Francisco Calheiros, Presidente da Confederação do Turismo de Portugal
Ainda é cedo para conhecermos o real impacto da pandemia SARS-CoV-2 e pela sua doença da COVID-19 no país e no mundo, uma vez que esta se mantém a várias velocidades um pouco por todo o planeta. O que não oferece dúvidas é que os custos serão altos e alguns dos danos irreversíveis. Desde logo no Turismo, que em Portugal apresentou em 2020 quebras de mais de 65% na maioria dos seus indicadores. A atividade económica mais dinâmica e competitiva e com maiores níveis de crescimento no nosso país atravessa uma crise sem precedentes, fragilizando empresas e destruindo postos de trabalho. Acresce a este cenário, os danos de reputação do desempenho de Portugal na terceira vaga da pandemia, no que se refere à imagem do país enquanto destino turístico. Por último, mas não menos importante, é preciso não esquecer que as consequências da quebra do Turismo atingem muitas outras atividades como é o caso da aviação ou as infraestruturas aeroportuárias.
O futuro do Turismo representa, pois, um enorme desafio e simultaneamente uma responsabilidade que deve ser assumida por todos os seus agentes: líderes, decisores, movimentos associativos, profissionais do setor e cidadãos. O esforço para uma retoma rápida mas sustentável terá de ser coletivo. Há sinais positivos como a vacina, desenvolvida em tempo recorde ainda que com muitas deficiências na sua distribuição, ou o certificado verde digital, que permitirá a quem já foi vacinado ou tenha recuperado da COVID-19 que possa circular com menos restrições. Da parte do Governo, algumas medidas importantes foram tomadas como as prorrogações do “Apoio à Retoma Progressiva”, o alargamento do ‘lay off’ simplificado, o apoio simplificado às microempresas e o alargamento de programas como o “Apoiar Rendas” e “Apoiar + Simples”.
Infelizmente, falta uma visão estratégica para o futuro da atividade. Falta um Plano de Recuperação do Turismo Português a integrar no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e em articulação com outros instrumentos europeus de apoio às empresas. Não é admissível que a atividade mais dinâmica, competitiva e geradora de riqueza e emprego para a economia nacional tenha sido simplesmente excluída das opções estratégicas do Governo para os próximos anos.
Bem sabemos que os empresários do Turismo, mais do que habituados a enfrentar adversidades, estão mobilizados para vencer mais esta batalha. Mas mais de 12 meses ininterruptos de ausência quase total de proveitos que decorrem de uma quebra de procura inimaginável deixam sequelas profundas, que exigem do Governo, o atual e os próximos, uma posição forte na defesa da atividade que representa mais de 14% do PIB e um emprego direto na ordem das 450 mil pessoas, se contemplarmos só as atividades produtivas do alojamento, restauração e agências de viagens e turismo.
O Turismo está em condições de reconquistar o lugar que lhe pertence por direito na economia nacional e no desenvolvimento do país. Os empresários e os trabalhadores estão prontos e decididos a vencer (mais) esta batalha. Assim haja vontade política para estar ao nosso lado. Nós estaremos sempre ao lado de Portugal.
(Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)