Sábado, Abril 20, 2024

Desafios de Política Externa

Paulo Neves, Presidente do IPDAL*

Portugal tem de ter uma maior ambição na sua política externa. Somos um país com uma História universal, com uma diplomacia e uma posição geoestratégica que nos permite influenciar as grandes questões mundiais. Desde logo porque fazemos parte de blocos políticos e económicos de enorme importância na política internacional. Mas também pelo acumular de anos de uma Diplomacia séria e constante além de termos laços de genuína amizade com quase todos os países do Mundo. Com muitos deles temos mesmo um orgulhoso passado comum. No entanto, a voz de Portugal tem de ser ampliada e mais audível no Mundo. Para isso temos que investir mais, por exemplo, na nossa rede de Embaixadas. A nossa rede é deficitária o que torna Portugal pouco presente em algumas regiões do globo e ausente em alguns países onde há muito já deveríamos ter embaixadas. Desde logo em África. Mas também na Ásia e na América Latina.

Portugal está bem presente na África Lusófona, mas pouco presente na restante África em especial na subsariana. Em África deveríamos rapidamente abrir embaixadas na Costa do Marfim, no Gana e na Tanzânia. Reforçar a nossa presença diplomática junto da União Africana em Adis Abeba. Sermos Membro Observador da CEDEAO (organização multilateral regional da África Ocidental).

Na Ásia é urgente reforçar as nossas embaixadas com mais diplomatas e abrir rapidamente embaixadas no Vietname e nas Filipinas e estudar a abertura na Malásia, Sri Lanka e Bangladesh. Mas abrir Embaixadas disponibilizando bons meios humanos e financeiros associados a uma boa estratégia individualizada para cada Embaixada.

Na América Latina abrir embaixadas no Paraguai, na República Dominicana e no Equador. São países com boas oportunidades para as empresas portuguesas. Devemos também continuar a apostar forte na CPLP mobilizando os nossos parceiros da organização – Estados Membros e países Observadores – criando assim uma maior dinâmica nesta instituição vital para a política externa portuguesa.

Também a nossa presença na SEGIB – a Secretaria Geral Ibero-americana – deve ser ainda mais reforçada.

Ainda em matéria de Organizações regionais ou sub-regionais Portugal deveria ser Membro Observador do Caricom (reúne os Países das Caraíbas), da SICA (reúne

os Países da América Central) e do Fórum do Pacífico (reúne os Estados insulares do Pacífico). Portugal deveria também reforçar as suas cotas acionistas e contribuições para a Banca multilateral como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), a CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina), o BAD (Banco Africano de Desenvolvimento) e do BAI

(Banco Asiático de Investimento). Reforçando a nossa participação acionista nestas instituições as nossas empresas passam a ter maior acesso a créditos para que possam concorrer a grandes concursos na América Latina, na África e na Ásia.

Portugal tem que apostar mais na diplomacia Política; na diplomacia

Económica; no aproveitamento da sua Diáspora; na diplomacia Cultural, do Património, da Língua e da História; na cooperação para o desenvolvimento e na diplomacia Gastronómica. Para isso deve potenciar o Instituto Camões e a AICEP.

Portugal deve apostar cada vez mais numa Diplomacia Digital. Deve também apostar numa “diplomacia aérea” através da companhia TAP que já tem uma muito boa rede na Europa, no Brasil e nos Estados Unidos, boa em África mas mána América Latina e inexistente na Ásia. Ainda nesta “diplomacia aérea” apostar num grande ‘hub’ aeroportuário em Lisboa. Para isso apostar em ter mais ligações aéreas com cidades da China. Apostar em ligações aéreas diretas com ‘hubs’ importantes como Singapura, Nova Deli e Bangkok na Ásia. Ligações diretas a Buenos Aires, cidade do Panamá, Bogotá e Cidade do México na América Latina. Ao Cairo, Adis Abeba e a Joanesburgo no continente africano. Portugal deve seguir o exemplo dos Emirados, da Turquia, da Etiópia e do Qatar que utilizaram a sua principal companhia aérea nas respetivas estratégias de Política Externa.

Portugal também tem que apostar num eficiente Serviço de Inteligência com elementos em algumas cidades decisivas, nesta matéria, como Londres, Moscovo, Teerão e Telavive. Informação é poder.

Devemos também apostar muito mais numa Política Atlântica e do Mar porque somos na verdade um País Euro-Atlântico com uma enorme área de mar atlântico que nos é dada pela Madeira e pelos Açores, duas regiões decisivas nesta Estratégia de Política Externa e de Segurança. Portugal também deve tornar-se num verdadeiro ‘hub’ atlântico triangular entre as Américas, a Europa e África.

Resumindo a nossa Política Externa deve reforçar aquilo que é há muitos séculos. Uma Política Externa Credível, Séria, Previsível, Moderada, Generosa e de Diálogo

(de Paz) e Multilateral. E ainda Universalista tal e qual a nossa História. Nunca uma diplomacia simplesmente seguidista.

Uma diplomacia sempre com opinião própria capaz de influenciar o Mundo.

(Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)

*O Instituto para a Promoção da América Latina e Caraíbas (IPDAL) foi criado em 2006 com o objectivo de fortalecer as relações empresariais e académicas entre os países latino-americanos e caribenhos e Portugal. O IPDAL é um instituto privado, que tem como ‘core business’ a diplomacia económica e o apoio às empresas portuguesas interessadas em entrar no mercado latino-americano e das Caraíbas.

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