Bruno Rosa*, Prémio
Ouvi de um economista renomado dia desses que o ano de 2021 já tinha praticamente acabado no Brasil. Embora estejamos ainda em abril, o atraso no cronograma da vacinação para combater o coronavírus e as crescentes crises política e econômica no maior país da América do Sul vêm deixando cada vez mais investidores e empresas em regime de espera.
Assisti, dias depois, apresentação virtual do CEO de uma empresa da Alemanha na qual ele mostrava que toda crise gera oportunidades. E ele estava com pressa. Relatou o avanço de concorrentes em países emergentes e a necessidade de aumentar os investimentos em ‘start-ups’ que estão criando novas tecnologias para o mundo pós-Covid.
Li ainda uma entrevista, no “Wall Street Journal”, de um gestor de hedge fund dos Estados Unidos que apontava o interesse em ativos no Brasil, Chile, México, África do Sul e Rússia. Para ele, a desvalorização das moedas locais frente ao dólar tornou as empresas mais baratas, gerando oportunidades de crescimento com margens mais atrativas.
Se de um lado a cautela e o pessimismo dominam parte dos relatórios de bancos, a economia real se movimenta com força. Fusões e aquisições crescem desde o ano passado ignorando a crise da Covid-19. Estão de olho em setores-chave para permitir o crescimento nos próximos anos. E no meio dessa estratégia estão as ‘start-ups’, empresas em fase de crescimento que têm a tecnologia como eixo central de seus negócios.
A Distrito, uma das principais plataformas de inovação do Brasil, projeta investimentos de pelo menos US$ 5 bilhões em ‘start-ups’ neste ano no Brasil. O valor é 42% maior que os US$ 3,5 bilhões calculados no ano passado. Os investidores internacionais estão interessados em novas soluções para setores como financeiro, varejo ‘on-line’, saúde e logística.
Em 2020, fusões e aquisições envolvendo ‘start-ups’ e grandes corporações chegou a 174 operações. Para 2021, esse número deve subir para 250 operações, apontam dados da Distrito. Combinações de negócios e investimentos vão transformar parte dessas ‘start-ups’ em unicórnios, alcançando, assim, valor de pelo menos US$ 1 bilhão. Há potencial para o Brasil pular dos atuais 12 para 20 unicórnios. Pode parecer um número pequeno dado o tamanho da economia brasileira, mas será um feito e tanto, se levar em conta que o número pode quase que dobrar em apenas doze meses.
Mas a economia real não envolve apenas ‘start-ups’. Projetos de infraestrutura também estão no radar de investidores institucionais mundo afora. Na lista de iniciativas que o governo pretende privatizar ao longo de 2021 estão concessões de rodovias, ferrovias, aeroportos, terminais portuários e empresas de saneamento. É um pacote com mais de 50 opções que devem gerar investimentos de US$ 24 bilhões.
Com as incertezas nos rumos da economia, investidores vêm pressionando o governo a tornar os certames mais atrativos, com maior flexibilização nas regras. Essa estratégia parece estar funcionando. No setor de telecomunicações, empresas como a brasileira Oi, a italiana da TIM, a espanhola Vivo e a mexicana Claro reclamaram e conseguiram emplacar a chinesa Huawei como fornecedora de equipamentos de infraestrutura para a rede 5G em um momento de bloqueio em diversos países do mundo.
omo o leilão de 5G deve ocorrer em meados deste ano e custar cerca de US$ 6 bilhões, valor que inclui a compra das frequências e investimentos obrigatórios de cobertura pelo interior do país, as empresa seguem pressionando nos bastidores por mais reduções de exigências.
Negociar faz parte da competição, ainda mais no cenário atual. O Rio de Janeiro, por exemplo, será palco de uma das maiores privatizações do país, com a venda da empresa pública de água e esgoto. O valor? Cerca de US$ 7 bilhões, número preliminar que inclui o pagamento da outorga e os investimentos obrigatórios. Claro, os investidores tentam, agora, reduzir esse valor, dizendo ser “impagável”.
Mas não é só. Na segunda quinzena de março, o Congresso brasileiro finalmente aprovou o novo marco regulatório para o mercado de gás, iniciativa que vai permitir gerar mais concorrência no setor ao quebrar o monopólio da estatal Petrobras. O próximo projeto da fila é o estabelecimento de novas regras para modernizar e atrair mais investimentos no sistema de navegação entre os portos nacionais.
O ano de 2021 está só começando.
*Texto escrito na língua de origem do autor