, quando, com João Carvalho, José Parracho, Luís Linhares, Júlio Patrocínio e Antunes da Silva, funda a banda Filarmónica Fraude, que lançou um único LP, Epopeia, no ano seguinte, e fica para a história como o primeiro disco de ‘rock’ luso com letras que Avelar de Pinho escreveu – anos antes do “Chico Fininho”, de Rui Veloso, cujo primeiro álbum produziu – “Ar de Rock”.
Com Nuno Rodrigues, funda, em 1973, a Banda do Casaco, de que também foi vocalista ocasional, a par de compositor e produtor, e onde permanece até ao início dos anos 80, quando, já a trabalhar na Valentim de Carvalho, de novo em equipa com Nuno Rodrigues, no Departamento Nacional de Artistas e Repertório, escreve ou produz para António Mourão, Concha, Gabriela Schaaf, José Campos e Sousa, Lara Li, entre outros.
Produziu ainda “Amor Perfeito”, de Luz Sá da Bandeira.
Antes disso, ainda na Banda do Casaco, em 1977, e sempre com o ‘parceiro perfeito’, Nuno Rodrigues, escreve e coproduz o disco do programa infantil “Fungagá da Bicharada”, emitido pela RTP, cujos apresentadores eram Júlio Isidro e José Barata-Moura.

O homem dos festivais
Mas António Manuel Flor Avelar de Pinho fica também para a história da música portuguesa pela sua intervenção em obras do Festival da Canção. Com Nuno Rodrigues, escreveu canções como “Eu só quero” (Gabriela Schaaf, segunda classificada em 1979), e “Alibabá, Um homem das Arábias” (Doce, quarto lugar em 1981). Em 1982, a canção Bem Bom, das Doce, de que foi um dos autores, vence o Festival em ‘casa’ e fica em 13.º na Eurovisão.
Dura pouco na Valentim de Carvalho: ao fim de um ano, sai e lança-se, como ‘free lancer’, na produção de “Ar de Rock”, de Rui Veloso e Carlos Tê, incluindo o famoso “Chico Fininho”. Mas é nessa altura que é convidado, com Nuno Rodrigues, para lanchar em casa de Amália, que os convida para lhe escreverem música – havia ficado bem impressionada com a Banda do Casaco -, o que acabou por não acontecer, por razões de saúde da fadista.
Acaba por aceitar um convite para trabalhar na Polygram (hoje, Universal), onde fica 10 anos e marca, como produtor e autor, as carreiras de artistas como Carlos Alberto Vidal (com quem Pinho viria a criar o Avô Cantigas, em 1982, para o “Passeio dos Alegres”, da RTP, apresentado por Júlio Isidro), Doce, Da Vinci, Dina, Dino Meira, Herman José, José Cid, Rão Kyao, Rita Guerra, Tonicha, entre outros
Foi também empresário Carlos Paredes e produziu para Rão Kyao, durante anos, e ainda na década de 80 escreve para programas de TV, incluindo o famoso e hilariante “O Tal Canal”, de Herman José.
Acaba por fundar, em 1990, a Companhia das Ideias, que lança programas de televisão como o Top Mais (que revelou Catarina Furtado), a série policial “Claxon” e o programa infanto-juvenil “Vitaminas”.

Mais tarde, com o músico Pedro de Freitas Branco, foi o autor da série juvenil “Os Super 4”, com perto de duas dezenas de livros publicados, o mais recente, escrito apenas por Pinho.
Em 2020, lança “Formiga Duma Figa” – que era para se ter chamado AQUI ENTRE NÓS: “NetosFilhosPaisAvós” -, um livro de 51 textos que são letras de canções para crianças, com ilustrações de João Vaz de Carvalho. Ao Público diz, então, ter pensado neste livro para “quatro gerações” e assume ter feito, por isso mesmo, um esforço para usar o novo Acordo Ortográfico.
Foi, explicou, de alguma forma uma cedência, para não excluir ninguém: “Se não o fizesse, os mais novos poderiam tropeçar nalgumas palavras e até cair. Não ficaria de bem comigo se alguém caísse por minha causa.”
Que se saiba, ninguém caiu!

António Avelar de Pinho com “Avô Cantigas”, Elton John e Rão Kyao

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