Sábado, Maio 18, 2024

Perspetivas para 2020 – Setor da Saúde | Outlook for 2020 – Health Sector

Isabel Vaz
Isabel VazCEO Luz Saúde

O setor da saúde representa um dos maiores e mais complexos desafios socioeconómicos do século XXI. Fator fundamental de coesão social, o Sistema Nacional de Saúde português tem, no entanto, um peso cada vez maior nas contas públicas e, sobretudo, na despesa das famílias.

As expectativas crescentes dos cidadãos, a evolução da tecnologia ao nível dos equipamentos e dispositivos médicos, a introdução de novos fármacos e técnicas terapêuticas, o envelhecimento da população, o aumento da prevalência de doenças crónicas e os estilos de vida que criam novos desafios (p. ex, a obesidade, a diabetes,…), são os principais fatores que continuarão a conduzir o setor da Saúde para um ciclo incontornável de mais procura, mais oferta, mais consumo e mais despesa, inviabilizando, a médio prazo, o atual modelo que suporta o sistema de saúde português.

Assim, em 2020 o Serviço Nacional de Saúde continuará a enfrentar de forma cada vez mais agravada os problemas habituais, em particular a escassez de profissionais de saúde, fortemente penalizada pela passagem dos horários das 40 para as 35 horas, prevendo-se a continuação de alguma crispação com os sindicatos e ordens profissionais. A prestação pública, em particular os hospitais públicos, continuarão a viver contextos de sub-financiamento da sua atividade e de ausência de incentivos à boa performance de gestão com as consequências também conhecidas: a falta de aderência à realidade continuará a desresponsabilizar a má gestão e a ausência de incentivos à boa performance a desmotivar a boa gestão que cumpre os objetivos definidos, não criando tensão criativa e o desenvolvimento de uma cultura de avaliação correlativa com consequências para as organizações. 

Assim, é previsível que a pressão política sobre o orçamento determine, como habitual, a disponibilização de mais dinheiro para operar um sistema comprovadamente ineficiente e a continuação da aposta em soluções baseadas na restrição do acesso e liberdade de escolha dos cidadãos (i.e., manutenção de listas de espera e/ou criando barreiras administrativas ao acesso), em racionalizações da oferta definidas centralmente, em pressão administrativa sobre os preços a pagar aos prestadores ou no desvio de uma maior fatia dos custos para os cidadãos/doentes provavelmente através do aumento da carga fiscal. Ou seja, “business as usual and hope that something magic will happen”.

O que é fundamental é ter consciência que, na ausência de reformas estruturais, muito difíceis em qualquer contexto político e ainda mais quando o atual governo não dispõe de maioria no parlamento, num setor fustigado por fortes enviesamentos ideológicos, a perspetiva é a de mais um ano de aplicação de medidas conjunturais visando resolver os problemas que forem surgindo e num ambiente de “casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão” e de ausência de condições para a definição de estratégias de longo prazo. 

 Como terá dito Albert Einstein: “Insanidade é fazer a mesma coisa repetidamente e esperar resultados diferentes”.

The health sector represents one of the largest and most complex socioeconomic challenges of the 21st century. The Portuguese National Health System is a fundamental factor in social cohesion but has however an increasing weight in public accounts and, above all, in household spending.

Increasing expectations of citizens, technological evolution of medical equipment and devices, the introduction of new drugs and therapeutic techniques, the ageing of the population, the increasing prevalence of chronic diseases and lifestyles that create new challenges (e.g. obesity, diabetes, etc.) are the main factors that will continue to drive the health sector into an unavoidable cycle of more demand, more supply, more consumption and more spending, making the current model that supports the Portuguese healthcare system unfeasible in the medium term.

Thus, by 2020 the National Health Service will continue to increasingly face a worsening of its usual problems, in particular the shortage of healthcare professionals, severely penalised by the shift from 40 to 35 working hours and which will continue to generate some divisions in unions and professional bars. Public provision of service, in particular public hospitals, will continue to experience underfunding and lack of incentives for good management performance with clear consequences: lack of adherence to reality will continue to hold poor management accountable and the lack of incentives for good performance, discouraging good management practices to meet defined objectives, not creating creative tension, and developing a culture of correlative assessment with consequences for organisations. 

Political pressure on the government is bound to lead, as usual, to more money being made available to operate a clearly inefficient system, continuation of the bet on solutions based on restricting citizens’ access and freedom of choice (i.e. maintaining waiting lists and / or creating administrative barriers to access), centrally defined supply restrictions, administrative pressure on the prices to be paid to providers or the shift of a larger share of costs to citizens/patients, probably through an increase of the tax burden. That is, “business as usual and hope that something will happen”.

We need to be aware of the fact that, in the absence of structural reforms, which are very difficult in any political context and even more so considering that the current government has no parliamentary majority, in a sector beset by strong ideological biases all points to another year of application of cyclical measures to solve the problems that come up in an environment one could define according to the popular saying “when poverty comes in at the door love flies out the window” and marked by the failure to define long-term strategies.  

 As Albert Einstein put it, “Insanity is doing the same thing over and over and expecting different results.”

Partilhe este artigo:

- Advertisement -
- Advertisement -

Artigos recentes | Recent articles

Um país na flor da idade

Nos últimos 20 anos Angola sofreu inúmeras transformações, desde a mais simples até à mais complexa. Realizou quatro eleições legislativas, participou pela primeira vez numa fase final de um campeonato do mundo, realizou o CAN e colocou um satélite em órbita.

David Cameron

David Cameron foi Primeiro-Ministro do Reino Unido entre 2010 e 2016, liderando o primeiro Governo de coligação britânico em quase 70 anos e, nas eleições gerais de 2015, formando o primeiro Governo de maioria conservadora no Reino Unido em mais de duas décadas.

Cameron chegou ao poder em 2010, num momento de crise económica e com um desafio fiscal sem precedentes. Sob a sua liderança, a economia do Reino Unido transformou-se. O défice foi reduzido em mais de dois terços, foram criadas um milhão de empresas e um número recorde de postos de trabalho, tornando-se a Grã-Bretanha a economia avançada com o crescimento mais rápido do mundo.

Conferências com chancela CV&A

Ao longo de duas décadas, a CV&A tem vindo a promover conferências de relevo e interesse nacional, com a presença de diversos ex-chefes de Estado e de Governo e dirigentes políticos de influência mundial.

Mais na Prémio

More at Prémio

- Advertisement -