O tema das cidades inteligentes é hoje um dos mais relevantes quando pensamos no futuro e em inovação. Uma das grandes tendências futuras é o aumento da população urbana, que nos colocará enormes desafios em termos de sustentabilidade económica, ambiental e social. A ONU estima que em 2030 cerca de 60% da população viva em contexto urbano. A esta tendência devemos acrescentar o problema crescente das alterações climáticas que implicarão mudanças na gestão dos recursos e na adaptação do território. As cidades, mas também sectores ligados à investigação e às empresas, têm a expectativa que a inovação tecnológica permita gerir melhor estas mudanças e encontre soluções para alguns problemas que sentiremos em contexto urbano. Hoje, ser uma ‘smartcity’ significa ter a capacidade de utilizar tecnologia e informação para melhorar a qualidade de vida dos seus cidadãos, reforçar a resiliência do território e aumentar a competitividade da sua economia. Várias cidades têm desenvolvido e testado projetos tecnológicos e a evolução tem sido exponencial.
Em Lisboa, temos estruturado o tema das cidades inteligentes em alguns pilares. Um dos pilares diz respeito à informação. Uma cidade tem de ter acesso a informação relativa ao seu funcionamento e tem de saber gerir os dados que resultam dessas leituras. Para o fazer tem de decidir quais são as áreas e os dados que lhe permitem ter uma avaliação do estado da cidade em tempo real. Para além disso, tem de integrar os dados dessas várias áreas num único ‘software’ para poder ter uma leitura de conjunto, uma análise descritiva, poder antecipar situações, uma análise preditiva, e dessa informação poder adoptar decisões ou estratégias, uma análise prescritiva. A analítica dos dados é determinante para que da informação resultem melhorias na forma como a operação é gerida e os problemas são antecipados. A este nível, Lisboa tem em curso a implementação de uma Plataforma de Gestão de Dados Urbanos, num contrato com a multinacional NEC, e o Centro Operacional Integrado (COI), que será uma sala de controlo que nos permitirá ver, em tempo real, todos os aspectos críticos da vida da cidade. Para além desta observação e analítica, o COI terá uma segunda missão que implica assumir a gestão da cidade em momentos críticos, permitindo decisões mais rápidas e informadas.
Outro dos pilares diz respeito aos dados abertos (Open Data). Lisboa criou o Portal de Dados Abertos com mais de 300 conjuntos de dados, sejam da cidade ou de parceiros com quem temos protocolos. Esta ferramenta alavanca a investigação e a inovação permitindo que novas soluções e estudos nasçam a partir dos dados abertos. Para demonstrar a potencialidade dos dados e para estimular a inovação temos em curso programas de inovação aberta, como o “Smart Open Lisboa”, em parceria com a Beta-i e com o envolvimento de organizações como o Turismo de Portugal, a Cisco, a NOS, a SCML ou a Axians, e vamos criar o Laboratório de Dados Urbanos de Lisboa, em parceria com as universidades de Lisboa.
Mas uma estratégia inteligente numa cidade estaria incompleta sem o pilar da participação. A tecnologia que introduzimos e a informação que dispomos pode ser determinante para melhorar a eficiência de uma cidade, para estimular a inovação e a investigação, mas também deve promover a participação e aproximar as soluções das pessoas. Quando as soluções que introduzimos conseguem ter uma dimensão participativa o potencial transformador é muito superior. Quando criámos a obrigatoriedade para os bares ou discotecas da cidade, que pretendem ter música a partir das 23 horas, instalarem um limitador de ruído nos seus sistemas de som, calibrados por um exame acústico, com leitura ‘online’ e em tempo real, queríamos no imediato garantir a monitorização do ruído mas também aumentar a eficácia da fiscalização da polícia municipal e da divisão do ambiente. Se começarmos a enviar mensagens de texto para os proprietários dos bares e discotecas quando o ruído ultrapassa o limite definido, antes da polícia municipal lá passar, estamos a dar a oportunidade de participação dos proprietários para que o seu comportamento mude. Quando instalamos sensores de estacionamento na cidade e integramos com a app Epark da EMEL queremos assegurar que fiscalizamos os veículos estacionados em lugares não pagos, mas tornando essa informação disponível conseguiremos diminuir as segundas filas e o consumo de energia dos carros que estão em marcha lenta à procura de lugar. Libertar informação e dar a oportunidade de participar permite que os cidadãos percebam a importância da tecnologia na melhoria da sua qualidade de vida.
A estratégia que Lisboa segue não inviabiliza aprendizagens, colaborações e partilhas com outras cidades, beneficiando do que têm feito. Lisboa faz parte de um consórcio europeu com Londres e Milão, chamado ‘Sharing Cities’, onde participam várias entidades portuguesas nossas parceiras, como o IST, a EDP-D, o CEiiA, a EMEL, a Altice Labs, a Lisboa E-Nova e a Reabilita, cujo objetivo é testar tecnologia para depois escalar e ganhar dimensão internacional. O projeto dos sensores de estacionamento é um bom exemplo.
Lisboa tem vindo a preparar-se para o futuro e tem visto o seu caminho ser reconhecido ao ter sido selecionada como Capital Europeia Verde em 2020 e figurar entre as finalistas da Capital Europeia da Inovação em 2018.