Sexta-feira, Abril 26, 2024

Estão os gestores portugueses preparados para o futuro que já começou?

A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL TERÁ UM IMPACTO POSITIVO AO NÍVEL DAS RECEITAS E CRIARÁ MAIS EMPREGOS DO QUE AQUELES QUE DESAPARECERÃO; A DISRUPÇÃO TECNOLÓGICA É UMA OPORTUNIDADE E NÃO UMA AMEAÇA; SER VÍTIMA DE UM CIBERATAQUE É UMA CERTEZA ACTUALMENTE, SENDO APENAS UMA QUESTÃO DE “QUANDO”.

Francisco Salgueiro

Os CEOs portugueses estão, na sua maioria, optimistas em relação às mudanças relacionadas com a transformação digital. No cenário nacional, esta é encarada de forma positiva e muitos gestores estão mesmo determinados em aproveitar as suas vantagens competitivas. Só mesmo a questão da segurança cibernética é mais preocupante: poucos CEOs portugueses estão preparados para enfrentar um ciberataque.

Estas conclusões constam do estudo Global CEO Outlook da KPMG publicado, em 2018 e em que Portugal participou pela primeira vez com uma edição própria, tendo sido inquiridos 25 CEOs das principais empresas nacionais. O estudo, a nível mundial, envolveu 1300 gestores das principais economias mundiais. A KPMG Portugal auscultou um conjunto de gestores portugueses de referência de entidades financeiras e não financeiras, cruzando as suas opiniões com as respostas dos CEOs mundiais. De entre os gestores inquiridos, destaque para António Rios Amorim, CEO da Corticeira Amorim; João Manso Neto, CEO da EDP Renováveis; Miguel Maya, CEO do Millennium BCP e Paulo Macedo, CEO da Caixa Geral de Depósitos, a que se juntou, para este artigo, a opinião e visão de Alberto Ramos, Country Manager do Bankinter Portugal e Dionísio Santos, Director Coordenador de IT do Lidl Portugal.

Na perspectiva dos CEOs portugueses, o recurso a uma das maiores revoluções tecnológicas actuais, a Inteligência Artificial, terá  implicações positivas. Os CEOs afirmam que os avanços na área da Inteligência Artificial criarão mais empregos do que aqueles que destruirão. Há mesmo 84% dos CEOs portugueses consultados no Survey da KPMG que têm esta visão optimista.

Sikander Sattar, Senior Partner, Presidente do Conselho de Administração – KPMG Portugal e Chairman, Europe, Middle East & Africa – KPMG, explica esta tendência: “numa era em que a disrupção  introduzida, por exemplo, pelos avanços na área da robotização e da análise de dados, nos aproxima de capacidades que não antecipávamos há alguns anos, acredito que serão cada vez mais as características individuais dos gestores – as suas experiências e a sua visão – a marcar a diferença.”

Mas estarão mesmo os gestores portugueses preparados para a actual revolução tecnológica? A maioria dos CEOs nacionais afirmam que as empresas que lideram estão já a adaptar-se às novas tendências tecnológicas e que os desenvolvimentos tecnológicos são inevitáveis.

Alberto Ramos, Country Manager do Bankinter Portugal afirma: “O Bankinter vê a Revolução Digital e, especificamente, a Inteligência Artificial e a Robótica como oportunidades para optimizar os processos internos da Banca e tornar mais eficiente a relação com os clientes, criando oportunidades para os servir ainda melhor. A Inteligência Artificial e a Robótica fazem parte de um conjunto de evoluções essenciais para responder às exigências do mercado, dos clientes bancários e das próprias organizações. Aportam naturalmente novos desafios e um longo caminho para percorrer. Por exemplo, a crescente capacidade de aprendizagem e adaptação dos colaboradores da Banca terá que ser uma realidade a curto prazo, bem como a atracção de novos talentos especializados”.

Alberto Ramos explica à PRÉMIO que o Bankinter está já a optimizar os seus processos internos, integrando as novas ferramentas digitais. “Com equipas ágeis, eficientes e competitivas, conseguiremos estar preparados para adoptar tecnologias como a Inteligência Artificial, a Robótica ou o Big Data. As fintech que agora operam no segmento financeiro são outro desafio para o sector bancário. Um exemplo disso é a implementação da directiva PSD2, que abriu o negócio de pagamentos a outros operadores”, explica o Country Manager do Bankinter Portugal, concluindo: “Sabemos que a revolução digital traz importantes desafios, nomeadamente em temas como a regulação, os recursos humanos e a segurança informática”.

As declarações de outros banqueiros, publicadas no estudo da KPMG, vão no mesmo sentido da opinião do Country Manager do Bankinter Portugal e reforçam, inclusive, a ideia de que a banca se tem de adaptar aos novos clientes, como por exemplo, a geração Millennial.

O CEO da Caixa Geral de Depósitos, Paulo Macedo, afirma: “a Inteligência Artificial, a par com as demais tecnologias potenciadoras do trabalho digital (mobile, cloud processing, big data analytics, internet of things, social media), já está a transformar estruturalmente a economia e o mercado de trabalho. A Caixa está a adaptar a sua estratégia para incluir os clientes millennials e garantir uma maior adequação dos seus produtos e serviços às suas expectativas”.

Já o CEO do Millennium BCP, Miguel Maya explica: “Estamos convictos de que o mercado irá exigir mais inovação para permitir experiências com um grau de personalização ainda maior e antecipação de expectativas de clientes, apenas possível com uma nova abordagem de fazer banca, recorrendo a tecnologia de última geração e incorporando ferramentas de data analytics e automação”.

Também no caso do sector da distribuição as empresas mostram-se preparadas para a actual revolução tecnológica. É o caso do Lidl Portugal. “Acreditamos que o investimento no desenvolvimento tecnológico potenciará um conjunto de melhorias não só na experiência dos nossos clientes e qualidade de trabalho dos nossos colaboradores, em linha com o que estes valorizam, mas também na satisfação das necessidades dos fornecedores”, explica à PRÉMIO Dionísio Santos, Director Coordenador de IT do Lidl Portugal.

Conquistar as novas gerações para manter os negócios em crescimento 

Cerca de 29% dos CEOs em Portugal, de acordo com o estudo da KPMG, consideram necessário reposicionar os seus negócios para responder às necessidades das novas gerações. Questionados sobre como responder às expectativas dos millennials, cerca de metade dos CEOs revela que a sua organização tem realizado esforços para compreender em que medida as necessidades desta geração diferem das gerações anteriores. 

A maioria dos CEOs indica estar preparada para liderar uma transformação organizacional radical. No entanto, entre os CEOs portugueses, um terço tem dúvidas quanto à capacidade da sua equipa de gestão coordenar a transformação digital exigida. 

Vitor Ribeirinho, Deputy Chairman da KPMG Portugal, refere: “O risco de disrupção e obsolescência é hoje incomparavelmente maior, independentemente da indústria. Por isso, os CEOs estão a repensar as suas ofertas, canais de distribuição e modelos de negócio, tentando perceber como podem tirar partido da inovação tecnológica, para transformar os seus negócios e aumentar a rentabilidade.”

A par com as alterações geracionais, o territorialismo, o terrorismo e as alterações climáticas, as questões da inovação tecnológica e da cibersegurança são grandes desafios que se colocam às empresas. Mas, de acordo com o Global CEO Outlook da KPMG, todos os CEOs portugueses inquiridos encaram a disrupção tecnológica como uma oportunidade e não como uma ameaça.

“Consideramos que esta Revolução Digital apresenta também inúmeras oportunidades, pelo que trabalhamos diariamente no sentido de termos prontas as soluções que proporcionem uma experiência de utilização diferenciadora e que vá ao encontro das novas e crescentes necessidades dos nossos clientes”, afirma Alberto Ramos, Country Manager do Bankinter Portugal.

Gestores portugueses estão optimistas quanto à Inteligência Artificial  

A Inteligência Artificial é um dos temas na ordem do dia quando se fala de inovação. Para a maioria dos CEOs portugueses, os avanços ao nível desta nova área de desenvolvimento terão implicações positivas ao nível do emprego: 84% dos líderes empresariais nacionais ouvidos no estudo da KPMG, acredita mesmo que a Inteligência Artificial criará mais empregos do que os que destruirá. 

Além de impulsionarem a transformação digital e protegerem os dados dos clientes, os CEOs estão, pois, a reconfigurar a sua força de trabalho para um futuro em que as máquinas inteligentes trabalham em conjunto com pessoas talentosas.

“Pode haver, numa primeira fase, alguma deterioração da qualidade do emprego, mas será temporário. As necessidades vão-se criando”, explica João Manso Neto, CEO da EDP Renováveis, que completa a ideia com uma visão histórica: “a Revolução Industrial começou a substituir homens por máquinas, mas depois a economia foi desenvolvendo outro tipo de competências”.

Tal como refere a KPMG no CEO Outlook 2018, à medida que a automação e a Inteligência Artificial reconfiguram a força de trabalho, “os CEOs estão a preparar as suas pessoas para a era das máquinas inteligentes”. 

António Rios Amorim, CEO da Corticeira Amorim, explica que a automação e a Inteligência Artificial “são realidades que nos entram pela porta dentro e que têm tido um impacto significativo na nossa organização”. E prossegue: “a Corticeira Amorim está a percorrer um caminho em que os níveis de robotização, de recolha de informação no chão de fábrica, de análise de informação preditiva, são cada vez mais elevados. As maiores dificuldades e riscos com que nos deparamos são a procura de competências e soluções para uma indústria com muitas especificidades, nomeadamente ao nível da matéria prima”.

António Rios Amorim explica como a sua equipa evoluiu para dar resposta a estes desafios: “A integração dos novos colaboradores na equipa de gestão, em complemento com formação aos que já estavam na organização, teve em atenção as valências da transformação digital”.

No sector financeiro, a Caixa Geral de Depósitos afirma que mais de 80% dos seus colaboradores são ‘early adopters’ de novas tecnologias ou adoptam novas tecnologias quando demonstrada a sua utilidade. Já no Millennium BCP “a recente composição da Comissão Executiva, que iniciou um novo ciclo do banco, integrou um novo membro que veio reforçar significativamente as competências na área de inovação e tecnologia”, revela Miguel Maya, CEO do Banco.

O Lidl Portugal está já a preparar a nova era da automação com a construção de um entreposto moderno, inovador, com tecnologia de ponta, num modelo de indústria 4.0, “em que exploramos a automação para um edifício inteligente”, explica Dionísio Santos. 

O novo entreposto do Lidl, em Santo Tirso, é semi-robotizado,  já que parte do armazenamento é feito de modo automático/automatizado, mediante a instalação de uma tecnologia de topo encarregue deste processo. O sistema robotizado servirá para ter uma maior capacidade de armazenamento e organização, sem com isso afectar que o trabalho e funcionamento do edifício continue a ser efectuado de forma convencional. 

O Director Coordenador de IT do Lidl Portugal explica que “no Lidl, entendemos que a tecnologia e a dimensão humana andam lado a lado e não se substituem. O aproveitamento dos recursos humanos é garantido a 100% nesta mudança de entreposto”.

CEOs estão pouco preparados para um ciberataque 

A opinião dos CEOs portugueses reflecte optimismo e preparação para as novas inovações digitais,mas já a perspectiva em relação à cibersegurança é bem diferente. De acordo com o estudo da KPMG, metade dos CEOs a nível global acredita que ser vítima de um ciberataque é hoje uma inevitabilidade, uma questão de “quando”, em vez de “se”.  Já os CEOs portugueses mostram-se mais optimistas, com apenas 28% a concordar com essa ideia de inevitabilidade.

Nasser Sattar, Head of Advisory da KPMG Portugal, confirma que a cibersegurança ganhou importância nas agendas dos líderes: “Independentemente do sector, assistimos a um crescente despertar para a importância do valor dos dados e as organizações estão a fazer da cibersegurança uma prioridade, investindo nos seus sistemas e aumentando a sua resiliência.”

Os gestores preocupam-se, pois, com a robustez das suas defesas, mas em Portugal apenas 32% dos CEOs se consideram preparados para um ataque cibernético.

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