Terça-feira, Maio 7, 2024

Rumo a Tóquio 2020 | Heading to Tokyo 2020

José Manuel Constantino
José Manuel ConstantinoPresidente Comité Olímpico de Portugal

O desporto de alto rendimento (e por arrasto uma preparação olímpica) tem custos muitos elevados. Operando num contexto internacional, a competitividade atingida pelo alto rendimento é muito determinada pelas economias dos respetivos países e o que elas libertam (de forma publica e privada) para a respetiva preparação desportiva.

É verdade que não existe determinismo entre o valor da competitividade desportiva das nações e a sua riqueza ou poderio económico, mas é um fator condicionante. A consulta a qualquer relatório sobre as despesas dos Estados (públicas e/ou privadas) comprova-o. E permite verificar que há países que gastam com uma modalidade o que outros gastam com toda a preparação olímpica. 

O que Portugal gasta é, comparativamente a uns países, pouco, a outros muito.

Mesmo em Portugal, a preparação olímpica em quatro anos é cerca de metade da despesa do desporto escolar num só ano. Mas é o que as opções políticas possibilitam. Pelo que o centro da reflexão se deverá centrar mais em saber se pode ou não o desporto português progredir e alcançar um outro plano de excelência – nacional e internacional – compatível com os recursos que o país pode dispensar. Dito de outro modo: saber se as limitações existentes esgotaram o potencial de crescimento desportivo do país ou, pelo contrário, ainda é possível, com o mesmo nível de recursos, fazer melhor.

Os fatores críticos de sucesso no alto rendimento desportivo, e em particular nas políticas e estratégias de preparação olímpica, configuram o núcleo essencial no diagnóstico da competitividade desportiva do país.

Identificá-los, avaliar a sua preponderância e potencial de desenvolvimento; aprofundar a sua interdependência, ou como se configuram na especificidade de cada modalidade e se articulam a montante com outras políticas públicas e associativas, constituem critérios determinantes para gizar, com rigor e eficiência, orientações programáticas e medidas corretivas para uma terapêutica eficaz.

Os condicionalismos estruturais no desenvolvimento desportivo do país comprometem um rigoroso escrutínio social dos resultados dos programas de preparação olímpica pelos órgãos de comunicação social, mais ou menos especializados, mas também pela comunidade científica e pelas organizações desportivas.

Estamos, por isso, mediaticamente sujeitos e condicionados à ditadura das medalhas. Avalia-se a participação olímpica quase exclusivamente pelo que é mediaticamente relevante: as posições de pódio. 

E o tema, como é próprio dos assuntos de elevado grau de mediatização, suscita a escrita e o debate de imensas pessoas. Umas preparadas, outras menos preparadas e outras claramente impreparadas.

Em Portugal, todos quantos estão ligados ao desporto são sensíveis aos resultados que os atletas nacionais alcançam. E aos debates e polémicas suscitadas a esse propósito. É natural que sobre o ocorrido surjam várias leituras. 

Sabemos que uma medalha se transforma rapidamente na medalha de um país, onde todos reclamam o seu quinhão, na mesma medida em que a debandada no desaire procura inapelavelmente os mesmos bodes expiatórios. São as regras deste jogo e nós conhecemo-las. Não ousamos, sequer, suster este atavismo que a cada quatro anos nos assalta, pois respondemos pelos objetivos desportivos que, firmados com o Governo de Portugal, nos comprometem claramente com todos os portugueses desde o início deste trajeto.

Ao longo deste ciclo olímpico trabalhámos para dar as melhores condições de preparação àqueles que, no próximo ano, nos Jogos Olímpicos de Tóquio, terão a missão de acrescentar mais um capítulo na história desportiva de Portugal.

O alcance dos nossos objetivos é conhecido, ganhou letra de lei e norteia o esforço anónimo dos nossos atletas, treinadores e federações desportivas na procura da superação, um trabalho que muitas vezes se mantém oculto no espaço público, mas não demove quem conhece o significado e a força do calendário olímpico.

Os compromissos delineado de atribuições e competências entre Estado, Comité e Federações, através de um modelo colaborativo, permitiu estabilizar a preparação olímpica e capacitar o processo de desenvolvimento de atletas e técnicos, criando valor desportivo, ganhando escala e colmatando lacunas importantes.

Cumpridos estes objetivos, a nossa expectativa é moderadamente otimista. Esperamos naturalmente que os resultados desportivos a alcançar nos Jogos Olímpicos de Tóquio, a realizar no próximo ano, mobilizem os portugueses e suscitem orgulho na nossa Missão Olímpica.

O Comité Olímpico de Portugal tudo fará para continuar a valorizar o desporto, nos seus projetos, iniciativas e posicionamento institucional, mobilizando em torno desta causa instituições e personalidades, dentro e fora do universo desportivo, genuinamente imbuídas do mesmo propósito. Inspirando-nos nas memórias dos nossos heróis olímpicos que nos devem orgulhar, e sonhando para um futuro desportivo ainda melhor.

High performance sport (and so therefore Olympic preparation) has very high costs. We operate in an international context and the competitiveness attained by high performance is largely determined by the economies of the relevant countries and how and what they allocate (public and privately) for sports preparation.

There is in fact no determinism between the value of nations’ sporting competitiveness and their wealth or economic power, but it’s a compelling factor. This can be clearly seen on the reports on States’ expenditure (public and/ or private). And we can see that there are countries that spend on one sport what others spend on the whole Olympic preparation. 

What Portugal spends is, compared to some countries very little, and compared to others a lot.

Even in Portugal, four-year Olympic preparation is about half of school sports spending in a single year. Political options play a major role when it comes to allocate financial resources. The focus of the debate should therefore be to know whether or not Portuguese sport can make progress and achieve a further level of excellence – national and international – in line with the resources the country is ready to make available. In other words: one has to know whether the existing limitations have exhausted the country’s potential for sports to grow or, on the contrary, whether it’s still possible to do better with the same level of resources.

The critical success factors as regards high sports performance, and in particular Olympic preparation policies and strategies, form the essential core when diagnosing the country’s sports competitiveness.

Identify them, assess their preponderance and development potential; to deepen their interdependence, or see how they are configured in the specific nature of each sport and articulate upstream with other public and associative policies are crucial criteria to define, with rigor and efficiency, both programmatic guidelines and corrective measures for an effective therapy.

Structural constraints in the country’s sports development undermine the thorough social scrutiny of the results of Olympic preparation programs by the more or less specialised media and by the scientific community and sports organisations.

We are, therefore subject to the dictatorship of medals. Olympic participation is evaluated almost exclusively for what is relevant for the media: podium positions. 

And the theme, as it is common in issues with a high level of media exposure elicits the writing and the debate by many people. Some have the right knowledge, some less and others are clearly unprepared to tackle these issues.

In Portugal, all those linked to sports are sensitive to the results achieved by national athletes and to the debates and controversies raised in this regard. Each event is naturally interpreted in different ways. 

We know that a medal quickly becomes the medal of a country and everyone claims their fair share, and the same happens when we witness a true stampede in case of failure and the search for the same scapegoats. These are the rules of this game and we know them. We don’t even dare to sustain this atavism that assails us every four years. We stick to our commitment of achieving our sporting goals, which we signed with the Government of Portugal and clearly commit us before all Portuguese since the beginning of this particular journey.

Throughout this Olympic cycle we have done our best to provide the best preparation conditions for those who, next year, at the Tokyo Olympics, will have the mission of adding another chapter in Portugal’s sports history.

The reach of our goals is well known, is bound by the laws of the country and guides the anonymous effort of our athletes, coaches and sports federations to excel, a work that often is little known in the public sphere but does not deter those who know the meaning and the strength of the Olympic calendar.

The established commitments and competencies between State, Committee and Federations, through a collaborative model, allowed us to stabilise the Olympic preparation and to help the process of development of athletes and coaches, creating sporting value, gaining scale and closing important gaps.

Having met these goals, our expectation is now moderately optimistic. We naturally hope that the sporting results to be achieved at the Tokyo Olympics next year will mobilise the Portuguese and make us proud of our Olympic Mission.

The Portuguese Olympic Committee will do its utmost to continue to value sport, with all its projects, initiatives and institutional positioning, mobilizing around this cause institutions and personalities, both inside and outside the sporting universe, genuinely imbued with the same purpose. Taking inspiration from the memories of our Olympic heroes that should make us proud, and dreaming of an even better sporting future.

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