Catarina da Ponte
Nasceu em 1963, em Lourenço Marques (actual Maputo), capital de Moçambique. Reconhecida como uma das principais autoras da literatura lusófona na actualidade, foi nomeada para o Prémio Femina Estrangeiro 2021 – um dos mais importantes galardões literários franceses – com o livro “Caderno das Memórias Coloniais”, lançado em 2009, pela editora Angelus Novus e reeditado, em 2015, pela Editorial Caminho, com o texto original revisto e aumentado pela escritora, e prefácios de Paulina Chiziane e José Gil. Para este filósofo português “nenhum livro restitui, melhor do que este, a verdade nua e brutal do colonialismo português em Moçambique”. Podemos lê-la no seu blogue Novo Mundo Perfeito (antes Mundo Perfeito), que esteve na génese do livro, pois foi neste espaço digital que começou a escrever os seus primeiros textos sobre a infância em Moçambique, sobre o racismo dos colonos portugueses e sobre o pai. Actualmente, realiza ‘workshops’ de escrita criativa e participa em seminários e conferências sobre as suas principais áreas de interesse: estratégias de poder, de exclusão/inclusão, colonialismo dos territórios, géneros, corpo, culturas e espécies. Colabora pontualmente com a imprensa, nomeadamente com o jornal Público e encontra-se a preparar o seu quarto livro sobre animais e trabalho.
A sua história de vida é indissociável da sua obra literária. Em “Caderno das Memórias Coloniais”, Figueiredo fala, não só, do passado colonial de Portugal, mas também, da sua visão sobre o pai, um electricista português radicado em Moçambique, que desprezava e explorava os nativos. Quando publicou este livro, a escritora disse ao seu editor da altura, Osvaldo Silvestre (da Angelus Novus), que estava consciente que ia abrir uma caixa de pandora ao contar uma nova narrativa dos retornados: “Eu tenho medo de ir aos lançamentos. Tenho medo de ser atacada, de que me façam mal…”, confessa numa entrevista que deu ao Jornal Expresso, em 2017.
Um ano após a sua publicação, a obra foi eleita como uma das obras mais relevantes da década pela escritora Maria da Conceição Caleiro e pelo ensaísta Gustavo Rubim no especial publicado pela revista de cultura Ípsilon (suplemento de artes do jornal Público).
Isabela Figueiredo veio para Portugal sozinha, com quase 13 anos, logo após a independência de Moçambique, em 1975, para viver em casa da avó. Foi testemunha do 25 de Abril e da descolonização. Esteve afastada dos seus pais 10 anos. Fez o possível para que não percebessem que era retornada, agarrou-se aos livros e aos estudos. Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Portugueses, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e especializou-se em Estudos sobre as Mulheres, na Universidade Aberta. Nomeia sempre como seu grande mestre o professor Abel Barros Baptista, que lhe “abriu a mente”. Publicou os seus primeiros textos, em 1983, com 20 anos, no DN Jovem, o extinto suplemento do Diário de Notícias. Foi jornalista do Diário de Notícias, entre 1989 e 1994, e professora de português no ensino secundário, entre 1985 e 2014.
Em 1988 lança o livro “Conto É Como Quem Diz” novela que recebeu o primeiro prémio da Mostra Portuguesa de Artes e Ideias e em 2016, publica “A Gorda”, livro vencedor do Prémio Literário Urbano Tavares Rodrigues, baseado na sua história pessoal para abordar temas como identidade, género, sexo, padrões estéticos e relações sociais. Em 2018, fez parte da delegação de autores de língua portuguesa na Feira do Livro de Leipzig. Mais tarde nesse ano esteve em Berlim um mês com a Bolsa de Residência Literária do Camões Berlim.