Inês Sequeira Mendes, Managing Partner da Abreu Advogados
Entre 2016 e 2020, de acordo com a “Global Sustainable Investment Alliance”, o volume total de investimento das empresas na integração de critérios ESG (ambientais, sociais e de governação) nas respetivas análises financeiras aumentou 143% a nível mundial. Recentemente, a Comissão Europeia realizou a primeira emissão de ‘green bonds’, tendo angariado 12 mil milhões de euros que serão utilizados exclusivamente para investimentos verdes e sustentáveis em toda a UE. Estes dados são impressionantes e ilustram a importância que o ESG adquiriu ao longo da última década e que, previsivelmente, continuará a crescer nos próximos anos. Já não estamos perante uma tendência de futuro, mas na presença de uma realidade que é cada vez mais inevitável. Um dos principais desafios atuais reside na adoção destes critérios pelas empresas sem que que vulnerem a criatividade e a competitividade e possam mesmo potenciá-las.
A prioridade conferida à transição climática pelo Mecanismo Europeu de Recuperação e Resiliência, e incluída no PRR nacional, assim como o Relatório do painel intergovernamental das Nações Unidas sobre alterações climáticas são sinais claros do caminho que terá de ser seguido pelo tecido produtivo, assente na promoção de modelos empresariais, de operações e de cadeias de abastecimento mais sustentáveis e de uma outra interação com as partes interessadas na sua atividade (trabalhadores, consumidores e sociedade civil) que não se limite ao universo dos detentores de participações sociais. Este é o momento para as organizações que ainda o não fizeram compreenderem que a mudança está em curso e dificilmente conhecerá inversões de rumo.
Novas estratégias de desenvolvimento, como a que é corporizada a nível europeu pelo “Green Deal”, implicam novos desafios e as organizações terão de ser capazes de se adaptar e de encetar as transformações estruturais necessárias para que possam enfrentá-los com sucesso. Qualquer empresa que pretenda continuar a ser inovadora e concorrencial num mercado cada vez mais global terá de fazer esta reflexão e passar dela aos atos com brevidade.
Apesar da preocupação crescente das gerações mais novas com as alterações climáticas, existe risco de se ficar a meio da ponte neste processo de transformação assente na descarbonização das economias; oscilando entre exigências irrealistas do poder político e a tentação do “branqueamento ecológico” por parte das empresas, por um lado, e acentuando clivagens geracionais e geográficas, por outro. A ser assim, ninguém sairá vencedor deste esforço coletivo e as maiores perdas tenderão a recair sobre os que sejam social, etária e climaticamente mais vulneráveis.
A resposta à pergunta “para onde vamos?” em matéria de ESG pode parecer um exercício complexo de futurologia, mas depende sobretudo das circunstâncias e capacidade de adaptação de cada economia: as fragilidades e a rigidez da portuguesa são conhecidas. Apesar da abertura e do interesse crescentes do tecido empresarial nacional por esta temática e pela adoção dos seus critérios nas respetivas estratégias de curto e médio prazo – para cujo sucesso concorre a transformação digital também paralelamente em curso e que acelerou devido à pandemia – será necessário um esforço de adaptação sério e que não será indolor.
Com a responsabilidade de ser a primeira sociedade de advogados em Portugal a publicar um Relatório de Sustentabilidade de acordo com as diretivas da “Global Reporting Initiative”, a divulgar as suas contas e a medir a sua pegada de carbono, a Abreu Advogados está empenhada num conjunto de iniciativas nacionais e internacionais voluntárias destinadas a criar um universo empresarial mais equilibrado, incluindo a “Global Compact” da Organização das Nações Unidas, o Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (BCSD), dispondo da certificação internacional “B Corporation”. Procuramos contribuir pelo exemplo para que o inadiável ESG, mais do que uma inevitabilidade, se constitua em verdadeira oportunidade para todos aqueles com quem trabalhamos.
(Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)