Paulo Morgado, Cofundador da BridgeWhat
O mundo digital trouxe ao mundo dos negócios desafios que muitos gestores ainda não assimilaram. Um desses desafios é compreender o valor das plataformas Business-to-Business (B2B).
As plataformas são ecossistemas digitais que facilitam e aceleram o acesso a uma economia de partilha e colaboração. O B2B reflecte os negócios feitos entre várias companhias.
A internet é a plataforma das plataformas, sendo suportada por uma outra plataforma que permite uma navegação fácil e acessível a todos: a World Wide Web (www).
A plataforma das plataformas permitiu o acesso à chamada Cloud. A Cloud disponibiliza, em modo colaborativo através da internet, ‘software’, plataformas de desenvolvimento de ‘software’ e infra-estruturas (“máquinas”), às quais acedemos regularmente a partir de ‘laptops’, ‘desktops’, servidores, telefones ou tablets (e às quais as “coisas” também acedem através da internet das coisas – IoT).
Temos portanto um mundo colaborativo, possibilitado pelas várias plataformas, que se tornou incontornável para tudo o que respeita às Tecnologias de Informação e Comunicação.
No entanto, esta inevitabilidade dos modelos de colaboração ainda não passou para a gestão. Razões para isso há muitas, sempre a juntar à escassez de estudo e à convicção de que o mesmo não é necessário. Entre essas razões há duas bastante comuns: o excessivo foco dos quadros das grandes empresas em assuntos internos a essas empresas; e o culto do secretismo em empresas onde propriedade e gestão estão fusionadas e onde a vida empresarial do dono se confunde com a sua vida privada.
Tanto no primeiro caso como no segundo, os gestores padecem do mesmo problema: “Thinking inside de box”!
Mas voltemos à colaboração. O Waze afirmou-se como uma das melhores plataformas de navegação porque, para além dos automatismos que permitem leituras automáticas da realidade (a tal internet das coisas que permite que vários telemóveis, sinais de trânsito e outros emissores/receptores comuniquem entre si), soube criar uma comunidade que colabora para atingir níveis de informação não acessíveis para gente “desconectada”. Quem tem Waze saberá evitar um engarrafamento rodoviário, porque a comunidade prestou informações, de modo colaborativo, sobre o mesmo, adicionando informação à já proporcionada pelos tais dispositivos interligados. Humanos que colaboram entre si e com máquinas (que por sua vez comunicam entre si) para optimizar decisões (tais como evitar um engarrafamento).
No caso das plataformas que ligam várias empresas vendedoras e compradoras de bens e serviços a um mercado, este tipo de colaboração vai ainda mais longe. Aos dados recolhidos e comunicados (informação), podem-se juntar a análise e recomendações (inteligência) e a experiência e método/ferramentas de execução (transformação).
Um exemplo básico dos benefícios da colaboração dentro de plataformas de prestação de serviços são as avaliações sob a forma de estrelas dadas por utilizadores desses mesmos serviços (exemplo: Uber), o mesmo se aplicando, naturalmente à venda de produtos (exemplo: Amazon).
Poderíamos dar mais exemplos, mas, em resumo, se tivéssemos que lembrar o que perdem os gestores que pensam “inside-the-box”, não utilizando plataformas B2B, diríamos: conhecimento e digitalização.
O conhecimento traduz-se, nomeadamente, em ‘insights’ sobre: i) quem são as melhores e as piores empresas (curadoria), ii) o que estão a fazer as melhores empresas (inovação), iii) oportunidades de negócios (marketplace), e iv) os melhores especialistas de um determinado sector ou domínio de conhecimento (assessoria).
A digitalização traduz-se na capacidade de centralizar em um ‘software’ um conjunto de actividades que gozam dos atributos típicos do mundo digital: instantaneidade, perfeição e gratuitidade:
• Instantaneidade: capacidade de comunicar “online” com todos os participantes…
• Perfeição: … seguindo os melhores ‘standards’ de mercado e conhecimento …
• Gratuitidade: … “all-you-can-eat” para um certo pacote de subscrição ou preço.
Os gestores que pensam “inside-the-box” não conseguem visualizar qualquer problema no mundo pré-Uber: um táxi que queima tempo e combustível enquanto procura um cliente… e um “cliente” que queima tempo à espera que um táxi passe.
Do mesmo modo, estes gestores mais clássicos na sua forma de estar e de pensar não fazem as contas à…
• Falta de instantaneidade: mails, mensagens, viagens, sempre com muita azáfama, para ir recebendo informação de uma série de pessoas e para comunicar informação a uma série de pessoas. É certo que quando existe a necessidade de comprar algo se recorre às velhinhas plataformas de contratação. Mas antes da contratação há um conjunto de informações cruciais para a vida da empresa que podem (e devem) ser igualmente trocadas via plataformas.
• Falta de perfeição: novamente, excepto para os templates das plataformas de compras, raramente se seguem guiões de melhores práticas para, por exemplo, partilhar com potenciais clientes dados sobre a reputação de uma empresa (normalmente veiculada através de apresentações desactualizadas durante reuniões) ou sobre os benefícios concretos de certas ofertas (deixados ao livre arbítrio dos comerciais).
• alta de gratuitidade: os gestores clássicos acabam por ter custos de captação de informação muito mais altos, já que dependem de muitas interacções para obter e partilhar um certo volume de informação.
“Thinking inside de box”? Pode ser… Mas é mais lento, mais caro e não oferece garantias de que sejam seguidas as melhores práticas de mercado.