Quarta-feira, Maio 1, 2024

Luso-Brasilidade

Miguel Setas
Miguel SetasCEO da EDP no Brasil

DOSSIÊ ENERGIA & AMBIENTE

Reza a história que há quase duzentos anos atrás, no dia 7 de Setembro de 1822, às margens do rio Ipiranga, D. Pedro proclamou a independência do Brasil, naquilo que ficou conhecido como o “Grito do Ipiranga”. Desde então, Portugal e Brasil tornaram-se duas nações soberanas separadas pela história. 

No entanto, estudos da Universidade Federal de Minas Gerais mostram que cerca de 50% dos homens brasileiros são detentores de cromossoma Y português, numa clara evidência da miscigenação que ocorreu durante a colonização. Essa miscigenação também foi no sentido inverso, ainda que em menor proporção. O patologista Manuel Sobrinho Simões, num dos seus discursos evocativos do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, fez notar que nós portugueses também somos portadores de linhagens genéticas ameríndias.  Ou seja, a história separou-nos, mas a genética já tinha entrelaçado portugueses e brasileiros.

A outra dimensão que nos entrelaça é o idioma. Apesar de todas as nuances e sotaques da língua portuguesa falada em ambos os países, partilhamos, na essência, a mesma língua. Como se isso não bastasse, na formação do Brasil, portugueses e brasileiros lutaram juntos para defender o vasto território do país. É uma situação inédita na história mundial – colonizador e colónia lutando, lado a lado, pela mesma terra. 

Nos 11 anos de vivência que já levo no Brasil fui-me gradualmente apercebendo que, em grande medida, portugueses e brasileiros são dois povos com um tronco comum, com diferentes graus de miscigenação, naquilo que alguns intelectuais já chamam “nacionalidade luso-brasileira”. 

No entanto, se através da genética, do idioma e dos laços de afetividade formamos uma “nacionalidade supra-nacional”, no investimento e nas relações comerciais ainda temos chão pela frente. A presença de grandes empresas portuguesas tornou-se cada vez mais rarefeita em solo brasileiro. Efetivamente, Portugal ainda não consta do topo da lista de parceiros comerciais do Brasil. Estamos hoje nas posições 34º como cliente e 37º como fornecedor. E, em 2018, apenas cerca de 5% do nosso investimento externo foi destinado ao Brasil. 

O caso da EDP tem contrariado esta tendência. À data de hoje, a EDP é o maior investidor Português no Brasil. Tornou-se nos últimos anos uma das 50 maiores companhias no país, onde está presente há mais 20 anos, com atuação em toda a cadeia de valor do setor elétrico e empregando mais de 3000 colaboradores diretos. No ano de 2019 faremos o nosso maior investimento no Brasil, 3 mil milhões de Reais, que representa cerca do triplo da nossa média histórica. 

Para além desta dimensão económica, a EDP é também o maior investidor português na valorização do património cultural luso-brasileiro. Com este investimento queremos contribuir para uma ressignificação do legado histórico-cultural lusitano no Brasil, amiúde maltratado pela história.  

É essa consciência que nos tem estimulado a abraçar grandes causas relacionadas à nossa cultura comum. Alguns exemplos são o apoio à reconstrução do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, do qual somos o principal mecenas, e o recente anúncio de patrocínio à restauração do Museu da Independência do Brasil, que apesar de estar encerrado desde 2013 é o mais recordado pelos brasileiros.

Sem dúvida que a luso-brasilidade constitui um vínculo estruturante que une inexoravelmente os dois países. Confere a Portugal um estatuto diferenciado, entre todos os investidores estrangeiros no Brasil, que não pode senão ser benéfico para o capital de origem portuguesa.

History tells us that almost two hundred years ago, on September 7, 1822, D. Pedro proclaimed the independence of Brazil on the banks of the Ipiranga River, an episode known also as “The Ipiranga Outrcry”). Since that day, Portugal and Brazil became two sovereign nations separated by history. 

However, studies from the Federal University of Minas Gerais show that about 50% of Brazilian men have the Portuguese Y chromosome, a clear sign of the miscegenation that occurred during colonization. This miscegenation occurred also conversely, albeit to a lesser extent. The pathologist Manuel Sobrinho Simões, in one of his evocative speeches for the occasion of Day of Portugal, Camões and Portuguese Communities, pointed out that the Portuguese are also have of Amerindian genetic lineages.  That is, history separated us, but before that genetics had already intertwined Portuguese and Brazilians.

 oer dimension that interweaves us is language. Despite all the nuances and accents of the Portuguese language spoken in both countries, we share, in essence, the same language. Furthermore, in the formation of Brazil, the Portuguese and Brazilians fought together to defend the vast territory of the country. 

It was an unprecedented situation in world history – colonizer and colony struggling, side by side, for the same land. 

I lived 11 years in Brazil and during that time I grew gradually aware of the fact that the Portuguese and Brazilians are, to a large extent, two peoples with a common trunk, with different degrees of miscegenation, e.g. what some intellectuals call “Portuguese-Brazilian nationality”. 

However, if through genetics, language and the bonds of affection we form a “supra-national nationality”, in investment and in commercial relations we still have a long way to go. The presence of large Portuguese companies has become increasingly rare in Brazilian soil. Indeed, Portugal is not among Brazil’s top trading partners. We are today in position 34 as customer and 37 as supplier. And in 2018, only about 5% of our foreign investment went to Brazil. 

The case of EDP has countered this trend. Nowadays, EDP is the largest Portuguese investor in Brazil. In recent years it became one of the 50 largest companies in the country and its presence dated back 20 years, operating in the whole value chain of the electricity sector and employing over 3000 direct employees. In the year 2019 we will make our biggest investment in Brazil, 3 billion Reais, about three times our historical average. 

In addition to this economic dimension, EDP is also the largest Portuguese investor when it comes to help preserving the Portuguese-Brazilian cultural heritage. With these investments we want to contribute to a re-signification of the Lusitanian historical-cultural legacy in Brazil, often ill-treated by history.  

This acknowledgement led us to embrace great causes related to our common culture. See for example support in the rebuilding of the Museum of Portuguese Language in São Paulo, of which we are the main maecenas, and the recent announcement of our sponsorship to the renovation of the Museum of Independence of Brazil, which despite being closed since 2013 is the museum Brazilians remember most.

Portuguese-Brazilian relations are a pivotal link uniting inexorably both countries. It grants Portugal a differentiated status among all foreign investors in Brazil and this can only be beneficial to Portuguese capital.

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