Quinta-feira, Março 30, 2023

“Os mercados de capitais podem contribuir para colocar os temas de sustentabilidade na agenda dos investidores”

Isabel Ucha | CEO da Euronext Lisbon e Membro do Managing Board da Euronext NV

O desafio dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e do Acordo Paris constituem um enorme desafio, uma longa maratona, para a qual todas as organizações têm que se empenhar. Os mercados de capitais têm um papel crítico, e as Bolsas em particular, porque podem contribuir para colocar os temas de sustentabilidade na agenda das empresas e dos investidores, e apoiar a alocação de capital que vai financiar esta enorme transformação.

O plano estratégico da Euronext, designado “Growth for Impact 2024”, tem um forte enfoque no ESG, materializando a nossa visão “Build Capital Markets for Future Generations”. Este plano foi desenhado a partir de uma análise de materialidade junto dos principais ‘stakeholders’. Dessa análise resultaram 11 temas de intervenção, que foram organizados em 5 áreas de impacto – “Our Markets, Our Environment, Our People, Our Partners, Our Society”.

A Euronext integra de uma forma transversal os temas da sustentabilidade no seu processo de tomada de decisão. Desde logo, porque ela está inserida na sua estratégia, que é definida e debatida nos órgãos de gestão da organização. “Empower Sustainable Finance” é um dos 4 pilares do Plano Estratégico. Mas também porque está integrada nos objetivos, coletivos e individuais, de todos os colaboradores da empresa, sem exceção (e consequentemente nos processos de avaliação de desempenho). Os riscos relacionados com a sustentabilidade fazem parte da matriz de riscos da empresa, e que são monitorizados em permanência.

A sustentabilidade começa “dentro de casa”, e no que respeita aos objetivos climáticos, a Euronext assumiu em 2021 o compromisso de ajustar a sua atividade para cumprir a meta de Paris de 1.5º. E decidiu fazê-lo de acordo com as regras do Science Based Target Initiative (SBTI). Este compromisso resultou na revisão de alguns processos internos, designadamente na concentração em ‘data centers’ que são carbono zero, ou numa política de viagens e frota com forte redução do impacto nas emissões de carbono.

No âmbito dos mercados que a Euronext gere e dos produtos e serviços que oferece, tem-se vindo a desenvolver uma oferta crescente, que procura captar, mas também atrair, empresas e investidores para um investimento sustentável. A Euronext produz, por exemplo, um leque muito alargado de índices com critérios ESG, que facilitam aos investidores a escolha de empresas com maior aposta nestas temáticas. Muitos destes índices constituem subjacentes de fundos e ETFs ESG, diversificando também a oferta deste tipo de produto de investimento cotados, e facilmente negociáveis em Bolsa. A Euronext tem um segmento dedicado às emissões de obrigações ESG, sejam obrigações verdes e outras, líder de mercado na Europa, que oferece às empresas uma visibilidade aumentada para o financiamento dos seus investimentos em sustentabilidade.

A Euronext apoia as empresas emitentes nos seus desafios da sustentabilidade. Desde logo, disponibiliza um Guia para o Reporte da Sustentabilidade, que foi recentemente ampliado para incluir objetivos e métricas climáticas compatíveis com o Acordo de Paris. A transparência das empresas nestas temáticas é importante, mas ainda há um desafio a ultrapassar relacionado com a estandardização das métricas e dos modelos de avaliação de desempenho ESG.

O ESG Bond Barometer, publicado semestralmente, procura partilhar boas práticas e desenvolvimentos regulatórios que podem ser úteis para acelerar esta temática. O serviço ESG Advisory, por exemplo, ajuda as empresas a perceberem melhor as necessidades e preferências dos investidores, e dos ‘stakeholders’ em geral, e a criar um ‘roadmap’ assente em bases de dados e analítica muito desenvolvida.

Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU têm um enorme mérito, de proporcionar uma “linguagem comum”, que procura colocar o mundo na rota certa. Mas o sucesso desta rota exige uma combinação de esforços, de entidades públicas e privadas, cada uma na sua função, para que todos tenham o incentivo certo para seguir o bom caminho.

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