Quarta-feira, Maio 8, 2024

Viagem pelo império de Mário Ferreira

Entrevista Mário Ferreira, Pluris Investments

Sofia Rainho

Os barcos são a verdadeira paixão e imagem de marca do empresário do norte Mário Ferreira. Mas os negócios da sua ‘holding’ Pluris Investments vão muito mais além. Dos hóteis aos helicópteros, ao ramo imobiliário e aos comboios turísticos na Linha do Tua, passando por variadíssimas áreas como os seguros, a educação ou a agricultura e a tecnologia. O mais recente e um dos mais mediáticos foi a compra da Media Capital e da TVI.

Tua Rabelo

World Explorer

Vasco da Gama

Vista Douro

Por mais voltas que a sua vida dê, quase tudo em que Mário Ferreira se envolve vai dar ao mar e aos navios. Do negócio de cruzeiros no Rio Douro, aos hotéis e até passando pelo projecto dos comboios turísticos na Linha do Tua o elemento água está muitas vezes presente na vida do empresário.

Os barcos e a empresa Douro azul são a sua imagem de marca, mas a sua actividade e os projectos em que está envolvido vão muito além mar. Do turismo, ao imobiliário e aos transportes, Mário Ferreira começou muito jovem a construir um império que continua a crescer e que hoje já conta com mais de 40 empresas. O sentido de oportunidade e o instinto predador do empresário têm ditado uma grande parte do sucesso que foi consolidando nos seus negócios ao longo dos anos.

“Irrequieto, inconformado e sempre com muita vontade de fazer coisas”, nas palavras do próprio, Mário Ferreira já participou no Rally Lisboa-Dakar em 2007 e correu a maratona de Londres em 2010. Participou na versão portuguesa do programa americano “Shark Tank”, integrando o painel de investidores, e recebeu dezenas de prémios e condecorações.

“Já trabalho há tantos e há tanto tempo que felizmente já não trabalho para ganhar mais dinheiro, trabalho pelo que me move, porque gosto de ver a obra feita, pelo gozo que me dá pegar num projecto e mostrar que é possível do princípio ao fim”, afirma Mário Ferreira.

Começou a comprar navios antigos e a recuperá-los. Mas, hoje, quando se trata de navios prefere construí-los de raíz. Já com os hotéis prefere o desafio de pegar em edifícios velhos e recuperá-
-los. “Reabilitar navios dá muito trabalho e o investimento não é tão rentável, porque têm um desgaste e morrem. Os edifícios com 200 ou 300 anos são eternos”, explica.

World Explorer

World Explorer

A ligação ao mar e as várias voltas ao mundo

Mário Ferreira nasceu em Matosinhos, numa família de quatro irmãos, e desde muito cedo começou a sentir o fascínio pelo mar ali tão perto. O pai trabalhava nos portos do Douro e de Leixões e Mário desde cedo se habituou a ouvir de sua casa as sirenes das entradas e saídas dos navios. Mas também as visitas a navios emblemáticos ainda em criança, na companhia do pai, ajudaram a despertar e aprofundar esse gosto pelas embarcações. “Quando a Sagres ia a Leixões nós íamos visitar. No Dia da Marinha também se podia sempre ir visitar um navio patrulha ou um submarino daqueles muito antigos… eu gostava muito de ir visitar. E também havia as embarcações–biblioteca, que andavam por todo o mundo, e todos os anos vinham a Portugal e eu estava sempre na frente da fila para ir a esses navios quando vinham ao porto de Leixões”, recorda.

Sempre gostou muito de construir coisas e em criança sonhava ser piloto de aviões ou engenheiro civil, “queria construir casas”, conta para logo acrescentar “agora construo mas é mais navios”.

O empreendedorismo sempre lhe esteve no sangue. “Quando era muito novo o meu pai ofereceu-me uma câmara fotográfica muito interessante, com várias tele-objectivas e eu sempre gostei de fotografia desde muito pequenino. Comecei a ter jeito e os meus tios convidavam-me para ir fotografar tudo o que eram festas de família, baptizados, aniversários… até que um dos meus melhores amigos do liceu casou e eu vim de londres nas minhas férias de Verão, já estava a trabalhar lá, e fui o fotógrafo oficial do casamento. Foi muito engraçado”, conta Mário Ferreira.

A fotografia é ainda hoje uma das suas paixões e levou-o anos mais tarde a comprar a Foto Beleza e criar o maior espólio de fotografias de Portugal – o Espólio Fotográfico Português.

Foi o desejo de conhecer o mundo que o levou a partir sozinho aos 16 rumo a Inglaterra, contra a vontade do pai que não gostou de ver o filho interromper os estudos. Começou a trabalhar em Londres num restaurante, a servir à mesa, e aos 19 já geria um restaurante italiano perto de King´s Road. Foi graças a um dos clientes habituais desse espaço que aos 20 anos embarcou no Vistafjord, da Cunard – uma das maiores empresas de cruzeiros do mundo – para dar a sua primeira volta ao mundo. “Era uma grande vontade que eu tinha, dar a volta ao mundo a trabalhar. E foi uma experiência de vida memorável aos 20 anos fazer essa primeira circum-navegação, que me meteu até hoje o vício dos cruzeiros e dos navios”, recorda Mário Ferreira. Entre as memórias que ficaram desses tempos estão muitas pessoas que conheceu na altura – o Vistafjord era um navio de cruzeiros de luxo e muitos dos seus passageiros frequentes eram reis e ex-reis, presidentes e ex-presidentes, ministros e ex-ministros – e lugares que visitou nos quatro cantos do mundo. “Há 33 anos fazer uma volta ao mundo era uma coisa muito diferente do que seria hoje”, recorda sem esconder alguma saudade e explicando que na altura o desafio era “coleccionar os grandes portos”. “Na altura havia os sete magníficos, eram os portos mais emblemáticos, que quem trabalhava nos navios queria ter. Entrar em Nova Iorque e ver a Estátua da Liberdade era uma coisa espetacular, o Rio de Janeiro também era um dos grandes, assim como Sydney e Hong Kong, São Francisco e passar a Golden Bridge, Londres e entrar no Tamisa até à Tower Bridge e Lisboa”, recorda Mário Ferreira. Nos cinco anos que se seguiram foram várias as voltas ao mundo que deu e sempre a bordo do mesmo navio. Chegou mesmo a atingir o record de 14 meses seguidos a viajar e trabalhar sem um único dia de férias ou folgas. Ainda hoje, a trabalhar – pelo lado do negócio principal a que se dedica – ou em lazer a ligação aos cruzeiros mantém-se. Em família continua a fazer dois cruzeiros por ano, a que se juntam ainda outros na companhia de amigos.

Algumas das boas memórias e experiências que ainda guarda desses 5 anos que passou a bordo de um navio, são os mais variados cursos que tirou com grandes especialistas internacionais. Desde logo, os vários cursos de fotografia que pode tirar com alguns dos melhores fotógrafos do mundo na altura, que eram convidados para dar palestras aos passageiros. E outros tão diferentes como gemalogia (ver e classificar as pedras preciosas) ou ‘cooking shows’ (aprendeu a confeccionar especialidades italianas, francesas e outras).

The Lodge Wine and Business Hotel, Gaia

Como peixe na água

Comprou o primeiro barco em 1993, aos 25 anos. “Era uma coisa pequenina, era um cacilheiro velho cujo destino era o abate e foi vendido muito barato pela Transtejo. Limpámos e refizemos o interior com um ‘design’ muito interessante com a ajuda de um amigo norueguês arquiteto naval de interiores, conseguimos ter o barco mais luxuoso da altura a navegar no rio Douro”, conta. O navio de passeio com restaurante que levava 120 pessoas, e foi o primeiro da frota da Douro Azul, ganhou o nome de Vista Douro, em homenagem ao navio onde navegou durante 5 anos, o Vistafjord.

A Douro Azul foi, entretanto, crescendo, continuando a comprar navios e aos poucos deixando os navios de passeio diário e especializando-se nos navios de cruzeiro hotel.

Em 2004 lançaram o primeiro projecto de construção de um navio hotel em Portugal, com os estaleiros de Viana. Desde então construíram mais de 15 novos navios grandes que permitiram reinventar a forma de construção naval portuguesa.

Do Rio Douro expandiu-se para a Europa central. Há cerca de 5 anos a Douro Azul comprou a Nicko Cruises – uma das maiores empresas de cruzeiros de rio na Alemanha, e quatro vezes maior que a Douro Azul. Com 20 navios a operar em vários rios como o Nilo, o Danúbio, Reno, Mecong e Yangtze, na China, a empresa foi um salto na estratégia de internacionalização da Douro Azul que tardava a acontecer. “As pessoas questionam-se como foi possível comprarmos uma empresa quatro vezes maior que a Douro Azul, sem hipotecar tudo”, diz o empresário.

Desde então a empresa de Mário Ferreira também começou a apostar nos cruzeiros de mar. “Era uma vontade que sempre tivemos, ter também os pequenos paquetes de mar”, conta o empresário.

Hoje tem cerca de 50 barcos de rio – espalhados pelo Rio Douro e por outros rios europeus – a que se juntam as embarcações de expedição de mar. O World Explorer foi o primeiro e mais tarde juntaram-se-lhe o Voyager e o Navigator, que vai inaugurar agora em Junho. Da frota faz ainda parte o Vasco da Gama, o maior navio de cruzeiros de bandeira portuguesa que alguma vez esteve registado em Portugal, que pode levar até 1200 passageiros.

À paixão pelos navios e ao negócio dos cruzeiros juntam-se muitos outros projetos que a empresa de Mário Ferreira abraça actualmente. A Pluris Investments, antiga Mystic Invest, é a ‘holding’ de que é proprietário juntamente com a sua, Paula Paz Dias, e tem 42 empresas lá dentro – com sectores tão variados como o ramo imobiliário, a agricultura, educação, seguros, media, tecnologia, capital de risco com o nome Shark Tank (cujo nome vem da sua participação no programa televisivo sharktank em 2015).

A sede operacional está localizada no Porto, num edifício junto à Alfândega, que alberga mais de 150 funcionários de várias nacionalidades – além de portugueses junta austríacos, alemães, franceses, americanos… “o ‘expertise’ mundial é necessário e obriga-nos a requisitar pessoas de fora mais especializadas nestas áreas”, conta o empresário.

Mário Ferreira

Os hotéis e o desafio de reabilitar velhos edíficios

Ao contrário dos navios, que são uma paixão assumida, os hotéis entraram sempre na vida de Mário Ferreira pela oportunidade de negócio e pelo desafio de pegar em edifícios velhos e transformá-los. “Uma das coisas que me dá mais gozo é recuperar e reabilitar edifícios. Pegar num edifício muito velho, pelo qual já ninguém dá nada, e transformá-lo completamente”, relata com entusiasmo indisfarçável.

O primeiro hotel surgiu em 1998, quando Mário Ferreira recuperou o Solar da Rede, nas margens do Rio Douro, e também ele surgiu a reboque dos navios. “Nessa altura não tínhamos ainda muita capacidade para quartos a bordo e por isso precisávamos de ter quartos de qualidade em terra e fizemos a reabilitação de um solar velho muito antigo, de 1760, e muito bonito localizado nas encostas do Douro. Criámos a Pousada do Solar da Rede, foi o primeiro ‘franchising’ negociado com as Pousadas de Portugal, de quem estava a cargo a gestão”.

Mais tarde, em 2002, comprou à Taylor´s Port Wine o Hotel Vintage House no Pinhão. Ambos os hotéis já foram vendidos, mas Mário Ferreira não abandonou o negócio da hotelaria.

E uma das obras de que ainda hoje mais se orgulha é o Monumental Palace Hotel. Mário Ferreira comprou “um edifício muito antigo e muito bonito na Avenida dos Aliados, o Monumental, que esteve fechado durante 20 anos, completamente devoluto e com tudo partido”, conta. O edifício com 100 anos foi todo reabilitado pelo empresário e hoje é um dos hotéis mais emblemáticos do país, que, entretanto, foi vendido a uma cadeia francesa.

Mais recentemente, e já em plena pandemia covid 19, ficou concluída a obra do The Lodge Wine and Businness Hotel, em Gaia. Com uma localização privilegiada quase todos os quartos têm varandas viradas para a Ribeira do Porto, este é o único hotel que está actualmente na posse do empresário e deverá abir em pleno a partir de 1 de Maio.

Ainda no sector do Turismo e da Hotelaria, a empresa de Mário é também proprietária de dois edifícios com 13 apartamentos turísticos de alto luxo na Rua do Almada.

Comboio turístico na Linha do Tua

Comboio Turístico na Linha do Tua pronto a arrancar

Outro procjeto de Mário Ferreira que já está em marcha há alguns anos são os comboios turísticos na linha do Tua. Os investimentos estão feitos e o comboio a postos, mas o processo tem vindo a arrastar-se e têm sido muitos os obstáculos burocráticos com que se tem deparado. “Está a andar, mas está a andar devagar, ao ritmo do comboio a carvão”, conta o empresário entre risos.

A ideia é disponibilizar um comboio turístico – um comboio de baixa velocidade que foi construído em inglaterra – e recuperar as duas automotoras antigas que circulavam na Linha do Tua para oferecer um serviço de transportes misto destinado ao turismo e também à população local.

O comboio turístico da Linha do Tua está pensado como “um projecto âncora” que também envolve um barco rebelo com uma capacidade até 120 pessoas e a ideia é conciliar um passeio de barco com um passeio de comboio. Para isso, explica o empresário, “todo o rio terá de ter uma programação capaz de atrair escolas, turismo sénior, turismo de grupo…”.

A empresa de Mário Ferreira disponibiliza ainda um conjunto de pequenas embarcações familiares para passear na albufeira, bem como uns barcos elétricos redondos, com capacidade até 8 pessoas. A bordo destes pequenos barcos eléctricos, com um grelhador no meio, as famílias podem passear à volta do cais e fazer um piquenique na Albufeira do Tua, já com o aluguer de 2 ou 3 horas é disponibilizado um piquenique “basket”. “Podem passear e depois ancorar e grelhar ali a sua alheira de mirandela e o seu chouriço e acompanhar com pão”, exemplifica.

Apesar de todo o potencial e de ter tudo a postos, Mário Ferreira adianta que hoje falta “a mesma coisa que faltava há 3 anos”. Mas o empresário acredita que hoje há a vontade por parte dos autarcas envolvidos em pôr as coisas finalmente a funcionar. “Está tudo pronto, agora é só deixarem-nos trabalhar”, pede Mário Ferreira acrescentando que “se avançar muito bem, senão também já não vamos perder muito mais tempo com aquillo”.

Aos navios, aos hotéis e ao projecto do comboio turístico na Linha do Tua, junta-se ainda a Helitours, empresa de helicópetros criada em 2000, e que opera vôos turísticos no Porto e no Douro, e a empresa de turismo espacial A Caminho das Estrelas, fundada em 2007 e depois de Mário Ferreira ter sido o primeiro português a comprar o bilhete para uma viagem até ao espaço com a Virgin Galactic. A empresa resulta da parceira com a Virgin Galacttic e da amizade com Ricahrd Branson e dedica-se à comercialização de voos orbitais e experiências de gravidade zero.

A Bluebus City Sightseing, uma empresa com uma frota de 10 autocarros turísticos a operar no Porto desde 2012 é ainda outro dos projetos de Mário Ferreira. Tal como o World of Discoveries, um Museu Interativo e Parque Temático, no Porto, dedicado aos Descobrimentos portugueses.

Em Maio de 2020 mergulhou na sua mais recente investida e aventurou-se nos media, com a compra de 30,22% da Media Capital, detentora da TVI, entre outras publlicações.

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