António Bilrero, Prémio
Sheldon Adelson, fundador do grupo norte-americano de jogo morreu em meados de Janeiro. Um mês e meio depois, o grupo anunciava o fecho da operação na cidade natal e a venda de propriedades, num negócio avaliado em cerca de 6,2 mil milhões de dólares norte-americanos. O objectivo é claro e segue o que estava já a ser preparado ainda com o fundador da companhia vivo: reforçar as operações na Ásia, incluindo Macau, a capital mundial do jogo, e Singapura.
Para António Ramirez, advogado e consultor especializado na área do jogo, esta operação estava prevista e segue um princípio bem simples: “O jogo segue o dinheiro. Onde interessa estar? Nas maiores economias e nas que apresentam maior desenvolvimento”.
O especialista lembra que entre os anos 50/60, o final dos anos 90 e meados da primeira década do séc. XXI, Las Vegas era a capital mundial do jogo e os EUA eram, destacados, a maior economia do mundo.
“Actualmente, assinala, o crescimento económico dos EUA não é o que já foi e há um conjunto de países asiáticos cujas economias [pré-pandemia] apresentam as taxas mais elevadas de crescimento”. Por isso é “absolutamente normal” este virar da agulha para o continente mais populoso do planeta.
“Ao olharem para essas economias asiáticas, as empresas que se dedicam ao negócio do jogo, assim como àqueles que lhe estão associados, como o turismo e a hotelaria (com os seus luxuosos e gigantescos ‘resorts’ integrados), observam ali um enorme aumento do número de consumidores com dinheiro disponível para gastar. A escolha parece e é óbvia”, diz.
António Ramirez reforça ainda que nessas economias asiáticas em franco processo de expansão, “ao contrário do que acontece na Europa e nos Estados Unidos, onde o consumidor tem um comportamento mais conservador, mais virado para a poupança, aqui o foco vai para o consumo e o gasto de dinheiro”.
E claro. A venda das propriedades em Las Vegas – The Venetian Resort Las Vegas, Sands Expo e o Centro de Convenções – tem bem presente a origem dos lucros (superiores 13,7 mil milhões de dólares norte-americanos em 2019). “Em 2019, 63% destes vieram da operação em Macau, seguido de Singapura, com 22%, e só depois o negócio nos Estados Unidos.
Por tudo isto, “a opção de vender um activo que representa 10 ou 15% dos lucros, mas com uma valorização muito superior a esse valor, na ordem dos 6,4 mil milhões de dólares norte-americanos, permite preparar o grupo para eventuais fortes investimentos na Ásia”, atira.
E acrescenta: “Ou seja, ao reinvestir esses 6,4 mil milhões noutras geografias (Ásia) há a real expectativa de isso gerar lucros muito superiores aos que a operação de Las Vegas geraria se esta solução não se realizasse”.
Esta “deslocalização” constitui, por isso, “uma oportunidade para assegurar mais lucros, isto partindo do princípio de que quem a executou acredita que a Ásia vai continuar a ter um crescimento económico superior àquele que se vai verificar no futuro nos EUA. É uma jogada normal, partindo deste princípio”, diz.
António Ramirez considera que, relativamente a Macau, com a recém-anunciada operação do grupo no Estado do Nevada, “a Sands China tem agora uma acionista, a Las Vegas Sands Corporation, com muito mais poder económico e com dinheiro disponível para investir”.
“Quando chegar o concurso público para os contratos de concessão de jogo em Macau, adiado devido à pandemia, isso quer dizer que a Sands vai ter menos dívida e mais dinheiro disponível, ou seja, vai surgir numa posição aparentemente mais favorável para poder cumprir os requisitos que o Governo local venha a impor. Tudo indica que ficará assim em melhores condições para ir a jogo com boas perspectivas de sucesso”, conclui.
Recorde-se que em plena pandemia, a Sands Macau investiu forte na capital mundial do jogo. O grupo arrancou com um projecto “The Londoner Macao” [cuja primeira fase foi inaugurada no passado mês de Fevereiro], um investimento de 1,9 mil milhões de dólares. Ainda durante este ano, o “The Londoner” vai assistir à inauguração de novos serviços no respectivo ‘resort’ integrado, com destaque para as aguardadas ‘suites’ criadas por David Beckham, o “Londoner Court”, um hotel de luxo com ‘suites’ residenciais, o centro comercial “Shoppes at Londoner” e a “Londoner Arena”.
Aquando do anúncio da venda das propriedades no Estado do Nevada, o responsável pelas operações da Las Vegas Sands Corp., Patrick Dumont, assinalou que a venda do património pelos tais pouco mais de seis mil milhões dólares norte-americanos vai permitir continuar com a “estratégia de longa data do grupo de reinvestir” na Ásia e, simultaneamente, trazer mais liquidez à empresa para remunerar o “capital investido pelos acionistas”.
Também nessa ocasião, Robert Goldstein, presidente e director-executivo (CEO) da Las Vegas Sands, prestou homenagem a Sheldon Adelson e lembrou que a Ásia “continua a ser a espinha dorsal desta empresa e os nossos desenvolvimentos em Macau e Singapura são o centro das nossas atenções”.
“O jogo segue o dinheiro”!