A edição portuguesa do Global CEO Outlook da KPMG permite comparar as perspectivas dos gestores nacionais com as dos gestores das maiores economias globais. Sem prejuízo de uma análise mais fina, deixo aqui um conjunto de tópicos que me parecem importantes para a reflexão dos líderes.
As conclusões revelam um equilíbrio entre optimismo e prudência, assente nos sinais positivos que a economia apresenta, mas que não esquece um conjunto relevante de incertezas.
Vivemos num mundo conectado, onde os eventos ganham escala rapidamente e onde a agenda de riscos muda de forma imprevisível. Desta forma, uma gestão assente na expectativa e no “esperar para ver” não é mais opção.
Cada vez mais, espera-se que sejam os gestores a assumir a liderança em áreas como cibersegurança ou geopolítica, compreendendo as suas implicações e riscos para o negócio. Por outro lado, maximizar as oportunidades implica estar alinhado com as mudanças geracionais. Os consumidores de amanhã esperam que as organizações entendam as suas prioridades e valores.
Ciber-riscos: 49% dos inquiridos consideram que sofrer um ciberataque é inevitável (28% em Portugal).
Mudanças geracionais: 38% dos inquiridos indicam que será necessário reposicionar o negócio para responder às necessidades dos millennials (28% em Portugal).
Geopolítica no Board: o proteccionismo é apontado como principal ameaça ao crescimento, quer em Portugal quer a nível global.
Uma visão pragmática
Os CEOs reconhecem que as organizações ainda dependem das fontes de receita tradicionais, mas estão conscientes da necessidade de encontrar alternativas na era digital. Cabe aos executivos um papel fundamental na promoção da inovação nas suas organizações.
Perspectivas optimistas: 90% estão confiantes quanto às perspectivas de crescimento da sua empresa (84% em Portugal) e 67% confiam no crescimento da economia global (92% em Portugal).
Uma dose de pragmatismo: 55% prevêem um crescimento de receitas inferior a 2% (64% em Portugal) e 52% referem que só depois de atingirem as suas metas de crescimento é que contratarão novas competências (Portugal: 48%).
O digital torna-se pessoal
Os CEOs tentam liderar a agenda da transformação. Mas, para garantir que a estratégia digital não é prejudicada pela pressão por resultados imediatos, há que gerir as expectativas dos ‘stakeholders’. Trabalhando em conjunto com os ‘boards’ e outros actores, é possível mapear diferentes cenários para o futuro do negócio e definir novos KPIs. Por exemplo, capitalizar os dados dos clientes deve ser um elemento crítico das estratégias de crescimento, sem perder de vista a gestão reputacional, numa era em que a protecção de dados está na ordem do dia.
É para os seus líderes que os colaboradores olham à procura de orientação, à medida que a inovação em áreas como a Inteligência Artificial e a automação tornam mais próxima a substituição de funções e a necessidade de gerir a transição da força de trabalho.
Liderar a transformação: 71% dos CEOs estão preparados para liderar uma transformação organizacional radical (Portugal: 64%).
O CEO como data protector: para 59% a protecção dos dados dos clientes é uma responsabilidade pessoal e crítica (Portugal: 48%).
Robôs geradores de emprego: 62% acreditam que a Inteligência Artificial criará mais emprego do que destruirá (Portugal: 84%).
Intuição vs dados
Num mundo onde as exigências dos clientes, as tendências tecnológicas e as ameaças mudam constantemente, actuar com agilidade está a tornar-se a nota dominante do negócio. Nesse sentido, muitas organizações já apostam em redes de inovação e na colaboração com ‘startups’, mas nem sempre materializam os resultados desse investimento. Os CEOs devem focar-se em gerar valor a partir dessas redes de colaboração e em superar barreiras críticas, como os desafios culturais. Agilidade significa ainda ser capaz de identificar novas oportunidades e a utilização de ferramentas de análise de dados será essencial. Os CEOs de alto desempenho serão aqueles que conseguirem combinar experiência e intuição com ‘insights’ baseados em dados.
Para 59% dos líderes, a agilidade é a nova moeda dos negócios (Portugal: 64%).
Nos últimos três anos, 67% colocaram a sua intuição acima de ‘insights’ baseados em dados (Portugal: 80%).