Terça-feira, Abril 23, 2024

Um espaço feito para que a memória não se dissipe

Nelson Soares

O primeiro museu ibérico dedicado ao tema da “Shoah” já recebeu mais de 30 mil visitantes, desde a abertura em abril deste ano. Hugo Vaz, curador do Museu do Holocausto do Porto, explica o conceito deste espaço de memórias e a importância de “não se repetir um dos mais sombrios episódios da História”. Para já, o objectivo de se afirmar como espaço a visitar está conseguido.

Um museu portuense sobre o período do holocausto – o genocídio judeu executado pelo regime nazi – parecia, à partida, uma ideia remota, dada a escassa ligação da cidade àquele período histórico. No entanto, os cerca de 500 membros activos da Comunidade Judaica do Porto, a maior parte dos quais descendentes de refugiados da II Guerra Mundial, viram uma oportunidade no legado dos seus antepassados de “ir ao encontro do repto lançado pelo projecto governamental ‘Nunca Esquecer’” e manter viva a memória daqueles acontecimentos no nosso país. A isso, acrescenta Hugo Vaz, somou-se a participação de Portugal na Aliança Internacional para a Memória do Holocausto, nascendo, assim, o primeiro museu ibérico sobre esta temática e onde, assinala o curador, são partilhados “os documentos e objectos deixados pelos refugiados na Sinagoga do Porto”, como os Sifrei Torá (rolos da Torá).

Inaugurado em Abril de 2021, o Museu do Holocausto divide-se em três fases da comunidade judaica na Europa: o antes, o durante e o depois da II Guerra Mundial. Simbolicamente, os espaços variam a sua decoração entre áreas verdes e negras, consoante a gravidade dos momentos. A fase mais negra corresponde, naturalmente, ao período da perseguição nazi, dos campos de concentração e das execuções. É aqui, recorda o responsável, que estão os principais conteúdos do Museu: “a reprodução da entrada e de uma das casamatas de Auschwitz-Birkenau”, o maior campo de concentração nazi; “as fichas individuais dos refugiados que passaram pelo Porto e a sala de nomes, muitos deles de famílias da Comunidade Judaica do Porto”.

A REPRODUÇÃO DA ENTRADA E DE UMA DAS CASAMATAS DE AUSCHWITZ-BIRKENAU É UM DOS PRINCIPAIS ATRACTIVOS DO MUSEU DO HOLOCAUSTO

30 mil já visitaram

O percurso que os visitantes realizam no Museu obedece a uma sequência narrativa, contextualizando as vivências, as tradições e a cultura da população judaica. É um trajecto que, de acordo com Hugo Vaz, visa “promover a educação e a memória sobre o Holocausto”, travando a erosão do tempo sobre os acontecimentos e “sensibilizando os visitantes para que este, que é um dos mais sombrios episódios da nossa História, não se volte a repetir”. “A memória tende a dissipar-se e o tema tende a ser rejeitado, como tem acontecido um pouco por todo o mundo”, sublinha o curador da instituição.

Além dos materiais que estão em exposição permanente, o Museu do Holocausto promove outras iniciativas, que decorrem, segundo Hugo Vaz, de “parcerias com embaixadas como a dos EUA e da Rússia”. Exposições temporárias ou cursos de formação, como o que foi promovido em Setembro passado para professores e que tinha por objectivo oferecer ferramentas para o ensino da história e cultura judaica, são frequentes na instituição.

Desde a abertura, o espaço foi já visitado por mais de 30 mil pessoas. Hugo Vaz acredita que “é um dos museus mais visitados de Portugal”, assumindo “sem dúvida alguma” um lugar de destaque no mapa cultural da cidade do Porto e da região.

O Museu do Holocausto é uma iniciativa Comunidade Judaica do Porto, inspirada no equipamento com o mesmo nome, situado em Washington DC. Está aberto todos os dias úteis, entre as 14h30 e as 17h30, não abrindo aos fins de semana e nos feriados judaicos.

Partilhe este artigo:

- Advertisement -
- Advertisement -

Artigos recentes | Recent articles

Um país na flor da idade

Nos últimos 20 anos Angola sofreu inúmeras transformações, desde a mais simples até à mais complexa. Realizou quatro eleições legislativas, participou pela primeira vez numa fase final de um campeonato do mundo, realizou o CAN e colocou um satélite em órbita.

David Cameron

David Cameron foi Primeiro-Ministro do Reino Unido entre 2010 e 2016, liderando o primeiro Governo de coligação britânico em quase 70 anos e, nas eleições gerais de 2015, formando o primeiro Governo de maioria conservadora no Reino Unido em mais de duas décadas.

Cameron chegou ao poder em 2010, num momento de crise económica e com um desafio fiscal sem precedentes. Sob a sua liderança, a economia do Reino Unido transformou-se. O défice foi reduzido em mais de dois terços, foram criadas um milhão de empresas e um número recorde de postos de trabalho, tornando-se a Grã-Bretanha a economia avançada com o crescimento mais rápido do mundo.

Conferências com chancela CV&A

Ao longo de duas décadas, a CV&A tem vindo a promover conferências de relevo e interesse nacional, com a presença de diversos ex-chefes de Estado e de Governo e dirigentes políticos de influência mundial.

Mais na Prémio

More at Prémio

- Advertisement -