Domingo, Maio 5, 2024

As jogadas para travar Sanders

Jogadas nos bastidores democratas para evitar a nomeação do senador do Vermont Bernie Sanders já duram há muito. No dia a seguir à vitória de Joe Biden na Super Terça-Feira, o mercado bolsista de Nova Iorque subiu depois de dias conturbados.

Filipe Teles, Jornalista do Jornal Sol

A vitória de Joe Biden na Super Terça-Feira surpreendeu tudo e todos. Em poucos dias, o ex-vice-presidente passou de uma campanha fúnebre para o favorito a ganhar a nomeação presidencial. Mas também foi o resultado de muitas manobras de bastidores que trabalharam para provocar uma convenção contestada e evitar a nomeação de Bernie Sanders, o socialista democrático.

Começou antes, mas clarificou-se com a vitória de Biden nas primárias da Carolina do Sul, no passado dia 29 de fevereiro. As desistências de Peter Buttigieg, ex-mayor de South Bend, Indiana, e da senadora do Minnesota Amy Klobuchar e consequente apoio de ambos a Biden foi um golpe esperado mas genial e com resultados imediatos.

A rapidez da formação da coligação centrista – Buttigieg falou com Barack Obama no dia 1 de março e Klobuchar teve que desmentir notícias que relatavam pressões internas para desistir – e do encerramento de fileiras à volta de Biden, um dia antes da maior noite eleitoral das primárias (1357 delegados em disputa), surpreendeu a campanha do senador do Vermont. Faiz Shakir, gestor de campanha de Sanders, resumiu bem em entrevista ao “New York Times” no dia 2 de março à noite. “Antecipámos sempre que haveria uma consolidação do lado do ‘establishment’”, começou por dizer. “Uma coisa é saber que vai acontecer. E outra coisa é ver isso acontecer de forma tão rápida”. E não pôde deixar de acrescentar: “Há uma razão pela qual o ‘establishment’ tem poder: preserva poder e conserva poder”.

Não muitos dias antes da Super Terça-Feira, no dia 27 de fevereiro, o “New York Times” entrevistou líderes da cúpula do Partido Democrata, incluindo 93 super delegados, determinantes caso haja uma convenção contestada: os super delegados são políticos com direito a participar na convenção do partido por virtude do seu cargo, não sendo eleitos (ver pág. seguinte). Título do artigo do diário nova-iorquino? “Líderes democratas dispostos a danificar o partido para travar Bernie Sanders”. Apenas nove dos 93 super delegados entrevistados (no total, são 771) responderam que dariam a nomeação a Sanders no caso de este chegar ao número mágico – 1991 – para ganhar a nomeação antes da convenção do partido. Ou seja, mesmo que Sanders fique em primeiro em número de delegados e votos, os líderes partidários não lhe dariam a nomeação e estão dispostos a arriscar dar uma imagem de um partido antidemocrático para esse efeito, além dos danos intrapartidários.

“A presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, e o Senador Chuck Schummer ouvem avisos constantes de aliados sobre derrotas no Congresso em novembro [há eleições para o Senado e Câmara dos Representantes este ano] se o partido nomear Bernie Sanders para Presidente. Os membros democratas da Câmara dos Representantes compartilham os medos de Sanders em mensagens. Bill Clinton, em telefonemas com velhos amigos, suspira no caso de o partido ser aniquilado nas eleições gerais”, lê-se no artigo do “New York Times”.

No dia 12 de fevereiro, o “Intercept” relatou uma conversa entre Pelosi e Ralph Nader, um dos políticos mais odiados pelos apoiantes de Pelosi, segundo o ‘site’. Ao “Intercept”, Nader disse que a candidatura do multimilionário Michael Bloomberg – que entretanto desistiu, tal como Elizabeth Warren – teve como ponto central o aglomerar esforços para bloquear a possibilidade de Sanders se tornar o nomeado. “É tempo para o Armagedão para o Partido Democrata”, disse.

Mas as jogadas de bastidores começaram muito antes do tiro de partida das primárias. Por exemplo, em novembro, o “Político” noticiou que Barack Obama, que permanece neutral como é tradição para os ex-presidentes, indicou no foro privado que falaria publicamente, quebrando a convenção, para travar a nomeação de Bernie Sanders. Biden saiu da Super Terça-feira à frente do senador do Vermont contra todas as expectativas. E Wall Street agradeceu: o valor de mercado da bolsa de valores de Nova Iorque subiu no dia a seguir à sua vitória, depois de dias conturbados devido ao coronavírus. No final do dia, a S&P 500 subiu 4%. Comparando com Sanders, “o aumento de impostos proposto por Biden é relativamente modesto, este apoia uma regulamentação leve e irá perseguir uma linha muito mais suave em relação às tarifas aduaneiras”, escreveu num ‘email’ aos seus clientes Michael Pearce, um economista da Capital Economics, citado pelo “New York Times”. Não surpreende que a elite democrata prefira o ex-vice-presidente. 

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