Bruno Rosa, Jornalista de Economia no Jornal “O Globo”
A perspectiva da vacinação em massa ao redor do mundo para frear o avanço da Covid-19 traz uma dose de otimismo às empresas e aos consumidores para o ano de 2021. No Brasil, maior economia da América Latina, a pandemia derrubou a atividade industrial, elevou o desemprego e, o mais grave, aumentou as incertezas com a instabilidade política ao longo de 2020.
Mas, agora, é hora de olhar para o futuro. A expectativa é que a economia brasileira cresça 3,5% em 2021, segundo projeção do Banco Central. Ainda não vai recompor as perdas de quase 5% esperadas para 2020, mas é um alento importante se levar em conta que a força-tarefa em torno das vacinas vai aumentar a confiança do consumidor.
A eleição dos Estados Unidos, com a vitória de Joe Biden, vai ajudar a trazer mais otimismo aos governos da União Europeia, apaziguar as relações com a China e dar nova cara para a geopolítica na América Latina. E esse novo ambiente de diálogo tende a impulsionar os investimentos de empresas, gerando mais empregos e elevando o consumo.
Do setor de energia ao de tecnologia, novos hábitos foram acelerados por conta da pandemia do coronavírus, impulsionando novas tendências. E isso tende a gerar um novo ciclo de investimentos. Na área de petróleo e gás, a sustentabilidade entrou de vez na lista de preocupações, forçando empresas do setor a moverem seus recursos de perfuração de poços de petróleo em alto-mar para projetos de energia solar e eólica. Nessa lista, as petroleiras vêm adicionando ainda projetos de novas fontes a partir do lixo e outros rejeitos. Vale-tudo para ser verde.
No campo da tecnologia, o 5G chegou de vez. Após a disputa global entre Estados Unidos e China, a quinta geração deixou de ser uma promessa e já está se tornando realidade entre empresas que passaram a destinar alguns milhões de euros para conectar suas unidades fabris ao redor do mundo.
O consumidor, que passou a trabalhar em ‘home office’ em boa parte do mundo, com os sucessivos ‘lockdowns’, passou a exigir internet com conexão de alta qualidade e ser mais seletivo na hora de consumidor. A questão ambiental entrou de vez na agenda de todos e tende a ganhar cada vez mais espaço.
No Brasil, esses temas se tornaram nevrálgicos. E, mesmo com a crise gerada pela pandemia, passaram a contar com mais investimentos, ritmo que tende a aumentar para os próximos anos. O setor de saúde, assim como ocorre no mundo, ganhou espaço, com companhias investindo em soluções de aplicativos e criando departamentos para ajudar seus colaboradores a atravessar esse momento.
Empresas e consumidores passaram ainda a dar mais valor à igualdade de gênero e raça, tema que forçou sobretudo as empresas a elevarem os investimentos em quadros mais diversos dentro de suas companhias.
A pressão em torno do movimento Black Lives Matter, nos Estados Unidos, e casos como o do Brasil, em que funcionários de uma rede francesa de varejo mataram um consumidor negro, tornou o tema urgente, capaz de acabar, do dia para a noite, com a reputação de marcas e trazer prejuízos bilionários.
Isso significa mais investimentos na busca por profissionais diversos – desde executivos a equipes de base. No Brasil, diversas companhias estão contratando consultorias para buscar profissionais negros, transgêneros e indígenas. E isso traz mais otimismo no mundo pós-pandemia, onde a preocupação com o meio ambiente e uma sociedade mais igualitária caminham juntas e em igual equivalência com os planos de investimentos e de lançamentos de produtos e serviços.
Mas há desafios econômicos. O corte de custos e racionalização de gastos fazem parte da agenda para a próxima década. Por isso, tende a ganhar força um movimento de fusões e aquisições em todo o mundo. Empresas multinacionais vão buscar unir operações, comprar rivais e ganhar escala.
As ‘start-ups’ também cresceram na pandemia e passaram a ser uma opção para as gigantes empresas enfrentarem os dilemas da digitalização, um caminho sem volta para o processo produtivo.
Os aplicativos de celular se multiplicaram para a área de gastronomia, transporte e agora começam a ganhar espaço nas indústrias até então tradicionais, com soluções capazes de medir o nível de oxigenação no sangue ou calcular o nível de produtividade do colaborador. Na velocidade dos ‘bytes’, a economia global conhece ainda novas formas de fazer negócios como o Bitcoin, gerando, por sua vez, uma dose extra de oportunidades.
No Brasil, uma economia de tamanho continental, o movimento de fusões e digitalização já ganhou força em todos os setores. Diferente de países desenvolvidos, nações como o Brasil ainda sofrem como uma infraestrutura precária e tributação elevada, o que acelera o movimento de busca por mais eficiência. E é esse potencial de crescimento que vem atraindo capital internacional. Para aproveitar esse interesse, um programa de privatizações feito pelo governo, aliado à promessa de uma agenda de reformas, promete receber bilhões de dólares do exterior à medida que são vendidas concessões em estradas, ferrovias, aeroportos e no setor de saneamento.