Sexta-feira, Abril 26, 2024

O avanço da sustentabilidade nas empresas e no (novo) Governo

Bruno Rosa | Prémio

Foi-se o tempo em que sustentabilidade se resumia a economizar água e a usar papel reciclado. Não mais. O conceito ganha cada vez mais definições. Nas empresas, deixou de ser concentrado em uma diretoria para ganhar espaço em todas as áreas. No novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que chegou ao poder democraticamente em janeiro de 2023, a promessa é que o tema será tratado, assim como nas corporações, de forma transversal reunindo quase duas dezenas de ministérios.

Parece algo óbvio. Mas não é. Ainda há uma dificuldade por parte da população em entender que a sustentabilidade está intrinsecamente ligada a mudanças climáticas, preservação, combate ao desmatamento, preservação de florestas, redução de emissão de gases causadores do efeito estufa e, no caso do Brasil, respeito aos povos indígenas. Tudo é uma coisa só.

Um sinal expressivo dessa nova mudança foi dada por Marina Silva durante sua posse, que já tratou de acrescentar o termo “Mudança do Clima” ao nome do Ministério de Meio Ambiente. Sinal positivo que tende a impulsionar o movimento entre as corporações. É um recomeço, mas não é do zero, apesar do abismo da política ambiental construído nos últimos quatro anos do governo de Jair Bolsonaro.

Se no governo o desafio é transformar as boas ideias em política pública de forma a evitar desastres naturais como queimadas e alagamentos, entre as empresas a dificuldade é acelerar iniciativas sustentáveis de forma a atrair investidores internacionais ao Brasil.

Entre as grandes companhias, as iniciativas sustentáveis ajudam a guiar os planos de investimento a partir de 2023, sinalizando que a transição energética é fundamental. Na Petrobras, a maior empresa do Brasil, os novos planos já estão sendo geridos pela futura gestão, que será liderada por Jean Paul Prates, com larga experiência no setor e no Congresso como Senador.

A ideia é colocar a transição energética não em uma diretoria isolada, mas expandir o conceito para todo seu organograma, de forma transversal. Na prática vai permitir que as equipes de áreas como refino e fertilizantes, por exemplo, passem a pensar em desenvolvimentos futuros que se sustentem nas próximas décadas além do petróleo e gás.

E, claro, a petroleira quer ir além do petróleo do pré-sal e se transformar em uma empresa de energia, acelerando investimentos em projetos de hidrogênio e energia eólica ‘offshore’. Mas leva tempo. São de seis a oito nos, segundo as previsões. Mas a Petrobras chegará atrasada, já que as rivais Equinor, BP e Shell já iniciaram essa transição.

Mas não é só o setor de energia que novas iniciativas ganham forma. As Havaianas, marca de sandálias vendidas em todo o mundo, preparam para 2023 o lançamento de linhas específicas de chinelos e acessórios usando matérias-primas como café e açaí dentro do composto durante a produção do produto.

Alguns podem classificar a mudança como simples, mas envolve um trabalho conjunto entre a área de pesquisa, logística, fabril e desenvolvimento de produtos. A complexidade envolve ainda a escolha de fornecedores, em sua maior parte formada por cooperativas familiares. Mudanças que envolvem tempo e dinheiro até sair do papel.

Quem também aposta em mudanças é a Goodyear Tire & Rubber Company, fabricante de pneus, no Brasil. Para 2023, a companhia decidiu ampliar de 70% para 90% a presença de materiais sustentáveis, como o óleo de soja, em seus produtos. Para as empresas, a visão é simples: esses investimentos são os instrumentos para se ter acesso a recursos financeiros, compensando o baixo crescimento econômico do Brasil.

Em paralelo às empresas, estão as iniciativas de preservação de áreas sensíveis. A principal delas é, sem dúvida, a Amazônia, maior floresta tropical do mundo. Basta notar a intenção do BNDES, banco de fomento do Brasil e um dos maiores do mundo, de se tornar uma instituição verde. O primeiro passo foi nomear a ex-ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, como diretora do banco.

O novo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, exemplificou bem o tema do ponto de vista dos investidores internacionais: “O que acende a luz ou apaga é a Amazônia”. Uma das ideias de Mercadante é propor um bloco com Indonésia e Congo, que reúnem as maiores florestas tropicais do mundo, para liderar a regulamentação do mercado de carbono. Está de olho em um fundo de 55 trilhões de euros da União Europeia destinado para outros países.

Mas o ano de 2023 está apenas começando. Internamente, as empresas e o novo governo aceleram os trabalhos para recuperar o tempo perdido nos últimos quatro anos. Externamente, o Brasil quer voltar ao jogo. Lula anunciou no último dia 11 de janeiro que Belém, capital do Pará, é a cidade brasileira escolhida como candidata oficial do país para sediar uma edição da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30) em 2025. Quer discutir a sustentabilidade dentro da Floresta Amazônica. Os movimentos devem ajudar na atração de fundos internacionais de investimentos verdes ao Brasil.

Que venha o futuro verde!

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