Sábado, Maio 18, 2024

Perspetivas para 2020 aquém das nossas ambições | Prospects for 2020 falling short of our ambitions

António Saraiva
António SaraivaPresidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP)

Após um ano de 2019 sob o signo do abrandamento económico iniciado em meados de 2017, as perspetivas para 2020 permanecem aquém das nossas ambições.

É certo que a resiliência das empresas portuguesas permitiu manter inalterada, ao longo dos últimos trimestres, uma curta vantagem relativamente ao crescimento médio da União Europeia.

Noto, em algumas análises, sinais de contentamento com os resultados alcançados, que mostrariam que Portugal está a aguentar bem o impacto negativo de uma conjuntura externa mais desfavorável.

Não me revejo nesta atitude de complacência. Se as perspetivas são desfavoráveis, é altura de as contrariar.

De facto, as perspetivas externas estão longe 

de ser animadoras.

Num contexto em que a elevada incerteza relacionada com as tensões comerciais e com o Brexit não diminuiu, a Comissão Europeia reviu recentemente em baixa as suas projeções económicas. A modesta recuperação esperada para o próximo ano deu lugar, agora, à afirmação de que a economia europeia entrou num período prolongado de crescimento reduzido e baixa inflação. O PIB da União Europeia, neste contexto, aumentará apenas 1,4%, tanto em 2019 como nos próximos dois anos.

Será possível, neste cenário, crescer acima das previsões que apontam para uns escassos 1,7%?

Na União Europeia encontramos diversos países que estão a crescer a mais do dobro desta taxa. Isto prova que é possível, mesmo em economias abertas, crescer de forma robusta num cenário externo desfavorável.

A grande abertura ao exterior implica que qualquer tentativa de centrar a estratégia económica no estímulo à procura interna, esquecendo as exportações, terá como inevitável consequência o retorno a desequilíbrios insustentáveis, que voltarão a travar o crescimento.

No entanto, a dimensão da nossa economia torna possível que, mesmo num cenário de arrefecimento da procura global, pequenos aumentos de quota de mercado à escala mundial, se traduzam por acréscimos significativos dos volumes exportados pelas empresas.

Para tal, seria preciso que, do lado das políticas públicas, a orientação fosse no sentido de uma verdadeira aposta na competitividade, assente em ganhos de produtividade.

Lamentavelmente, no Programa do Governo, não vejo sinais que apontem para essa reorientação das políticas, desde logo em dois domínios fundamentais: na fiscalidade e na área da capitalização e financiamento das empresas.

É certo que, conjugando as previsões para a produção e o emprego, podemos esperar alguma recuperação da produtividade das empresas. Temo, contudo, que, sem uma política económica mais favorável, essa recuperação não seja suficiente para inverter a atual tendência de abrandamento económico.

Assim, tenho dúvidas que mesmo a pouco ambiciosa meta de crescimento de 2,0% traçada pelo Governo possa ser alcançada. Seria preciso mais e melhor, seria preciso apostar verdadeiramente nas empresas. Porque só apostando nas empresas poderemos abrir perspetivas para um futuro mais próspero para Portugal.

After a year of 2019 marked by the economic slowdown that began in mid-2017, the prospects for 2020 fall short of our ambitions.

Admittedly, the resilience of Portuguese companies has allowed for the slight advantage over the average growth of the European Union to remain unchanged in recent quarters.

I see, in some analyses, signs of satisfaction as to the results achieved, which would show that Portugal is coping well with the negative impact of a more unfavourable external environment.

I don’t share this attitude of complacency. If the outlook is unfavourable, it’s time to act upon it.

In fact, the external perspectives are far from encouraging.

The European Commission has recently revised its economic projections downwards amidst a scenario of high uncertainty related to trade tensions and Brexit. The modest recovery expected next year has now given rise to the assertion that the European economy has entered a prolonged period of low growth and low inflation. EU GDP in this context will increase by only 1.4% in both 2019 and the next two years.

It’s possible, in this scenario, to grow above forecasts that point to a scant 1.7%?

In the European Union we find a number of countries that growing at more than double this rate. This proves that it’s possible, even in open economies, to grow robustly in an unfavourable external scenario.

The great openness to the outside implies that any attempt to focus the economic strategy on stimulating domestic demand, while forgetting about exports, will inevitably lead to a return to unsustainable imbalances, which will stall growth again.

However, the size of our economy makes it possible that even in a scenario of weakening global demand, small increases in worldwide market share will translate into significant increases in volumes exported by companies.

For that, it would be necessary that, on the public policy side, the focus should be towards a true bet on competitiveness, based on productivity gains.

Regrettably I see no signs in the Government program pointing to this resifting of policies from the outset in two key areas: taxation and business capitalisation and funding.

Admittedly, by combining forecasts for production and employment, we can expect some recovery in business productivity. However, I fear that without a more favourable economic policy, such a recovery will not be sufficient to reverse the current trend of economic slowdown.

So I have doubts that even the unambitious goal of 2.0% growth set by the Government will be achieved. It would take more and better, we would really have to bet on companies. Because only by betting on companies can we open prospects for a more prosperous future for Portugal.

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