Ao longo das últimas décadas, o sector da comunicação social tem passado por um difícil processo de transformação, que pôs o nosso mundo de pernas para o ar. As audiências mudaram os hábitos de consumo de informação, os anunciantes desviaram o investimento para outros suportes e o modelo de negócio tradicional, que em tempos permitiu a “industrialização” dos media, praticamente colapsou. Tudo isto obrigou as empresas do sector a tentarem encontrar novas fontes de receita na era digital, a par de um perpétuo esforço de racionalização e corte de custos.
O jornalismo económico não escapou a esta tendência e o que sucedeu em Portugal nos últimos anos – com o desaparecimento do líder histórico e o surgimento de novos ‘players’ – foi em parte consequência desta conjuntura. Confrontado com a falência do modelo que vigorou durante um quarto de século, o sector foi obrigado a reinventar-se, reduzindo estruturas, procurando novas fontes de receita, fidelizando os “velhos públicos” e indo ao encontro de novos. É um processo muito duro, com custos humanos e sociais muito significativos.
Não obstante estas dificuldades, existem razões para considerarmos que o pior já passou e a estarmos optimistas em relação ao futuro.
Em primeiro lugar, porque a necessidade aguça o engenho e todos os dias testamos novas soluções tecnológicas para melhor servirmos os nossos leitores. O objectivo é tornar a experiência de consumo de informação o mais simples, rápida e intuitiva possível, adaptando-a aos diferentes públicos. Por outro lado, a imprensa económica está permanentemente a tentar encontrar novas formas de monetizar os conteúdos que produz, encontrando-se na dianteira nesta área. A tendência será, cada vez mais, no sentido de uma importância cada vez maior das subscrições digitais, com as vendas em banca a perderem relevância. Vejamos, a título de exemplo, o caso do Jornal Económico. No final de abril, o nosso jornal tinha uma circulação total na casa dos nove mil exemplares por semana (em papel e digital). Deste total, as vendas em banca representaram cerca de 10%. Já as subscrições digitais representaram cerca de metade da circulação total, enquanto as assinaturas em papel e as vendas em bloco (a empresas e instituições) foram responsáveis pela maior parte da restante circulação.
Isto é apenas o início e estimamos que, nos próximos três anos, o canal digital passe a representar mais de 70% da circulação do nosso jornal, graças às novas soluções tecnológicas que facilitam a monetização dos conteúdos. Num futuro próximo, soluções como os micropagamentos vão mudar a forma como os leitores consomem informação, com uma crescente diferenciação, em termos qualitativos, entre os conteúdos que são de acesso gratuito e aqueles que são de acesso condicionado.
Quer isto dizer que o papel está condenado? Ao contrário de outros ‘players’ do sector, acreditamos que vamos continuar a ter jornais e outras publicações em papel. Ter uma edição impressa é uma vantagem competitiva e um instrumento de marketing que credibiliza as publicações. Por residual que seja, a presença em banca e a distribuição por assinatura vão continuar a existir, porque haverá sempre quem prefira o papel. Mas estas edições serão, cada vez, uma linha no orçamento de marketing das empresas de media.
Mas há ainda outra razão para que quem acredita no jornalismo possa estar optimista em relação ao futuro. Mais do que nunca, os cidadãos sentem a falta de jornalismo de qualidade. Perante o atual oceano de “fake news”, os meios de comunicação social que souberem regressar às origens e aos velhos valores do jornalismo – de independência, rigor e isenção – continuarão a ter um lugar no mercado. Estes valores são, cada vez mais, percebidos como decisivos para a afirmação e credibilidade das marcas de informação. Sem credibilidade, as marcas não têm valor. E, não tendo valor, não terão futuro. credibilidade, que se conquista com seriedade, honestidade e independência, é a chave do futuro.