Domingo, Maio 5, 2024

2020: Desafios e incógnitas | 2020: Challenges and unknowns

Pedro Reis
Pedro ReisHead of Corporate Business Development Millennium bcp

Parece estar claro para (pelo menos quase) todos que o ano de 2020 a nível mundial será um ano particularmente exigente e carregado de desafios: uns mais de carácter global, outros mais de carácter local. Uns mais de carácter geopolítico ou climático ou ainda social, outros mais de carácter económico e financeiro. Para se ter presente a matriz de riscos associados a esta perspetiva geral, nada como tentar elencar os principais focos de interrogação e de pressão começando por exemplos mais sistémicos e estruturais e passando depois a alguns casos mais pontuais e conjunturais.

A nível mais global, o primeiro grupo de desafios com que vamos continuar a ser confrontados em 2020 são os que se prendem com a temática do Ambiente e da Sustentabilidade: da escassez crescente de recursos à poluição espalhada pelos mais variados e recônditos ecossistemas, da falta de água às tempestades extremas, todos fatores preocupantes e em contagem descendente para a perda de controlo de forma preocupante.

Quanto às questões demográficas, é também expectável que continuemos a ter de lidar a nível mundial com o drama crescente das migrações e a sua conjugação, muitas vezes abusiva, com a vertente securitária nos países de destino; face ao inverno demográfico europeu ter-se-á assim de continuar à procura do fecho equilibrado da equação intergeracional que concilie a sustentabilidade dos sistemas de segurança social com o alívio da exaustão da carga fiscal que recai sobre as classes médias.

Um terceiro ponto que levanta profundas interrogações a nível mundial tem a ver com as bases do modelo social e económico a que nos habituámos nestas últimas décadas e que estão agora debaixo de escrutínio quando não mesmo de fogo: da segurança alimentar às epidemias globais, do modelo de financiamento das entidades públicas aos níveis de serviço dos prestadores públicos exigidos pelos cidadãos, da emergência da inteligência artificial e da robotização à nova configuração do modelo de trabalho, da própria matriz de formação e educação a novos trajetos de carreira que tal revolução implica.

Passando a três frentes mais conjunturais de desafios com que seremos confrontados em 2020, e começando pelos focos de tensão geopolíticos, não se pode deixar de acompanhar com atenção quais serão os desenvolvimentos ou desfechos de temas como as eleições norte americanas, o Brexit, a crise na Catalunha, a situação na Venezuela, a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, as negociações entre aquele e a Coreia do Norte e o Irão, a situação na Síria e na Turquia, o caminho da estabilização no Brasil e da recuperação em África, entre múltiplos outros focos de instabilidade que urge reduzir ou esvaziar.

Na frente económico financeira, de igual modo, se poderiam elencar alguns alertas mais óbvios: os sinais de abrandamento económico bastante espalhados e sincronizados, os riscos de deflação, o excesso de dívida pública e privada que amarram a recuperação pelo lado da procura condicionando por sua vez o retomar do investimento, a sustentabilidade do modelo de negócio bancário face à desregulação diferenciada dos novos agentes e a um ‘legacy’ ainda muito pesado, os desafios de complexidade crescente ao nível da cibersegurança e ainda o advento positivo e disruptivo da digitalização.

Por fim será interessante de observar como se afirma a relativamente recente realidade do “impact investing” que procura assegurar a conjugação virtuosa de “profits with purpose” permitindo assim conciliar rentabilidade financeira e económica com sustentabilidade social e o bem estar das comunidades; fenómeno que, se bem conseguido, poderá fazer finalmente convergir a economia de mercado com a consciência social e a sustentabilidade ambiental.

Felizmente temos, quando fazemos um certo ‘zoom out’ do próximo ano, aspetos muito importantes e positivos a considerar como sejam a consolidação de muitas democracias a nível mundial, a integração de cada vez mais economias no âmbito do comércio global, a inovação acelerada proporcionada por I&D cada vez mais abrangente e surpreendente, o aumento da luta mundial pela transparência, a globalização do investimento, o reforço das classes médias a nível planetário, a saída de milhões de pessoas do limiar da pobreza, a garantia de um Estado Social e da aplicação dos Direitos Humanos Universais para cada vez mais gente no planeta, avanços científicos que asseguram cada vez melhor nível de vida e de saúde até mais tarde, fontes de energia limpa cada vez mais disseminadas e, acima de tudo, o aumentar do nível de consciência global quanto à necessidade urgente de se agir com determinação e coragem em prol da defesa do nosso Planeta como um todo.

Como sempre, estou convencido que um fator determinante para atravessar e fechar bem 2020 será mais uma vez a qualidade, a consistência e a credibilidade das lideranças: até porque o mundo está cada vez mais atento e cada vez mais exigente: face aos desafios globais está na hora de encontrar soluções globais.

It seems clear to (almost) everyone that 2020 will be a particularly demanding and challenging year worldwide: some of these challenges are rather global, others more local in nature. Some will be more geopolitical or climatic or even social in nature, others rather economic and financial. And in order to get a clearer idea of the risk matrix associated with this general perspective, there is nothing like trying to list the main questions and pressures starting with more systemic and structural examples, moving then to more one-off and conjuncture cases.

More globally, the first set of challenges we will continue to face in 2020 relates to the both the Environment and Sustainability: from the growing scarcity of resources to the pollution spread through the most varied and distant ecosystems, from the lack water to extreme storms, all this downward factors point to a worryingly loss of control.

With regard to demographic issues, we will probably have to deal at world level with the growing drama of migration and its often abusive combination with the security dimension particularly in destination countries; in light if the European demographic winter, we will therefore have to seek a balance and come up with an intergenerational equation that reconciles the sustainability of social security systems with the relief of the heavy tax burden on the middle classes.

A third point that raises profound questions worldwide relates to the foundations of the social and economic model we have become accustomed to in recent decades and which are now under scrutiny and often even under fire: from food security to global epidemics, from the financing model of public entities to the service levels of public providers required by citizens, from the emergence of artificial intelligence and robotisation to the new configuration of the workforce model, from the training and education matrix to new career paths that such a revolution entails.

Turning to three more cyclical fronts of challenges that we will face in 2020, and starting with the geopolitical hotspots of tension, one cannot help but carefully monitor the developments or outcomes of major issues such as the US elections, the Brexit, the crisis in Catalonia, the situation in Venezuela, the trade war between the United States and China, the negotiations between these and North Korea and Iran, the situation in Syria and Turkey, the road to stabilisation in Brazil and the recovery in Africa, among many other sources of instability that need to be reduced or solved.

On the financial economic front, similarly we could issue more obvious warnings signs: the signs of widespread and synchronised economic slowdown, the risks of deflation, the excess of public and private debt that tie demand-side recovery, conditioning once again the resumption of investment, the sustainability of the banking business model in view of the differentiated deregulation of new agents and the still heavy legacy, the challenges of increasing complexity in cybersecurity and the positive and disruptive advent of digitisation.

Finally, it’s worth mentioning the relatively recent reality of “impact investing” that seeks to ensure the virtuous combination of profits with purpose, thus allowing to reconcile financial and economic profitability with social sustainability and the well-being of communities; If this is successful, it can finally bring the market economy and social awareness and environmental sustainability together.

Fortunately, when doing a certain ‘zoom out’ next year, we will have very important and positive aspects to consider, such as the consolidation of many democracies worldwide, the integration of ever more economies into global trade, the accelerated innovation enabled by ever more comprehensive and startling R&D, the growing global struggle for transparency, the globalisation of investment, the strengthening of the middle classes at the planetary level, the lifting of millions of people from the poverty line, the guarantee of a welfare state and application of Universal Human Rights to more and more people on the planet, scientific advances that ensure better living standards and health until a later age, increasingly widespread sources of clean energy and, above all, the rising level of consciousness as to the urgent need to act with determination and courage to defend our planet as a whole.

As always, I am convinced that a key factor to cross and close 2020 well will once again be the quality, consistency and credibility of leaders: because the world is increasingly aware and increasingly demanding: in light of the global challenges it’s time to find global solutions.

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