Filipa Franco, Head of Listing Euronext Portugal
A bolsa confere às empresas cotadas a oportunidade de prosseguir com liberdade a sua estratégia e visão para o desenvolvimento do negócio. Uma liberdade responsável, naturalmente. Que exige prestação de contas a uma base alargada de investidores que investem na empresa e que não interferem na sua gestão (nem querem interferir), mas necessária para que assim possam manter a confiança nas empresas e equipas em que escolheram investir.
Parece um contrassenso, bem sei. Sempre que se fala em bolsa, fala-se em requisitos, exigências, custos. Na obrigação de reportar e comunicar ao mercado resultados, perspectivas de negócio, vendas, resultados. E sobretudo em como associado a tudo isso existe ainda a perda de controlo.
Na verdade, para os empresários e equipas de gestão que entendem o mercado de capitais e o encaram como uma fonte de financiamento, profissionalização e credibilidade, não só a bolsa é a antítese da perda de controlo como os requisitos associados são, em si, benéficos.
A bolsa induz a profissionalização da gestão, a introdução de mecanismos de reporte e a necessidade de explicar de forma clara a inequívoca a estratégia do negócio. A “mera” análise e reflexão internas, antecipando questões dos investidores, é em si geradora de valor. Para além, claro, da avaliação recorrente das decisões tomadas que permitem rapidamente identificar – e assim corrigir – decisões que se revelam afinal erradas.
Existe ainda o aspecto reputacional que não pode ser ignorado. Claro que o cumprimento de regras de reporte revela uma maior disciplina de gestão, mas em si, pode significar pouco. Relevante é a confiança implícita na decisão de investimento destes investidores que assinala ao mercado a capacidade da empresa e da sua gestão na geração de valor.
O mercado de capitais assenta pois em duas ideias e conceitos fundamentais e intimamente relacionados: confiança e diversificação. E compreendendo esta dinâmica, compreende-se o seu funcionamento, os seus requisitos (formais e informais), os benefícios e oportunidades que oferece às empresas e em última análise a sua relevância para o desenvolvimento das economias.
A confiança do mercado nas empresas cotadas traduz-se na sua capacidade de obter no mercado o financiamento necessário, no momento necessário, para prosseguir com liberdade a sua estratégia e visão de desenvolvimento do negócio. E essa liberdade é incomparável.