Terça-feira, Abril 23, 2024

Regresso a 2003. O que mudou em 15 anos?

PORTUGAL E O MUNDO VIVEM HOJE GRANDES TEMPOS DE MUDANÇA, QUER EM TERMOS ECONÓMICOS E DE NEGÓCIOS, QUER EM TERMOS SOCIAIS E POLÍTICOS. MAS COMO ERA O MUNDO HÁ 15 ANOS? RECUÁMOS ATÉ 2003 E FOMOS RELEMBRAR O QUE MARCAVA, NA ALTURA, A AGENDA NACIONAL E MUNDIAL.

O mundo mudou muito nos últimos 15 anos. Passou-se a tratar o online por tu, com a transformação digital a ser uma realidade transversal a vários setores. Novos negócios e empresas surgiram, outros tantos desapareceram. Há uma década e meia estava-se longe de imaginar o peso que a China viria a representar a nível mundial, e que Portugal seria ponto de interesse de várias ‘startups’ internacionais.  Olhando em retrospetiva, o que marcou 2003? O que aconteceu em Portugal, e no mundo, naquela época?

Há 15 anos o cenário não era muito animador para a economia portuguesa, que encolheu nesse ano 1,2%. O desemprego ultrapassava 6,4% da população ativa, e Manuela Ferreira Leite, na altura ministra das finanças do Governo liderado por Durão Barroso em coligação com o CDS-PP, lutava ferozmente para manter o défice dentro do limite dos 3%. Lá fora, também as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a economia mundial não eram animadoras. O FMI apontava para um crescimento lento das três grandes potências mundiais (EUA, Alemanha e Japão) e temia a dependência das economias europeias destes três grandes pilares.

Nesse mesmo ano, o mundo estremeceu quando os Estados Unidos invadiram o Iraque, numa missão apelidada de “Operação Liberdade do Iraque”. O Governo norte-americano liderado por George Bush, e apoiado pelo Reino Unido, Austrália e Polónia, alegava que o presidente iraquiano Saddam Hussein mantinha um arsenal de armas químicas que ameaçavam a paz mundial. A operação durou 21 dias e chegou a temer-se o início de um novo conflito. Não se provou a existência do arsenal bélico e Saddam Hussein acabaria por de ser capturado nesse mesmo ano, com a imagem do líder iraquiano com um aspeto sujo a correr mundo.

No Brasil, Lula era a nova esperança do país e fazia história pelo Partido dos Trabalhadores (PT) ao ser o primeiro operário, sem diploma universitário a chegar à presidência.

Já em Portugal, a sociedade assistia ao desenrolar do escândalo da Casa Pia que envolvia várias figuras públicas. Enquanto que, no mundo dos negócios, as compras e vendas marcavam o dia a dia das grandes empresas. Exemplo disso mesmo verificou-
         -se logo no arranque do ano quando o empresário Américo Amorim se tornou num dos maiores acionistas do Banco Popular Espanhol com a troca de 75% do Banco Nacional de Crédito Imobiliário (BNC) por quase 5% do Popular.

No negócio do papel, discutia-se a segunda e terceira fases de reprivatização da Gescartão e da Portucel, uma operação que ainda fez correr muita tinta e que foi acompanhada por Carlos Tavares, ministro da economia na época. 

Na aviação assistia-se à constituição da sociedade gestora de participações sociais TAP SGPS, que passou a encabeçar as duas novas participadas – Serviços Portugueses de Handling e a TAP-Manutenção e Engenharia –, além da TAP, SA.

A reestruturação do sector energético também foi um dos eventos que acompanhou a maior parte do ano. Enquanto que a EDP assumia a liderança do negócio da energia, apostando cada vez mais no desenvolvimento do gás natural em Espanha, através da Hidroeléctrica del Cantábrico, o Estado Português estabelecia um acordo com os italianos da ENI. Neste acordo, ficou determinado que a EDP, ENI e REN tomariam o negócio do gás natural da Galp por aquisição ou cisão. A EDP (51%) e a ENI (49%) passavam assim a ser os únicos titulares da Galp, já sem os ativos regulados. A ENI, por seu lado, saía da área do petróleo, através da venda à Parpública da sua participação remanescente à Galp. Em dezembro, a REN, financiada pela Caixa Geral de Depósitos (CGD), compra 18,3% da Galp, por 420 milhões de euros. Esta foi um dos negócios que preencheu várias páginas da imprensa especializada. 

Na vizinha Espanha, uma oferta pública de aquisição (OPA) marcava o setor energético. A Gas Natural, que tinha como principais acionistas o La Caixa e a Repsol, lançou uma OPA hostil sobre a Iberdrola, na época a segunda maior companhia do setor. O veto por parte da Comissão Nacional de Energia à compra viria a ditar a retirada da oferta.

Nos mercados, o ouro subia, o petróleo negociava em queda – sobretudo pressionado pela situação no Iraque –, e arrastava consigo também as bolsas. Se olharmos para o principal índice bolsista português, em 2003, encontramos várias diferenças. Comparativamente à atualidade há 12 empresas que já não fazem parte do PSI 20: BES, Brisa, BPI, Cimpor, Teixeira Duarte, Impresa, Sonaecom, Cofina, Novabase, Glintt, SAG e Ibersol. Umas deixaram o índice, outras deixaram a bolsa, e outras desapareceram mesmo. 

Passados 15 anos

Esta viagem no tempo traz-nos para 2018. Um ano em que o Fundo Monetário aponta para um crescimento económico mundial de 3,7%. O impacto da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, o abrandamento da economia europeia e a crise em vários países, como é o caso da Venezuela, que vive a pior crise socioeconómica de todos os tempos, são algumas das razões que justificam a revisão do crescimento mundial em baixa (estimativa inicial era de 3,9%). 

A incerteza ao redor do orçamento italiano pode, também, penalizar o crescimento económico mundial de 2018. A Comissão Europeia rejeitou por duas vezes, o projeto de orçamento italiano para o próximo ano, que prevê um défice de 2,4% do PIB, por considerar que com esta proposta o país arrisca-se a ficar preso à divida que é cerca de 131% do PIB, a segunda maior dívida da zona euro, de acordo com o Eurostat. 

Esta incerteza já está a penalizar as bolsas europeias. O mercado da dívida também está a sofrer consequências pelo receio dos investidores, com os juros italianos sob pressão.

A nível nacional, as previsões do Banco de Portugal apontam para que se registe, este ano, um crescimento do PIB português de 2,3%.

No panorama político-económico, 2018 inicia-se com o ministro das finanças, Mário Centeno, a assumir a presidência do EuroGrupo, com a Bitcoin a perder mais de metade do seu valor máximo e com a prisão do presidente Lula da Silva, por corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato.

Em Portugal, a Unicre presidida por Luís Flores, desiste de vender o negócio do cartão Unibanco, o crédito ao consumo e a gestão de cartões. Enquanto que a Fosun, Sonangol e EDP apresentam uma lista conjunta para os órgãos sociais do BCP, onde Miguel Maya sobe a CEO deste banco, e Nuno Amado fica como chairman.

Marcam ainda a agenda do ano, a venda do Banif ao grupo chinês Bison Capital Financial Holdings, a proposta de venda da SIVA à distribuidora alemã Porsche Holding, que deve ficar concluída, ainda, no final deste ano. 

No entanto, um dos acontecimentos mais discutido nos meios de comunicação nacionais, foi a OPA lançada sobre a totalidade do capital da EDP, pelo grupo China Three Gorges (o maior acionista da elétrica), com uma contrapartida de 3,26 euros por cada ação. Este processo ainda está longe de estar concluído, primeiro porque a EDP considerou baixo o valor oferecido e, segundo, porque Pequim fez alterações à gestão do grupo China Three Gorges, o que pode indicar incerteza sobre o futuro da OPA à EDP. Para que OPA avance, a CTG necessita da aprovação de reguladores de mais de 20 países.

Os novos media

Ficou concluída este ano a venda do portefólio de 12 revistas do grupo Impresa – Activa, Caras, Caras Decoração, Courrier Internacional, Exame, Exame Informática, Jornal de Letras, TeleNovelas, TV Mais, Visão, Visão História e Visão Júnior – à Trust in News (TiN) de Luís Delgado. A venda da TVI à Altice chegou também a agitar um pouco o mercado, mas a operação acabou por não acontecer com a Prisa a deixar cair o negócio. Isto depois da Autoridade da Concorrência (regulador) ter rejeitado os compromissos apresentados pela Altice para a compra da Media Capital.

Em 2018, já não há muito espaço para o analógico e, nos media, o papel deu lugar ao digital. Muitos dos jornais que existiam em 2003 acabaram por fechar as suas portas ao longo destes anos, como por exemplo, o Independente, o Semanário Económico, A Capital, o 24 horas, Diário Económico, Primeiro de Janeiro, Comércio do Porto. Surgiram órgãos de comunicação plenamente digitais mais recentemente, como é o caso do Observador e do Jornal ECO, e mesmo o centenário Diário de Notícias abandonou a edição em papel diária para se focar no digital, saindo agora apenas uma vez por semana, tal como o Jornal Económico, um órgão de comunicação que nasceu a partir do OJE. Estes mais recentes juntaram-se ao Dinheiro Vivo, ao Jornal i e até à CMTV, três órgãos de comunicação que embora já tenham uma presença instalada, não existiam em 2003. 

Apesar de vários meios de comunicação terem desaparecido, 15 anos depois a taxa de alfabetização aumentou, há mais utilizadores de internet e Lisboa anda nas “bocas do mundo”, depois da World Travel Awards ter eleito a capital portuguesa como a melhor cidade destino da europa. Além disso, Portugal já ganhou estatuto de ‘hub’ preferencial para startups, e Lisboa vai ser a morada da Web Summit pelo menos durante mais 10 anos. Sabendo que o crescimento da inovação tem sido exponencial, será que daqui a 15 anos já será um robot a escrever este texto? Só o saberemos na edição de 2033. Até lá resta-nos acompanhar as mudanças no dia a dia. 

Bárbara Barroso

Partilhe este artigo:

- Advertisement -
- Advertisement -

Artigos recentes | Recent articles

Um país na flor da idade

Nos últimos 20 anos Angola sofreu inúmeras transformações, desde a mais simples até à mais complexa. Realizou quatro eleições legislativas, participou pela primeira vez numa fase final de um campeonato do mundo, realizou o CAN e colocou um satélite em órbita.

David Cameron

David Cameron foi Primeiro-Ministro do Reino Unido entre 2010 e 2016, liderando o primeiro Governo de coligação britânico em quase 70 anos e, nas eleições gerais de 2015, formando o primeiro Governo de maioria conservadora no Reino Unido em mais de duas décadas.

Cameron chegou ao poder em 2010, num momento de crise económica e com um desafio fiscal sem precedentes. Sob a sua liderança, a economia do Reino Unido transformou-se. O défice foi reduzido em mais de dois terços, foram criadas um milhão de empresas e um número recorde de postos de trabalho, tornando-se a Grã-Bretanha a economia avançada com o crescimento mais rápido do mundo.

Conferências com chancela CV&A

Ao longo de duas décadas, a CV&A tem vindo a promover conferências de relevo e interesse nacional, com a presença de diversos ex-chefes de Estado e de Governo e dirigentes políticos de influência mundial.

Mais na Prémio

More at Prémio

- Advertisement -