Segunda-feira, Maio 6, 2024

Mais do que nunca, comprar português é fundamental

Vítor Silva

Numa qualquer visita a uma grande superfície comercial, os consumidores nacionais deparam-se, sem grande dificuldade, com uma panóplia de produtos internacionais, nomeadamente da área agroalimentar, muitas das vezes com preços inferiores aos ‘made in Portugal’ (uma diferença explicada na maior parte dos casos pela escala de grandes produtores internacionais em comparação com os pequenos produtores nacionais). Desde as frutas, até aos legumes, passando pelas carnes e lacticínios, os produtos estrangeiros estão em força nas grandes superfícies (numas mais do que noutras, também é verdade), ocupando grande parte do espaço disponível nas prateleiras e, em muitos casos, os melhores espaços. Sendo que na maior parte dos casos o consumidor desconhece mesmo a origem do produto que está a comprar, já que nem o número 560 no início do código de barras é garantia de que o produto tem origem em Portugal. Assim, só mesmo a opção das grandes superfícies por produtos nacionais pode garantir que os consumidores levam para casa alimentos cultivados ou produzidos em Portugal.

Dados do Instituto Nacional de Estatística, revelam que em 2019 as importações agroalimentares registaram um acréscimo de 2,1%, passando de 10,6 para 10,8 mil milhões de euros, muito superiores às nossas exportações neste sector, que se cifraram nos 7,1 mil milhões de euros, agravando o défice da nossa balança comercial agroalimentar.

Só mesmo a opção das grandes superfícies por produtos nacionais pode garantir que os consumidores levam para casa alimentos cultivados ou produzidos em Portugal.

Mas será que a laranja espanhola é melhor do que a do Algarve? Ou que, independentemente da origem, alguma pêra supera a Pêra Rocha? Ou algum tipo de maçã é superior à Maçã de Alcobaça? E não estamos apenas a falar de frutas e legumes, mas também de carne (seja de frango ou de vaca, por exemplo), de peixe e de lacticínios. É inquestionável a qualidade do produto português, mas, por muitas vezes, esta é superada pela quantidade e pelo preço conseguido pelos grandes produtores internacionais.

E se é verdade que existem áreas em que Portugal não é autosuficiente (o tradicional bacalhau, por exemplo), existem diversos casos onde o é, pelo que a aposta dos distribuidores deveria ser na compra de produto nacional, permitindo que a escolha dos consumidores recaia sobre a oferta nacional. Por um lado, esta opção teria um efeito macroeconómico significativo, permitindo equilibrar, ou até alterar, o sentido da balança comercial deste sector. Por outro, a nível microeconómico, poderia salvar da falência e do desemprego milhares de portugueses.

Se é verdade que existem áreas em que Portugal não é autosuficiente (o tradicional bacalhau, por exemplo), existem diversos casos onde o é, pelo que a aposta dos distribuidores deveria ser na compra de produto nacional, permitindo que a escolha dos consumidores recaia sobre a oferta nacional.

Basta recordar que durante os últimos dois meses milhares de pequenos produtores nacionais, sem capacidade de exportação e sem poder recorrer ao canal Horeca, já que o mercado da restauração e da hotelaria esteve praticamente encerrado, tinham nas grandes superfícies (e nalguns casos a venda directa ao comércio local) a sua única fonte para escoar a produção. Durante este período, infelizmente, toneladas de fruta, legumes, milhares de ovos ou litros de leite tiveram de ser deitados ao lixo por dificuldades de escoamento de produto. Ou seja, ao mesmo tempo que os consumidores adquiriam produtos internacionais, produtores nacionais eram “forçados” a destruir a sua produção.

De resto, o aumento do desperdício alimentar tem sido uma das faces mais visíveis da pandemia e assim promete continuar, mesmo com algumas das medidas de desconfinamento anunciadas.

Assim, comprar português é também contribuir para manter o interior e o mundo rural vivo, passando às grandes superfícies uma mensagem clara: estas têm de dar, cada vez mais, espaço (em quantidade, mas também na qualidade desse espaço) nas suas prateleiras ao que é nacional.

É o próprio Governo a assumir este desperdício no relatório do terceiro período do estado de emergência. O documento, elaborado pela Estrutura de Estrutura de Monitorização do Estado de Emergência, coordenada pelo ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, destaca que os “impactos negativos de curto prazo” afectaram principalmente actividades como o alojamento e a restauração, o comércio de bens não-alimentares e todos produtores que fornecem estes canais de distribuição. O relatório confirma ainda a “existência de excedentes de produtos agrícolas”.

Depois de perderem o cliente restauração, os produtores de frutas, legumes e leite, entre outros, viram-se obrigados a destruir as suas produções, dado serem produtos que se não forem vendidos dentro de determinado prazo têm como único caminho a destruição. E sem receitas, centenas de famílias proprietárias de microempresas nestes sectores viram a sua fonte de rendimento desaparecer.

Apenas durante o período em que Portugal esteve em estado de emergência, de 18 de Março a 3 de Maio, a Segurança Social recebeu 80.560 pedidos de subsídio de desemprego. Um número que irá continuar a aumentar durante os próximos meses e que irá afectar sobretudo os pequenos produtores. E este problema tem ainda outra consequência nefasta, o aumento do desequilíbrio entre o interior e o litoral, entre as áreas urbanas e rurais, já que a maior parte da produção agroalimentar está situada precisamente nas zonas rurais do interior de Portugal.

Assim, comprar português é também contribuir para manter o interior e o mundo rural vivo, passando às grandes superfícies uma mensagem clara: estas têm de dar, cada vez mais, espaço (em quantidade, mas também na qualidade desse espaço) nas suas prateleiras ao que é nacional. Muitas vezes, os produtos regionais e tradicionais não chegam à mesa dos portugueses, já que o retalho continua a apostar em produtos importados. Valorizando o produto nacional, os consumidores vão estar a valorizar as produções locais, a valorizar portugueses que são fundamentais para a manutenção da capacidade produtiva e das tradições do nosso país. É a valorização de trabalhadores que tudo fizeram para continuar a produzir ao longo dos últimos meses, combatendo a Covid-19, assim como todos os obstáculos que enfrentam para que os seus produtos cheguem à mesa de todos nós.

Comprar produtos portugueses torna-se assim imperioso para a manutenção em funcionamento da nossa economia, impedindo o encerramento de milhares de pequenas empresas e o despedimento de milhares de trabalhadores. E isto tudo acrescido da vantagem de o produto nacional ser de elevada qualidade. Desta forma, comprar português é também uma forma de permitir a manutenção da actividade profissional de muitos cidadãos, economias locais e regiões. Seja na indústria agroalimentar, seja no têxtil ou no calçado. Neste tempo difícil e de incertezas, a melhor forma de combater a pandemia económica que a Covid-19 implementou é optar por comprar produtos nacionais. 

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