Ana Catarina Mendes, Líder Parlamentar do Partido Socialista
“Devemos promover a coragem onde há medo
Promover o acordo onde existe conflito
E inspirar esperança onde há desespero.” – Nelson Mandela
Evoco as palavras de Nelson Mandela com a convicção profunda de que as crises potenciam as desigualdades, terreno fértil para debilitar a Democracia. A história está cheia de episódios destes.
Uma das consequências que a crise sanitária provocou foi alguma apatia perante as ameaças à nossa vida em sociedade. Os sucessivos confinamentos, o distanciamento social, a solidão, as dúvidas, o incerto fecharam as pessoas sobre si próprias. Num mundo cada vez mais tecnológico, as redes sociais criaram a ilusão de proximidade, propagando respostas absolutas e simples a problemas demasiado complexos. É, pois, também aqui que reside o perigo da Democracia.
A crise do último ano não criou novas desigualdades, mas adensou as estruturais existentes, felizmente de forma menos gravosa que na resposta à última crise. Perante a realidade, o Estado Social respondeu às debilidades e vulnerabilidades das pessoas, defendendo o emprego, os rendimentos, a proteção social, o funcionamento da economia e das instituições democráticas.
Mas na apneia destes tempos improváveis, há quem tente soprar os balões da demagogia e do populismo. Transformam-se falsidades em verdades, explora-se o medo e a insegurança, adensam-se as angústias e apontam-se respostas demasiado fáceis para tantos problemas. Os populistas que florescem nestes momentos não comportam em si uma ideologia ou projeto de sociedade, mas sim uma lógica política com uma visão mesquinha do que significa “Res Publica”, consumindo a sua atividade numa visão bélica de uns contra os outros, os de cá e os de lá, os pobres e os privilegiados, os novos e os velhos.
A aposta forte na educação e nas qualificações é a resposta que nos compete. Perante os desafios que enfrentamos, só uma sociedade com cidadãos esclarecidos e, por isso, livres será capaz de abraçar a diferença e de defender o nosso bem mais precioso: a Democracia. Só as sociedades democráticas permitem gerar igualdade e respeito pelo que é diferente, pela dignidade da pessoa, pelos direitos e deveres de cada um em erguer o sonho de transformar a sua vida.
Perante o desespero de muitos face ao futuro saibamos construir as bases sólidas de uma democracia forte, consolidando as respostas que aprofundam as igualdades.
É nestes momentos que a moderação, a resposta concertada, o Estado Social têm que funcionar para que o conforto da solução seja fator de coesão e não de fraturas absurdas que permitem o florescimento dos populismos.
Temos de garantir o triunfo da empatia perante todos os tipos de cinismo.
(Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)