Quarta-feira, Maio 8, 2024

Ser Marca em tempos de “Economia de (Re)Aproximação”

Rui Dias Alves, CEO Return on Ideas

Na 2ª feira dia 1 de Junho entrámos (quase todos) na chamada 3ª Fase de Desconfinamento. Com o “sucesso” proclamado das duas Fases anteriores, somos interpelados a confiar, a perder os receios e – prudentemente, respeitando o reportório de um sem fim de recomendações –, a “voltar ao mundo lá fora”!

Dizem-nos que temos que começar a vencer o medo. Mas, se é verdade que este chegou por Decreto, não é garantido que, por Decreto, no-lo tirem do espírito.

Fomos, durante longas semanas, industriados, quase amestrados, no grande desígnio de “ter medo do COVID”. Foi o medo (eventualmente não poderia ter sido outra coisa) que nos confinou a caminho da tentativa de aplanar a curva, de salvar o SNS do colapso, de evitar mortes – as decorrentes da pandemia, não as outras. E assim, o medo, mais depressa que o vírus, pode ter-se tornado endémico.

Infelizmente, quando como sociedade abandonamos os nossos refúgios, não é este o único medo que nos tolda. Vivemos uma estranha confluência de medos que se exponenciam. Ao medo Sanitário junta-se, em passo acelerado, o medo de uma Economia em Crise, de uma Economia de Crise – um medo de que ainda temos memórias demasiado frescas. 

Este medo não é, infelizmente, eliminado por Decreto. A austeridade existe, ponto! Pode ser mitigada, é verdade, mas não é uma mera opção política. Não é uma escolha que possamos, ainda, fazer.    

Como seremos enquanto “Sociedade”, “Economia” e “Vidas” quando um medo, o sanitário, nos agarra, com correntes, ao presente e outro, o da perda de rendimento e do desemprego, nos tira o futuro?

Como seremos quando a algoritmia destes medos adensar assimetrias (geracionais, de empregabilidade, regionais) e expuser fragilidades escondidas? Como seremos numa crise em que, ao contrário da última, não temos horizontes de fuga?

A construção do futuro precisa de Novos Marcadores, num processo que não pode ser feito de conferências de imprensa quotidianas. Exige-se um novo ‘casting’ de “Autoridades” não autoritáriazinhas.

Temos que, rapidamente, passar de tempos de “Economia da Obediência” para uma fase de “Economia da (re)Aproximação”.   

Temos que nos (re)Aproximar de normais possíveis, de quotidianos que façam economia, em que o trabalho crie valor e sociabilização, em que o consumo suporte empregos, em que o ir à escola faça crescer, em que o voltar aos hospitais evite que retrocedamos na conquista de esperanças de vida mais longas, em que a entreajuda das famílias tenha espaço físico para existir, em que o espaço público seja palco de vidas. 

Precisamos, como sugere o Prémio Nobel Robert Shiller, de narrativas que façam a economia: “Aprenda-se com o vírus”, diz ele, “perceba-se que as narrativas são como eles, disseminam-se!”

Precisamos, por maioria de razão, de quem, com propriedade, crie essas narrativas, as comunique e mobilize, de modo a que funcionem como “Marcadores” para sociedades que, “feridas” pela Pandemia, precisam de referências, de coreografias securitárias (como são as máscaras, ou o gel, o distanciamento social e os seus percursos assinalados no chão), de lógicas objectivas de nexo causalidade.   

Precisamos de “Marcas”, de grandes organizações, do seu poder de, efectivamente, “fazer sociedade”. Nos 45 anos de democracia Portuguesa terão sido as “Marcas”, mais do que outras instituições, quem de forma abrangente ajudou a construir uma melhor sociedade, com mais liberdade, com mais escolhas, com mais saúde, com mais literacia financeira, mais inovação, preocupada com a sustentabilidade, mais solidária e socialmente responsável.

Às “Marcas”, às grandes empresas e organizações, é exigido que se cheguem à frente, assumindo-se como esses marcadores e demonstradores de futuros possíveis, com as suas múltiplas reaproximações, em que as pessoas se reencontrem, em que procuras e ofertas se realinhem.

Serão as “Marcas”, mais do que o Código do Trabalho a acelerar a transição para um mundo com mais teletrabalho (real teletrabalho). Serão as Marcas, mais do que a Lei de Bases da Saúde, a acelerar a transição para uma Telemedicina que leve a saúde mais longe. Serão as Marcas, mais do que os Programas Escolares, a fazer com que uma renascida “Tele-Escola” possa ser o embrião de um ensino remoto que democratize o saber e o apender e que, a ‘pari-passu’, potencie a escola na sua dimensão física e de interacção social. Serão as “Marcas” a (re)criar os empregos que ora se perderão.

Serão as “Marcas” na sua actuação (e não os Comunicados da DGS) que nos farão sentir seguros a jantar num restaurante, bonitos a experimentar uma peça de roupa numa loja de centro comercial, despreocupadamente transpirados a fazer exercício num ginásio. 

Mais do que nunca, às “Marcas” pede-se que “Existam” e que façam da sua inovação, em tempos de economia transitória, e da sua resiliência, a melhor forma de contar uma história: a de que, em conjunto, todos, como Sociedade, podemos (re)aproximar-nos de um futuro, certamente diferente do passado, que mais do que ser um Novo Normal (nota pessoal: detesto esta ideia) poderá ser, terá que ser, um futuro de mais possibilidades e de mais liberdades.

O que perdemos com a Pandemia, possibilidades e liberdades, será aquilo que teremos de lutar por recuperar o mais rapidamente possível.

O período de transição que vivemos terá de ser um catalisador que nos projecte para uma melhor configuração de “Sociedade”, de “Economia” e de “Vidas”.

Criemos o Futuro! 

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