Carlos Álvares, CEO do Banco Nacional Ultramarino
Também para Macau, e na sequência da pandemia que eclodiu no princípio do ano passado, 2020 foi um ano com muitos desafios. E que continuarão a existir de certeza em 2021.
A economia mundial continuará a enfrentar dificuldades. O sistema financeiro não será uma exceção. A Banca teve que se adaptar muito rapidamente a um cenário global sem precedentes. Neste momento, muitas das consequências da atual situação ainda não são totalmente identificáveis e a incerteza prevalece. Apesar da distribuição das vacinas e do início do processo de vacinação da população, temos que permanecer em alerta e prontos para ajustar as nossas práticas e políticas às novas circunstâncias e à realidade imposta por esta situação.
No entanto, as crises também são oportunidades para se promover mudanças. Algumas das quais, tornar-se-ão, certamente permanentes. Nas últimas décadas, a tecnologia avançou muito rapidamente. Contudo o ritmo da sua aplicação, nem sempre tem acompanhado esse avanço. A pandemia constitui um factor de aceleração do aprofundamento da digitalização, com mudanças duradouras na organização dos Bancos e no comportamento dos consumidores.
Com uma maior digitalização da economia, as instituições financeiras enfrentam um novo conjunto de desafios, nomeadamente:
1. Transformação dos negócios para se obter o máximo das soluções financeiras móveis e digitais;
2. Gestão da segurança digital;
3. Cumprimento das normas;
4. Alavancagem da tecnologia para se garantir vantagens competitivas;
5. Uso da tecnologia para melhorar o desempenho geral da rede bancária e dos serviços prestados.
Em Macau ainda existe um desafio adicional. Atendendo a que uma parcela muito importante da economia ainda é assegurada pelo jogo, mais do que nunca, a diversificação económica é essencial. Para suportar as crises futuras, o território tem de aproveitar o impulso criado pela pandemia, para imprimir um maior dinamismo ao seu sector empresarial. Dando os passos necessários para criar as condições que permitirão tirar partido das oportunidades oferecidas pelo mercado mais vasto da Área da Grande Baía (GBA). Esta agrega 9 cidades da China aqui próximas, Hong Kong e Macau, com uma área de cerca de 50.000Km2 (metade de Portugal), mas com uma população de 70 milhões de habitantes (7X Portugal) e com um PIB de cerca de USD 1.4 triliões (7X Portugal), que se estima possa atingir USD 4.3 triliões no espaço de 10 anos!
Para que essas oportunidades se materializem em projetos concretos, as atuais barreiras ao comércio e ao investimento deverão ser progressivamente removidas. Um dos principais obstáculos a superar são os três diferentes sistemas jurídicos, regulatórios, tributários e as três diferentes moedas, que limitam a mobilidade de bens, capitais, pessoas, tecnologia e informação. Adicionalmente, as apertadas regras e controlo cambiais, também dificultam os fluxos de capitais transfronteiriços dentro da Grande Baía.
Para superar esses obstáculos e promover uma cooperação mais profunda e de longo alcance dentro da GBA, as autoridades deverão estreitar ainda mais a colaboração com as instituições financeiras, a fim de uniformizar a legislação e as estruturas regulatórias para aumentar a eficiência dos serviços, reduzir a burocracia e diminuir os custos de fazer negócios transfronteiriços.
Além disso, também será importante incentivar ainda mais a digitalização do sector bancário e harmonizar os produtos e serviços na GBA. Também é vital facilitar o fluxo de recursos humanos qualificados e atrair e reter especialistas de diferentes áreas do sector financeiro.
Neste contexto, Macau poderá retirar o máximo partido das suas características únicas. O território encontra-se numa posição privilegiada para ser um importante pólo de negócios transfronteiriços, atraindo empresas ocidentais a investirem na China e empresas chinesas a investirem no estrangeiro, nomeadamente nos Países de Língua Portuguesa (PLP), através da constituição de ‘joint ventures’ e parcerias com empresários locais. Os recentes Acordos de Investimento que a China assinou com a União Europeia e com os Países do Sudeste Asiático (a este último, também aderiram a Austrália, Nova Zelândia e Coreia do Sul), irão reforçar ainda mais a posição de Macau como trampolim natural entre o Oriente e o Ocidente.
Acresce à situação privilegiada de Macau, o facto de essa expansão poder ser alavancada por meio da Área de Livre Comércio de Hengqin, uma ilha adjacente com o triplo da área de Macau. A Região Administrativa Especial de Macau tem uma ligação direta com outras cidades da GBA através de Hengqin, e já existe um conjunto de medidas para facilitar o comércio e o investimento entre o Interior da China e Macau. Essas medidas incluem benefícios fiscais, para indivíduos e empresas, isenção de imposto sobre valor acrescentado e/ou imposto de consumo entre as empresas localizadas na Área de Comércio Livre de Hengqin, simplificação do registo de empresas, bem como, facilitação de procedimentos alfandegários e de deslocações fronteiriças. Espera-se que outras medidas possam ser implementadas a fim de atrair mais investimentos.
Apesar das previsões de crescimento mais otimistas para 2021, ainda há um caminho a percorrer até voltarmos aos níveis de crescimento do passado pré-pandemia. Entretanto, continuaremos a ajudar a comunidade e apoiar as empresas e indivíduos a enfrentar estes tempos difíceis, criando as condições necessárias para uma recuperação rápida.
PS. Destaco ainda e não menos importante o seguinte!
(Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)