Quarta-feira, Abril 24, 2024

Um novo ciclo de otimismo

Bruno Rosa, Jornalista de Economia no Jornal “O Globo”

A perspectiva da vacinação em massa ao redor do mundo para frear o avanço da Covid-19 traz uma dose de otimismo às empresas e aos consumidores para o ano de 2021. No Brasil, maior economia da América Latina, a pandemia derrubou a atividade industrial, elevou o desemprego e, o mais grave, aumentou as incertezas com a instabilidade política ao longo de 2020.

Mas, agora, é hora de olhar para o futuro. A expectativa é que a economia brasileira cresça 3,5% em 2021, segundo projeção do Banco Central. Ainda não vai recompor as perdas de quase 5% esperadas para 2020, mas é um alento importante se levar em conta que a força-tarefa em torno das vacinas vai aumentar a confiança do consumidor.

A eleição dos Estados Unidos, com a vitória de Joe Biden, vai ajudar a trazer mais otimismo aos governos da União Europeia, apaziguar as relações com a China e dar nova cara para a geopolítica na América Latina. E esse novo ambiente de diálogo tende a impulsionar os investimentos de empresas, gerando mais empregos e elevando o consumo.

Do setor de energia ao de tecnologia, novos hábitos foram acelerados por conta da pandemia do coronavírus, impulsionando novas tendências. E isso tende a gerar um novo ciclo de investimentos. Na área de petróleo e gás, a sustentabilidade entrou de vez na lista de preocupações, forçando empresas do setor a moverem seus recursos de perfuração de poços de petróleo em alto-mar para projetos de energia solar e eólica. Nessa lista, as petroleiras vêm adicionando ainda projetos de novas fontes a partir do lixo e outros rejeitos. Vale-tudo para ser verde.

No campo da tecnologia, o 5G chegou de vez. Após a disputa global entre Estados Unidos e China, a quinta geração deixou de ser uma promessa e já está se tornando realidade entre empresas que passaram a destinar alguns milhões de euros para conectar suas unidades fabris ao redor do mundo.

O consumidor, que passou a trabalhar em ‘home office’ em boa parte do mundo, com os sucessivos ‘lockdowns’, passou a exigir internet com conexão de alta qualidade e ser mais seletivo na hora de consumidor. A questão ambiental entrou de vez na agenda de todos e tende a ganhar cada vez mais espaço.

No Brasil, esses temas se tornaram nevrálgicos. E, mesmo com a crise gerada pela pandemia, passaram a contar com mais investimentos, ritmo que tende a aumentar para os próximos anos. O setor de saúde, assim como ocorre no mundo, ganhou espaço, com companhias investindo em soluções de aplicativos e criando departamentos para ajudar seus colaboradores a atravessar esse momento.

Empresas e consumidores passaram ainda a dar mais valor à igualdade de gênero e raça, tema que forçou sobretudo as empresas a elevarem os investimentos em quadros mais diversos dentro de suas companhias.

A pressão em torno do movimento Black Lives Matter, nos Estados Unidos, e casos como o do Brasil, em que funcionários de uma rede francesa de varejo mataram um consumidor negro, tornou o tema urgente, capaz de acabar, do dia para a noite, com a reputação de marcas e trazer prejuízos bilionários.

Isso significa mais investimentos na busca por profissionais diversos – desde executivos a equipes de base. No Brasil, diversas companhias estão contratando consultorias para buscar profissionais negros, transgêneros e indígenas. E isso traz mais otimismo no mundo pós-pandemia, onde a preocupação com o meio ambiente e uma sociedade mais igualitária caminham juntas e em igual equivalência com os planos de investimentos e de lançamentos de produtos e serviços.

Mas há desafios econômicos. O corte de custos e racionalização de gastos fazem parte da agenda para a próxima década. Por isso, tende a ganhar força um movimento de fusões e aquisições em todo o mundo. Empresas multinacionais vão buscar unir operações, comprar rivais e ganhar escala.

As ‘start-ups’ também cresceram na pandemia e passaram a ser uma opção para as gigantes empresas enfrentarem os dilemas da digitalização, um caminho sem volta para o processo produtivo.

Os aplicativos de celular se multiplicaram para a área de gastronomia, transporte e agora começam a ganhar espaço nas indústrias até então tradicionais, com soluções capazes de medir o nível de oxigenação no sangue ou calcular o nível de produtividade do colaborador. Na velocidade dos ‘bytes’, a economia global conhece ainda novas formas de fazer negócios como o Bitcoin, gerando, por sua vez, uma dose extra de oportunidades.

No Brasil, uma economia de tamanho continental, o movimento de fusões e digitalização já ganhou força em todos os setores. Diferente de países desenvolvidos, nações como o Brasil ainda sofrem como uma infraestrutura precária e tributação elevada, o que acelera o movimento de busca por mais eficiência. E é esse potencial de crescimento que vem atraindo capital internacional. Para aproveitar esse interesse, um programa de privatizações feito pelo governo, aliado à promessa de uma agenda de reformas, promete receber bilhões de dólares do exterior à medida que são vendidas concessões em estradas, ferrovias, aeroportos e no setor de saneamento.

Partilhe este artigo:

- Advertisement -
- Advertisement -

Artigos recentes | Recent articles

Um país na flor da idade

Nos últimos 20 anos Angola sofreu inúmeras transformações, desde a mais simples até à mais complexa. Realizou quatro eleições legislativas, participou pela primeira vez numa fase final de um campeonato do mundo, realizou o CAN e colocou um satélite em órbita.

David Cameron

David Cameron foi Primeiro-Ministro do Reino Unido entre 2010 e 2016, liderando o primeiro Governo de coligação britânico em quase 70 anos e, nas eleições gerais de 2015, formando o primeiro Governo de maioria conservadora no Reino Unido em mais de duas décadas.

Cameron chegou ao poder em 2010, num momento de crise económica e com um desafio fiscal sem precedentes. Sob a sua liderança, a economia do Reino Unido transformou-se. O défice foi reduzido em mais de dois terços, foram criadas um milhão de empresas e um número recorde de postos de trabalho, tornando-se a Grã-Bretanha a economia avançada com o crescimento mais rápido do mundo.

Conferências com chancela CV&A

Ao longo de duas décadas, a CV&A tem vindo a promover conferências de relevo e interesse nacional, com a presença de diversos ex-chefes de Estado e de Governo e dirigentes políticos de influência mundial.

As idas e vindas da economia brasileira nos últimos 20 anos

Há 20 anos, o Brasil tinha pela primeira vez um presidente alinhado aos ideais da esquerda. Luiz Inácio Lula da Silva chegava ao poder como representante máximo do Partido dos Trabalhadores (PT).

Uma evolução notável e potencial ainda por concretizar

Moçambique há 20 anos, em 2003, era um país bem diferente do de hoje. A população pouco passava dos 19 milhões, hoje situa-se em 34 milhões, o que corresponde a um aumento relativo de praticamente 79%, uma explosão que, a manter-se esta tendência será, sem dúvida, um factor muito relevante a ter em consideração neste país.

O mundo por maus caminhos

Uma nova ordem geopolítica e económica está a ser escrita com a emergência da China como superpotência económica, militar e diplomática, ameaçando o estatuto dos EUA. Caminhamos para um mundo multipolar em que a busca pela autonomia estratégica está a alterar, para pior, as dinâmicas do comércio internacional. Nada será mais determinante para o destino do mundo nos próximos anos do que relação entre Pequim e Washington. A Europa arrisca-se a ser um mero espetador.

Mais na Prémio

More at Prémio

- Advertisement -