Quinta-feira, Março 28, 2024

Os 4 Is da Ação Climática no Feminino

Susana Viseu, Presidente da Direcção da Business As Nature

Inegável – É inegável hoje que as alterações climáticas estão a acelerar mais do que os cientistas previam, com o aumento da intensidade, da duração e do estreitamento da periodicidade dos fenómenos climáticos extremos. No ano de 2022, que recentemente terminou, os eventos climáticos extremos em África, mataram pelo menos 4.000 pessoas e afetaram mais 19 milhões1. A seca e a fome associada fizeram 2.500 vítimas mortais no Uganda e afetaram oito milhões na Etiópia. Na Nigéria mais de 600 pessoas morreram nas piores inundações em uma década e os países da África Austral, incluindo Madagáscar e Moçambique, foram atingidos por seis tempestades severas, provocando a morte de 890 pessoas. As temperaturas chegaram a 48°C na Tunísia em julho, conduzindo a incêndios florestais extremos, quase dois milhões de pessoas no Chade foram afetadas por inundações, e as cheias no Paquistão fizeram mais de 1700 mortos e afetaram um total de 33 milhões de pessoas, um terço das quais foram obrigadas a abandonar as suas casas.

Cerca de 64 milhões de pessoas no mundo foram obrigadas a deslocar-se em resultado das alterações climáticas e este número pode chegar a 1000 milhões nos próximos 50 anos.

Destes milhões de pessoas afetadas pelas alterações climáticas, maioritariamente são mulheres e meninas que ao serem desalojadas das suas casas ou obrigadas a percorrer largas distâncias para encontrar água e alimentos se submetem a situações que põem em causa a sua segurança e a sua sobrevivência.

Indissociável – São estas mulheres e meninas que em grande parte do planeta asseguram o acesso à água e alimentos, que educam as crianças e cuidam dos mais velhos e que apesar de estarem na linha da frente dos impactos das alterações climáticas, são as que, com a sua resiliência, respondem e reagem, encontrando soluções, cuidando dos seus e da comunidade e gerindo os recursos naturais.

A crise climática, embora tendo como efeito mais direto, a afetação do sistema climático da Terra, que resulta da combinação e equilíbrio das suas componentes: atmosfera, biosfera e criosfera, é uma crise global, indissociável da afetação dos direitos humanos, com efeitos económicos e sociais, transectorial e sem fronteiras. Efeitos que atingem distintamente os grupos já de si mais vulneráveis, como sejam as mulheres e as meninas, agravando desigualdades e fenómenos de exclusão, promovendo o aumento de situações de discriminação e violência, o aumento do desemprego e a redução do acesso à educação e a continuidade da sua dependência económica e social.

Insuficiente – Apesar dos compromissos estabelecidos nas COPs, dos avanços tecnológicos, do crescente investimento em energias renováveis e tecnologias verdes, do esforço de países, cidades, empresas na mitigação de emissões, os resultados são objetivamente insuficientes. Continuamos a aumentar os níveis de carbono na atmosfera, tendo-se atingido em 2022 o máximo já registado. Entre 1880 (período pré-industrial) e 1981 o aumento da Tmédia da Terra por década foi de +0,08°C. De 1981 a 2021 o valor por década subiu para +0,18°C, atingindo em 2022 um aumento de 1,2°C face ao período pré-industrial. Todas as projeções apontam para que este aumento nas próximas décadas escalará para +0,34°C/década, atingindo +2,2°C já em 2050, com um cenário de 2,8ºC em 2100, muito longe dos 1,5ºC do Acordo de Paris.

A Amazónia e as florestas tropicais do Congo e da Indonésia, fundamentais para o equilíbrio climático, grandes sumidouros de carbono, continuam a perder extensas áreas de floresta. Apenas no ano de 2022 a Amazónia perdeu uma área equivalente a cinco cidades de Nova Iorque, 40 cidades de Lisboa, mais 10,6% em relação ao período homólogo.

Ação climática no feminino

Indispensável – Nesta urgência na transição climática não podemos descartar e dispensar o papel ativo das mulheres nos processos de decisão, na construção de soluções e na sua implementação. Não há ação climática e desenvolvimento de uma economia regenerativa, sem o envolvimento das mulheres. Sem o aumento significativo da sua participação e intervenção, invertendo a sua representação residual na diplomacia climática, na liderança política e empresarial. Recordo que na última COP 27, no Egito, de 104 países que constituíram a “List of Speakers for the first part of the high-level segment for Heads of State and Government”, apenas oito eram mulheres.

Este envolvimento é indispensável, não só porque representamos 50% da população, desempenhando um papel fundamental na educação das gerações futuras e no cuidado à família e às comunidades, como somos responsáveis por cerca de 85% das decisões de compra e estamos na linha da frente da afetação e da resposta às alterações climáticas.

P(ossivel) – Poderia ser um último “I” mas acredito que este último seja um “P”. De Possível. De Parcerias, de conjugação de esforços na mobilização das Mulheres e das Meninas da Ação Climática. Esta é a missão da Business as Nature, através da promoção do “Movimento Mulheres pelo Clima dos países de língua portuguesa para o Mundo”, lançado em setembro de 2022, com o apoio institucional da CPLP e do apoio do Ministério do Ambiente e Ação Climática, e que conta já com numerosos apoios de diversas personalidades, organizações, autarquias, empresas etc.

Tem de ser possível. Temos de manter e acelerar o rumo. Sem hesitações. Concretizar, responder enquanto humanidade, enquanto democracias a este desafio da crise climática, garantindo simultaneamente a justiça e inclusão social, não deixando os mais vulneráveis para trás. Com as Mulheres de língua portuguesa, e delas para o Mundo, sejamos Todos, na ação determinada pelo equilíbrio do sistema terrestre.

(Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)

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