Sexta-feira, Abril 26, 2024

Acelerar a modernização da economia europeia

Luís Viegas Cardoso, Conselheiro Assuntos Digitais, Presidência Comissão Europeia (I.D.E.A.)

A crise pandémica é uma ótima oportunidade para repensar a modernização da economia europeia, sobretudo quando verificamos a aceleração e intersecção de tendências a médio e longo prazo com um forte impacto na nossa vida quotidiana. Neste processo, várias questões se irão colocar: vamos continuar a liderar a agenda ambiental? Conseguiremos impor os valores e princípios europeus aquando do desenvolvimento de novas tecnologias? Como equilibrar a nossa abertura externa com novas questões de autonomia estratégica? Conseguiremos aumentar a resiliência e competitividade da economia europeia? Não será um processo fácil, mas depende sobretudo de um esforço conjunto dos vários atores públicos e privados.
A transição para uma economia de baixo carbono tem de ser colocada no centro das politicas de modernização pois a sustentabilidade das nossas sociedades não deve ser vista como um sacrifício, mas sim como uma escolha do tipo de comunidade onde queremos viver. A Europa lidera a agenda de desenvolvimento sustentável, estabelece pactos globais do clima e tem 10 das 20 empresas com o mais elevado nível de capitalização bolsista segundo o “New Energy Global Innovation Index”. Esta transformação ambiental tem de ser liderada pelos atores no terreno, pelas empresas quando decidem os investimentos estratégicos que irão realizar ou pelas entidades financeiras que podem catapultar novos projetos verdes.
Ao contrario da área ambiental, a Europa encontra-se manifestamente atrasada na área digital enquanto comparada com grandes potências mundiais. Hoje vivemos uma bipolarização tecnológica, com os EUA e a China a inspirarem uma “guerra fria digital” sobre quem investe mais em Inteligência Artificial, domínio da 5G enquanto infraestrutura tecnológica central ou mesmo na área da computação quântica. Hoje em dia, quem controla os meios tecnológicos tem a capacidade de progressivamente influenciar económica, socialmente e politicamente outros atores. Assim, não é possível que apenas 4% dos dados globais estejam armazenados na UE, apenas 25% de grandes empresas e 10% de PME’s utilizem a análise de dados como estratégia para melhorar os seus negócios e cientistas de dados apenas perfaçam 1% do total de emprego na generalidade dos países europeus.
Percebendo o atraso em que a Europa se encontra, e por forma a aumentar a competitividade da sua economia e liderança global, é fundamental unir esforços e investir em projetos europeus de interesse comum nos setores estratégicos orientados para o futuro, como por exemplo a produção própria de baterias ou microchips. Devemos assim voltar a ser ambiciosos como o fomos aquando do desenvolvimento do sistema europeu de navegação por satélite “Galileu” ou no projeto de criação do “Airbus”. Simultaneamente, a Europa irá alavancar o projeto embrião do Instituto Europeu de Inovação (EIC) desenvolvido e lançado pelo ex-Comissário Europeu, Carlos Moedas, criando agora uma nova agência de inovação de ponta conforme a DARPA nos Estados Unidos. Por fim, nenhum outro continente poderá beneficiar tanto da intersecção entre indústria e tecnologia e, consequentemente, da exploração dos dados industriais, sendo assim urgente alavancar a adoção de novas tecnologias por parte das empresas industriais e de manufatura. A articulação destas três iniciativas pode catapultar a Europa para uma nova vantagem competitiva global.
Além da transformação ecológica e digital, a economia europeia também deve refletir sobre a sua resiliência face a crises dado que a modernização da sua indústria e base tecnológica depende, em grande parte, do acesso confiável a matérias-primas e componentes tecnológicos estrangeiros. Mantendo-se fiel ao seu compromisso de longa data com a abertura de mercado, a livre concorrência e o comércio internacional, a Europa também deve reconhecer e entender melhor as novas dependências e vulnerabilidades que acompanham o progresso económico, social e tecnológico. De facto, altos níveis de dependência nestas áreas levam a um risco de suprimento de matérias-primas essenciais conforme assistimos recentemente na crise pandémica. Neste sentido, importa adotar medidas corretivas que visem aumentar a sua autonomia estratégica, defendendo os valores europeus, mas também promovendo os seus interesses em termos geopolíticos.
Nos próximos sete anos (2021-2027), a Europa terá ao seu dispor um orçamento plurianual de aproximadamente 2 biliões de Euros que investirá numa nova geração de políticas públicas. Só com um forte envolvimento de atores públicos e privados será possível beneficiar desta capacidade orçamental e acelerar a transformação da economia europeia, avançando rapidamente na transição ambiental, digital e aumento da autonomia estratégica. Como disse Winston Churchill, “nunca deveremos desperdiçar uma crise”.

luis.viegas-cardoso@ec.europa.eu

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