Carlos Barroca, Vice-Presidente de Operações da NBA Ásia
O que é que um “especialista” em basquetebol tem a dizer sobre educação, a vida em comunidade, os valores não materiais e o futuro? o Basquetebol tem que ver com a vida?
Falamos de um jogo novo (apenas com 129 anos), de educação, de ensinar e aprender. E o Basquetebol é um mero exercício do “eu” ou o realizar do “nós”? Há vida sem “nós”? Ensina-se e aprende-se, educa-se sem “nós”? A Prémio desafiou-me e vou tentar responder.
O basquetebol inspirou-me e fez-me “olhar” o passado para “ver” o futuro. Defino o conceito subjacente ao objetivo, observo, faço o diagnóstico e crio o plano de ação. Depois basta implementá-lo: ensinar, inspirar e conectar.
O ser humano, sempre se moveu na procura de alimento e abrigo. Sempre agiu por instinto de sobrevivência. A existência do “nós” nasce, também, como instinto de assegurar continuidade de espécie, não deixando de estar intrinsecamente ligado à questão da liderança, da decisão. Desde o início dos tempos o “eu” e o “nós” caminham, pois, lado a lado.
Um salto no tempo e deixamos as grutas ou o isolamento das florestas para a proximidade dos cursos de água. Acedemos a novas fontes de alimentação, e a ligação à água dá-nos a possibilidade de viajar. Mais população, mais recursos, mais interação e emergente socialização com diferentes tipos de liderança. Além da produção direta dos produtos de consumo, surgem múltiplas atividades, inclusive o entretenimento. Em tempo de paz as atividades básicas de gestos humanos transformam-se em competições: correr, saltar, lutar… e da associação humana, que tem por base o alimento e a segurança, nascem, inevitavelmente, os conceitos de liderança e de poder nas mais variadas formas.
Das paliçadas iniciais nascem fortes cada vez mais sofisticados e maiores, protegendo os seus habitantes das invasões exteriores, com canhões voltados para fora, a maior parte das vezes para o mar, de onde vinha o invasor. Já em tempo de paz a música e o entretenimento ocupavam o tempo não dedicado à produção. Mas os canhões virados para fora não protegeram, nunca, a humanidade das doenças que associadas ou não às horríveis condições de vida das cidades acabaram por surgir. E, como já se viajava, o propagar das doenças acontecia. Morriam milhões de pessoas sem capacidade de resposta às pandemias. E tudo parava.
Por isso dei a este texto o título de “O Eu ou o Nós? E A História do Amanhã”! Será que o “eu” foi substituído pelo “nós”? Será que há verdadeiramente “eu” ou só há “eu” na medida em que há egos exacerbados?
Crio o conceito e defino o objetivo. Consigo pensar no “meu” jogo do Basquetebol como o “eu“…, se isolado de todo o resto? Definitivamente, não consigo! Não há basquetebol sem pessoas, não há educação sem pessoas, não há vida humana se não existirmos como espécie. Não há “eu”!
E talvez seja aqui que o Basquetebol se cruza com a vida. Como sobreviver a esta nova Doença? A vacina chama-se “nós”!
Observo: Somos milhares de milhões, concentrados, cada vez mais, em cidades cada vez maiores e precisamos de enormes recursos alimentares. Queremos mais espaço e consumir mais recursos naturais. Não há “eu”. Estamos todos, de uma forma ou outra, associados a “equipas”. Somos Países, raças, género, religião, clubes, estratos sociais, empresas, mas persistimos num comportamento errático que insiste muitas vezes no “eu”.
Diagnóstico: Estamos a acelerar a destruição dos recursos naturais, estamos a destruir o planeta.
Planeio: Temos que virar os canhões dos Fortes para o lado de dentro o mais rapidamente possível, pois o perigo não vem de fora; transformar o “eu” em “nós”, utilizar os recursos de forma sustentável, parar de crescer desta forma unicamente virada para o resultado, para o lucro à custa da destruição de tudo que nos rodeia é a solução.

É hora de agir: Educar, em toda a dimensão da palavra. Educação para todos, a todos os níveis. O Basquetebol, o meu que é nosso, é também ou essencialmente educação.
Como treinador o “meu” sucesso não depende de mim, treino pessoas; como dirigente trabalho com pessoas, como líder de organizações dirijo pessoas. O sucesso de todos faz o meu.
A História do Amanhã constrói-se voando no tempo para saber mais, sem ter medo de usar a inteligência, a inovação, a ciência e a tecnologia. Faz-se com equipas não têm medo de errar, de sonhar, de falar ou sugerir, feitas de “muitos eus” que pensam em “nós” e por isso progridem, ajustam e conseguem os resultados, num perpétuo movimento.
Temos o poder de inspirar outros, com competências e sorrisos, porque trabalhamos com crianças e com elas aprendemos cada vez mai s e nelas bebemos, diariamente, toda a energia. A solução tem de estar em cada um de nós e, para isso, só a Educação é o caminho! Mas a educação das crianças deve ser acompanhada da educação dos adultos.
A Covid-19 é como uma chamada de atenção para a humanidade, sendo que nos é dado ter a vacina que ainda pode resolver o problema. Mas se continuarmos no caminho da destruição da nossa “casa” não há vacina que resulte. Não há vacina para a estupidez ou extremismo seja de que forma for. A vacina para as loucuras do “eu” chama-se “nós”!
Adoro o basquetebol. Se jogarmos juntos todos os sonhos são possíveis. O jogo só é possível porque há vida humana e a defesa desta é, na nossa geração, a partida mais importante que temos pela frente. E não exagero se disser que estamos a jogar um prolongamento ou “um desconto de tempo”.
Acredito na educação, na ciência e mais que tudo, na humanidade. Sou professor!