Sexta-feira, Abril 26, 2024

Editorial: Um Mundo Diferente

António Cunha Vaz
António Cunha VazPresidente da CV&A

Esta revista é especial. “Fala” de “Direitos Humanos”. Também fala de “Deveres Humanos”. Não exclusivamente no seu sentido estrito e muito menos naqueles vários sentidos panfletários que alguns usam no seu próprio interesse.

A PRÉMIO de Setembro traz ao conhecimento dos leitores o que pensam e como agem algumas das entidades que cuidam, a nível nacional e internacional, de pessoas que vivem em situações menos boas. Não quero, propositadamente, chamar-lhes situações dramáticas. Umas serão menos que outras, mas entendi que ao chamar-lhes menos boas deixo uma réstia de esperança no ar.

Falamos de crianças, pela pena da UNICEF Portugal, falamos daqueles Portugueses que beneficiam da acção da União das Misericórdias, do papel do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, do que é e faz o Conselho Português para os Refugiados e, com muito gosto, acompanhado de alguma tristeza, deixamos uma introdução a um assunto raramente mencionado na comunicação social: os albinos. Neste caso, tratamos de trazer ao leitor alguns dos factos da vida dos albinos em Moçambique.

Mas este ano, em Portugal, continental e Região Autónoma da Madeira, na Guiné-Bissau e em Moçambique há eleições. Elegem-se os Presidentes da Guiné-Bissau e de Moçambique, há legislativas, em Portugal e em Moçambique e, ‘last but not least’, há legislativas regionais na Região Autónoma da Madeira. As eleições da Ordem dos Advogados também aqui são tratadas, com uma entrevista de balanço dada pelo Bastonário, Guilherme Figueiredo. Deixam-nos, também, textos jurídicos sobre o tema dois ilustres advogados da nossa praça.

Todos estes temas são tratados pela pena de quem deles sabe. O que aqui se traz ao leitor é informação objectiva, não influenciada politicamente, com nada de panfletário, até porque a PRÉMIO não é nem nunca será uma revista para massas.

A empresa proprietária desta Revista está envolvida nas campanhas eleitorais. Por essa mesma razão procurámos ser ainda mais isentos, se é possível, do que o habitual. Nas legislativas nacionais e regionais ouvimos quem entendemos ter uma palavra a dizer nas respectivas “contendas”. O espaço concedido e as questões colocadas foram os mesmos e cada partido resolveu fazer-se representar por quem quis. Para que o leitor saiba, fizemos contactos através da via oficial de cada partido e quando não obtivemos resposta procurámos contactos de personalidades que têm funções de representação política. Fizemos um convite fora dos partidos a um ex-líder partidário, agora professor universitário cujo pensamento respeitamos. A partir deste número procuraremos ter sempre alguém fora do sistema a escrever. Sabemos que, por vezes, incomoda, mas cada vez mais a PRÉMIO será uma Revista inconformada.

O Diogo Queiroz de Andrade escreve, como bem sabe, os textos introdutórios de cada dossiê de política nacional. Porquê? Porque quisemos não ser nós, por estarmos envolvidos em campanhas, a fazê-lo.

O Mundo está num momento de mudança. As tensões agravam-se entre Estados, sobretudo entre os poderosos, com cada mestre a colocar em posições chave os seus bispos, cavalos, torres e alguns peões. Uns são propositadamente sacrificados, outros são estrategicamente protegidos. EUA, China e Rússia, a Coreia do Norte, a Venezuela e o Iémen, a Síria, o Congo e o Brasil são exemplos de países que todos os dias, para aqueles que lêem a comunicação social internacional, porque a nacional continua a ser parca em noticiários de fundo sobre outras paradas do mundo, aparecem nas CNN, FT, Quartz, Bloomberg, NYT, Frankfurter Allgemeine, Le Figaro, El País, Corriere della Sera, Folha de São Paulo ou Jornal de Angola, apenas para citar alguns. Os nossos ‘online’, como o Diário de Notícias, ECO, Expresso, Jornal Económico, Jornal de Negócios, Observador, entre outros têm feito um esforço para acompanhar o Mundo mas com redacções curtas e com gente nova têm ainda um caminho a percorrer.

As redes sociais, se ninguém lhes põe ordem, tornam-se numa arma de grande destruição. As notícias falsas são mais que muitas, algumas elaboradas por profissionais e alimentadas pelos incautos. Alguns especialistas montam projectos que levam a que quem os leia pense que são criados pelos seus opositores, outros criam notícias com fotografias falsas ou antigas e, pasme-se, assessores de presidentes ou membros de governos diversos enganam os seus governantes e fazem-nos cair no ridículo. O exemplo da Amazónia é um deles. Quando se entra por um caminho de falsidades para combater uma monstruosidade que está a acontecer ao Planeta está a dar-se força aos monstros que se querem combater. A par da Amazónia Brasileira, em África, na Rússia, e na Amazónia Boliviana os incêndios devastam vastas áreas de floresta. Claro que é preciso apurar quem são e punir os responsáveis. Mas o facilitismo modista de julgar o presidente do Brasil como responsável por todos os males do mundo só serve para camuflar os interesses de quem verdadeiramente beneficia com a exploração dos recursos naturais. Ninguém escreve, mas deve notar-se que na Amazónia Brasileira o estatuto de ONG é atribuído com uma facilidade tal que existem mais de cem mil organizações destas. Algumas são donas de verdadeiros impérios financeiros.

Outro exemplo é o continuado esquecimento a que algumas populações do Mundo são vetadas. Ainda nas últimas semanas vimos e lemos, os que quiseram fazê-lo, a história das continuadas chacinas no Iémen e das suas congéneres congolesas agora descobertas. É de estranhar que o que se passa no Congo só agora tenha vindo a lume. Um autodenominado “Exército de Resistência do Senhor” deixou um “rasto de morte … no Nordeste do Congo”, diz o relatório da Human Rights Watch. Na sua sangrenta história de 23 anos de chacinas, este dito exército continua a ser um problema gravíssimo para as populações ao contrário do que tentam dizer os governos congolês e ugandês.

Um último exemplo dramático, miserável, é o da Venezuela. Sob a capa de uma democratização do país iniciada por Hugo Chavez, Nicolas Maduro destruiu um dos países mais ricos e dinâmicos do continente sul americano. Uma população que tem um salário mínimo de pouco mais de dois euros diários, que tenta fugir do país a todo o custo – mais de 3 milhões de pessoas deixaram a Venezuela nos últimos dois anos – e que não tem alimentos, medicamentos, água potável e electricidade apenas porque um qualquer louco – que um povo ignorante elegeu – se acha no direito de proceder como entende para alcançar os seus intentos.

Estes são apenas dois exemplos do muito de mau que se passa no mundo. É preciso pôr cobro a estes iluminados que ascendem ao poder, parar de apelidá-los de ditadores de esquerda ou de direita. É urgente reforçar as verbas entregues às Nações Unidas para emergência, mas, ao mesmo tempo, dar educação aos povos para que não sejam manipulados por quem tem outros interesses que não sejam os da humanidade.

Boa leitura.

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