Sábado, Abril 20, 2024

“Queremos transmitir que os judeus ajudaram a fazer Portugal”

Entrevista Esther Mucznik, Fundadora e Presidente do “Tikvá Museu Judaico de Lisboa”

Ana Valado

Contar a história da presença judaica em Portugal de uma forma atractiva é o principal objectivo do “Tikvá Museu Judaico de Lisboa”, que irá abrir portas na Primavera de 2024.
Em entrevista à PRÉMIO, Esther Mucznika, fundadora e presidente do “Tikvá Museu Judaico de Lisboa”, fala-nos deste projecto e da sua importância, do arquitecto Daniel Libeskind que lhe vai dar vida e explica-nos a inclusão da palavra “Tikvá”, que significa “Esperança” em hebraico, no nome do Museu.

O Museu Judaico de Lisboa vai finalmente avançar. Para quando está prevista a inauguração?

Sim, finalmente vai avançar, creio que reunimos hoje as melhores condições para concretizar este belo projecto. Prevemos a sua inauguração na Primavera de 2024

Qual o objectivo do Museu Judaico de Lisboa?

O principal objectivo do Museu é contar a história da presença judaica em Portugal de uma forma acessível e atractiva para o grande público. Trata-se de uma história judaica e portuguesa, ainda hoje em grande parte desconhecida da maioria da população portuguesa e estrangeira. Dito de outra maneira, queremos que os visitantes e amigos do Museu judaico entendam que a história que vamos contar faz parte da sua própria história.

Também queremos mostrar que a diversidade de culturas é enriquecedora para um povo e um país e não uma ameaça à sua identidade.

Por adversidades várias, a localização do Museu mudou-se para Belém. Considera esta localização privilegiada?

A sua localização é de facto excelente: situada numa zona onde se encontram alguns dos mais visitados museus de Lisboa, é efectivamente um ponto de grande atracção turística, quer portuguesa quer estrangeira. Por outro lado, estamos perto do Tejo, na linha da Torre de Belém, que para além da sua beleza, evoca o importante papel que os judeus tiveram nos Descobrimentos Portugueses.

A própria dimensão do terreno permite-nos aumentar as valências do Museu: para além da exposição permanente e das temporárias, temos espaço para um bom auditório, restaurante e loja, elementos importantes para o público e também fonte de sustentabilidade para o próprio museu.

Como se vão organizar as áreas expositivas e como se vai contar a história dos judeus portugueses e a sua contribuição para a nossa sociedade?

A primeira área expositiva será dedicada à cultura judaica, às suas tradições e costumes. As outras áreas expositivas seguem um percurso cronológico e temático. Abordaremos a vivência judaica no território que é hoje Portugal desde a época romana até à actualidade, mas centraremos o foco no período a que chamamos de “Convivência”, um período de relativa tolerância, entre o século XII e XV, que permitiu a contribuição fundamental dos judeus na medicina e na ciência, na descoberta de novos mundos e no seu financiamento, na filosofia e na impressão, entre outras. Seguir-se-á o espaço designado de “Intolerância” no qual serão evocados o Edito de Expulsão, as conversões forças e a instauração da Inquisição, elementos que conduziram ao êxodo judaico para países mais tolerantes e onde se destacaram inúmeras personalidades que também abordaremos. Terminamos com o que podemos apelidar de “Regresso” ou “Ressurgimento” do judaísmo em Portugal a partir de finais do século XVIII, novamente evocando a contribuição positiva judaica para a sociedade e o país.

Em resumo, sem esquecer o lado sombrio da história judai-
co-portuguesa, insistiremos no seu lado positivo. Em primeiro ligar porque é a parte mais desconhecida e a mais significativa, e porque rejeitamos a visão de “vítimas” como redutora e desadequada. Pelo contrário, a ideia central que queremos transmitir é a de que os judeus ajudaram a construir Portugal.

Para além das áreas de exposição, que outras valências o Museu vai oferecer? Existirá uma programação própria destinada a crianças?

Com certeza, a programação para as crianças e escolas é uma das nossas prioridades. Teremos um serviço educativo que já está previsto incluindo uma equipa especializada no trabalho com as crianças, jovens e menos jovens e que já nos apresentou várias propostas muito interessantes. Um outro projecto será um centro de investigação patrocinado por um doador, virado especificamente para investigadores ou simplesmente pessoas que queiram estudar e conhecer melhor o nosso arquivo e outras fontes relacionadas com os temas do museu.

Por seu turno, o auditório será utilizado para actividades várias, como cursos, conferências, ciclos de cinema e outros. Também poderá ser alugado para empresas ou outras instituições que aí desejam realizar eventos, aproveitando o restaurante e a cafetaria com a belíssima vista para o rio.

Na sua opinião, qual a importância de Museu Judaico para a cidade de Lisboa? Haverá um desconhecimento do público em relação a esta cultura?

Não tenho dúvidas de que será uma mais-valia para a cidade de Lisboa e não só. Primeiro, como já referi, por contribuir para “desocultar” uma história e uma cultura riquíssimas e muito pouco conhecidas, mas também porque estou certa de que o projecto de arquitectura surpreenderá pela sua beleza e arrojo, marcando a cidade com mais uma peça de arte contemporânea que sendo audaciosa, se insere harmoniosamente nas cores e na luminosidade da natureza envolvente.

Existem vários Museus Judaicos pelo mundo, que contam a passagem dos judeus por esses países, muitos da autoria de Daniel Libeskind. O arquitecto polaco-americano desenhou os Museus de Berlim, São Francisco e Copenhaga, bem como memoriais do Holocausto nos Países Baixos, no Canadá e nos Estados Unidos, e ainda a reconversão do Ground Zero, em Nova Iorque. O que está projetado para o Museu de Lisboa?

Daniel Libeskind é considerado nos EUA, e não só, o arquitecto da memória. Um homem para quem, e segundo as suas próprias palavras, “a memória é a base de toda a construção”. No nosso caso concreto, ele interessou-se muitíssimo pela história que vamos contar e no seu projecto incluiu uma outra vertente: a Esperança. Aliás é com base na sua proposta que o nome do Museu será “Tikvá Museu Judaico de Lisboa”, sendo que a palavra Tikvá significa “Esperança” em hebraico. No seu projecto, cada módulo do edifício representa uma letra da palavra Tikvá em hebraico. Por outro lado, Libeskind que já conhecia Lisboa, também fez questão de integrar componentes da arte portuguesa. O museu terá assim vários elementos revestidos com o típico azulejo de cor azul.

Quanto se prevê que custará este projecto e como, uma pessoa ou empresa, apoiar este projecto?

Estimamos o custo do Museu em cerca de 15 milhões de euros e qualquer pessoa ou empresa pode apoiar através de donativos, patrocínios ou subscrições a curto, médio ou longo prazo. Todos estes procedimentos estão a ser cuidadosamente preparados precisamente.

As doações de peças também são uma forma muito importante de apoio.

Quantos visitantes estimam atrair por ano? À semelhança do que acontece em outras cidades, acha que o Museu Judaico de Lisboa poderá torna-se uma das atracções turísticas da capital portuguesa?

A nossa estimativa antes da pandemia, tendo em conta as estatísticas disponibilizadas pelos museus e pelo turismo, era de 100.000 pessoas por ano. Mantemos essa estimativa na expectativa de quando o museu for inaugurado já se tenha regressado a uma situação de segurança sanitária. E sim, acreditamos que o museu pelas características acima apontadas tanto do conteúdo, como da arquitectura, será uma das atrações turísticas da cidade de Lisboa.

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