Segunda-feira, Maio 6, 2024

Vinte anos do Século XXI | Twenty years into the 21st century

Manuel Puerta da Costa
Manuel Puerta da CostaPresidente Associação Portuguesa de Analistas Financeiros (APAF)

Na primeira década deste século, escrevi várias vezes textos, na minha qualidade de responsável de uma Equipa de Investimentos, sobre o que esperava que fosse o ano seguinte de calendário. O enfoque era sobretudo posto nos mercados financeiros, mas invariavelmente, colocava-me no papel de analista geopolítico internacional e enquadrava prospectivamente um conjunto de senso-comuns sobre o que era a “moda” ou o assunto naquele momento. Fui reler alguns desses textos e verifiquei que continham previsões muitos acertadas e muito erradas, com ideias que se concretizaram e com ideias que nem sequer saíram da minha imaginação.

Perante essa experiência anterior, a minha primeira reacção quando me convidaram para dar a minha opinião acerca de 2020, foi a de não repetir o que tinha feito no passado falando de assuntos que tendiam a perder relevo ou importância na voracidade e velocidade do mundo atual poucos meses ou semanas depois de terem aparecido. Escolhi por isso 3 dimensões geográficas para este texto de enquadramento sobre o ano 2020: um tema mundial, um tema Europeu e um tema nacional.

A nível mundial a única coisa que, na minha opinião, tem relevo, seja em 2020, seja nos anos seguintes, é o que a China irá fazer com o seu imenso poder com o maior PIB mundial com um PIB medido em paridade de poder de compra, acima de 25.2mil Biliões de USD (Fonte : FMI, Abril 2018), um valor 20% superior ao dos USA. Um poder  económico, financeiro, demográfico, militar mas também um poder tecnológico. Os alinhamentos dos diferentes blocos mundiais relativamente ao exercício deste poder irão determinar o seu destino no futuro dentro de um mundo livre ou de um mundo menos livre – as manifestações em Hong-Kong, as questões de Taiwan, ou do Tibete, as restrições tecnológicas e o jogo de póquer tarifário entre a administração americana e chinesa, são na verdade faces de um processo de ascensão e travão de uma China forte ao topo.

A nível Europeu a nova comissão da UE encabeçada por Ursula Van der Leyen e as suas prioridades serão o foco da política em 2020, (re)centrada nos temas migratórios, nos temas do recrudescimento dos nacionalismos e num fraco crescimento económico, condicionado por regras fiscais alemãs que acrescem dificuldade para os países menos aforradores e com maiores necessidades de capital externo. Enquanto o BCE mantiver os juros baixos e um QE virtual a funcionar, estas dificuldades ir-se-ão apenas revelando na incapacidade do sistema financeiro para captar capital dando espaço para o crescimento de fenómenos de Shadow Banking e de mercados privados.

A nível português, o mercado de capitais poderá ter um ano muito diferente dos anteriores, que foram autênticos desertos de inovação e de captação. Tenho a fundada expectativa de que tal não seja apenas uma manifestação de ‘wishful thinking’ da minha parte. As alterações legislativas já ocorridas em Portugal no post-Troika e outras que poderão vir a ocorrer ponderam no meu optimismo. A importância que a Europa dá à construção de uma União Bancária e a um Mercado Único de Capitais, junto com os diferentes incentivos dados à capitalização das empresas que poderiam aumentar, a introdução do novo regime das SIGIS-Sociedades de Investimento e Gestão Imobiliária, assim como o enorme crescimento de novas empresas tecnológicas que não chegando a ser Unicórnios precisam de um mercado que lhes abra portas a mais investidores, são sinónimos de condições para o desejado crescimento de um financiamento mais saudável da Economia portuguesa demasiado assente num modelo de endividamento bancário ao longo dos primeiros 20 anos do seculo XXI. 

Façamos todos um esforço para que no primeiro ano dos segundos vinte anos deste século, haja melhores notícias sobre o mercado de capitais deste Portugal que todos queremos mais próspero e mais equilibrado.

In the first decade of this century I wrote several times in my capacity as head of an Investment Team about what I expected of the next calendar year. The focus was primarily on the financial markets, but placed me invariably in the role of international geopolitical analyst and I prospectively put into context a set of common senses about what was in “fashion” or about the current subject at the time. I reread some of these texts and found that they contained very correct and very wrong predictions, with ideas that materialised and others that didn’t even leave my imagination.

In light of this previous experience, my first reaction when I was asked to state my opinion about 2020 was not to repeat what I had done in the past, talking about issues that tended to lose relevance or importance in the voracity and speed of today’s world months or weeks after they appeared. I have therefore chosen to cover 3 geographical dimensions as regards the year 2020: a world theme, a European theme and a national theme.

At world level the only thing that, in my opinion, is truly relevant, either in 2020 or in the years to come, is what China will do with its immense power with the world’s largest GDP with a GDP measured at purchasing power parity above 25.2 billion USD (Source: IMF, April 2018), up 20% compared to the US. An economic, financial, demographic, military power but also a technological power. The alignments of the different world blocs with respect to the exercise of this power will determine their future destiny within a more or less free world – the demonstrations in Hong Kong, the issues of Taiwan or Tibet, the technological constraints and the tariffs poker game between the American and Chinese administration are actually faces of a stop and go process of a strong China heading to the top.

At European level, the new EU commission headed by Ursula Van der Leyen and its priorities will be the focus of policy in 2020, (re) focusing on migration issues, the themes of nationalist upsurge and weak economic growth, conditioned by tax rules along with the difficulties experienced by the countries saving less and with the biggest external capital needs. As long as the ECB keeps interest rates low and a virtual EQ in place, these difficulties will only come up only in the inability of the financial system to raise capital, leading to Shadow Banking phenomena and private market growth.

At the Portuguese level, the capital market may have a very different year from the previous ones, which were real deserts of innovation and funding. I have a well-founded expectation that this is not just wishful thinking on my part. The legislative changes that have already taken place in Portugal in the post-Troika and others that may occur weigh up in my optimism. The importance that Europe attaches to the building of a Banking Union and a Single Capital Market, together with the different incentives given to the capitalisation of companies that could increase them, the introduction of the new SIGIS-Investment and Real Estate Management regime as well as the huge growth of new technology companies that are not even Unicorns needs a market that opens its doors to more investors, they are conditions for the desired growth of a healthier financing of the Portuguese economy, too much based on a bank debt model over the first 20 years of the 21st century. 

Let us all make an effort so that in the first year of the second twenty years of this century there will be better news about the capital markets in our country that we all want to be more prosperous and more balanced.

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