Begoña Lucena, Artemis Associates
Bowen Chui, Artemis Associates
Empresas internacionais em “Indústrias emergentes estratégicas” podem ser as grandes beneficiárias
Em plena pandemia de COVID-19 e no rescaldo da campanha eleitoral dos EUA, a China anunciou no mês passado a proposta do país, o seu 14º Plano Quinquenal (2021-2025) para o Desenvolvimento Económico e Social do País e os seus Objetivos a Longo Prazo até 2035 que, surpreendentemente, foram manchete em poucos meios de comunicação social no mês passado. Vamos ter de esperar até à assembleia geral do Congresso Nacional do Povo, que terá lugar em março, para conhecer a versão final da proposta, uma vez que a mesma pode vir a sofrer alguns ajustamentos. Mas os ministérios terão começado já a desenvolver planos de implementação pormenorizados com base na redação atual.
Não há dúvida de que o presidente Xi Jinping é o cérebro por trás dessa política que determina metas para o país, não só para os próximos cinco anos, mas até 2035. No seu discurso de 3 de novembro, Xi explicou o que estava por trás desta proposta. O chefe de governo sublinhou que “a China está a enfrentar riscos previsíveis e imprevisíveis importantes e crescentes”, “e que o Partido deve estabelecer assim um pensamento orientador, analisar profundamente as dificuldades, atentar mais profundamente nos riscos, concentrar-se em colmatar lacunas e reforçar os pontos fracos.” E acrescentou ainda: “o Partido deve manter uma mente aberta, tendo em conta que o mundo enfrenta atualmente as mais profundas mudanças do século”.
Embora a China seja uma das primeiras economias que começam agora a recuperar da pandemia de COVID-19, enfrenta no entanto muitas incertezas a nível interno e externo, incluindo uma recessão global, quebra de vínculos com uma série de grandes economias e uma guerra comercial com os Estados Unidos. Para enfrentar esses desafios, o Partido traçou uma estratégia que visa assegurar uma posição vantajosa no cenário global nos próximos cinco a quinze anos.
Embora o plano não avance com detalhes quanto à forma como o governo deve implementar a sua estratégia relativamente aos investidores estrangeiros, o documento inclui muitos termos familiares tais como “promover a liberalização do comércio e do investimento”, “desenvolver um sistema de pagamentos independente, moeda digital”, “liberalizar ainda mais as taxas de juros e as taxas de câmbio” e “impulsionar continuamente a internacionalização da moeda do país, o RMB”. As perspetivas de investimento estrangeiro na China continuam a ser positivas, e essas são as áreas em que os investidores e empresas estrangeiros devem concentrar-se, atentos a possíveis mudanças de políticas.
Em suma, o desenvolvimento da China entrou num novo estágio, passando de uma abordagem quantitativa para uma abordagem qualitativa. Aquando da divulgação do 14º Plano Quinquenal, no início de novembro, o Partido não referiu nenhuma meta quantitativa para o crescimento do PIB da China, referindo o “desenvolvimento económico sustentável e saudável”. Rumores de mercado sugerem também que o crescimento do PIB da China no âmbito do 14º Plano Quinquenal será reduzido significativamente para cerca de 5%, face a 7- 8% anteriormente. Isso demonstra também a forma como a China está a adotar uma abordagem diferente, perseguindo agora um crescimento sustentável e de alta qualidade.
Para conseguir isso, a “circulação dupla” com o mercado doméstico como o foco principal será crucial, ao mesmo tempo que continua a centrar–se em acelerar o desenvolvimento de indústrias inovadoras líderes a nível mundial, como é o caso das aplicações para a rede 5G, biotecnologia, novas tecnologias energéticas e negócios digitais criativos. As empresas internacionais de “indústrias emergentes estratégicas” serão bem-vindas para investir na China e prevemos assim rentabilidades significativas.