Quinta-feira, Março 28, 2024

Portugal tem oportunidade única durante a transição energética mundial | A unique opportunity for Portugal during the global energy transition

Salvador Pacheco

DOSSIÊ ENERGIA & AMBIENTE

A NEUTRALIDADE CARBÓNICA É UM DOS GRANDES OBJECTIVOS DO EXECUTIVO PORTUGUÊS PARA AS PRÓXIMAS DÉCADAS. ESTA TRANSIÇÃO ENERGÉTICA DE PORTUGAL LEVARÁ À REDUÇÃO DA EMISSÃO DE GASES COM EFEITO DE ESTUFA E TRARÁ UMA OPORTUNIDADE ECONÓMICA ÚNICA PARA O PAÍS.

O Governo português apresentou, no final de 2018, o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC50), documento que integra os objectivos expressos no Acordo de Paris e que traça um caminho para Portugal atingir a neutralidade carbónica nos próximos 30 anos.

Este documento, bem como todas as apresentações e declarações que se seguiram, demonstram o compromisso do Governo com este tema, sendo de esperar que muitas das decisões futuras tomadas por Executivos e Instituições Públicas, nas áreas da energia e ambiente, tenham em consideração o roteiro traçado.

Na apresentação do RNC50, o Ministro do Ambiente e Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, sob o qual recai o pelouro deste documento, sintetizou da seguinte forma os objectivos deste trabalho: “Para Portugal ser neutro em carbono em 2050 significa reduzir, a partir de 2017, de 68 para 12 megatoneladas as emissões de CO2” e “aumentar de 9 para 12 a capacidade de sequestro florestal de que o nosso País dispõe”. Ou seja, reduzir e compensar.

Para atingir estes objectivos, o Ministro identificou os três eixos da actuação para conseguir a neutralidade carbónica: a valorização do território, a economia circular e a descarbonização da sociedade. 

A implementação eficaz deste Roteiro cria oportunidades únicas para o País: contribuir decisivamente para o combate às alterações climáticas que assolam o Planeta Terra, dando o exemplo a outros países na redução das emissões poluentes e na inovação; e definir e potenciar um caminho de crescimento contínuo e sustentável da economia nacional, algo que pode advir das oportunidades económicas que esta transição energética mundial pode trazer.

Uma transformação com resultados quase constantes

Uma das principais conclusões que se pode retirar do Roteiro, é que para alcançar a neutralidade carbónica, o meio é tão essencial como o fim, existindo várias metas intermédias que é necessário atingir antes do objetivo final de 100% da energia consumida em Portugal ser de fontes renováveis.

O documento defende a substituição paulatina das fontes de produção energética mais poluentes por outras garantindo, acima de tudo, a “segurança do abastecimento”, como referiu Nuno Lacasta, Presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, numa apresentação sobre o tema.

O anúncio recente de que as Centrais Termoelétricas, como as de Pego e Sines, deverão abandonar o carvão nos próximos 10 anos, substituindo esta matéria prima por algo menos poluente como biomassa ou gás natural, são disso um exemplo.

O Gás Natural irá mesmo, de acordo com o Roteiro, continuar a ganhar peso na produção e consumo energético nacional, antes de começar a perder importância dentro de 20 anos. Apesar de ser uma energia fóssil, o Gás Natural é consideravelmente menos poluente que o carvão, petróleo e seus derivados líquidos, pelo que tem papel central neste Roteiro.

Inovação precisa-se

Outro dos motivos pelos quais não é possível uma mudança imediata do estado actual para as energias renováveis é a má relação qualidade-preço da tecnologia existente. É necessária a optimização da tecnologia para produção de electricidade a custos acessíveis através de fontes renováveis, como é o exemplo dos painéis solares; há o desafio de ter fontes de armazenamento de electricidade com boa relação custo-capacidade; e potenciais novas fontes de energia revolucionárias, como o hidrogénio, ainda estão longe da sua implementação total.

As empresas do sector energético, automóvel, construção, ambiente, entre outros, estão há vários anos a trabalhar para garantir a sustentabilidade do seu negócio, e isso envolve a preparação para investir em R&D e a preparação para actualizar ou descontinuar equipamento ou técnicas actualmente em funcionamento.

As pessoas, por sua vez, irão adaptar-se e dentro de poucas décadas, o Roteiro prevê que muitos consumidores, famílias ou empresas, produzam e armazenem a sua própria energia eléctrica. Até lá, o futuro passa por uma produção em grandes centrais ou parques energéticos.

Conjugando a redução das emissões de CO2 e o sequestro do mesmo através da promoção da floresta, mais protegida e resistente a incêndios, em 2050 Portugal deverá atingir a neutralidade carbónica.

O potencial económico desta transformação

Toda esta dinâmica de transformação vai criar oportunidades de negócio e de crescimento económico para o País.

Numa apresentação do Diretor-geral da Direcção-Geral de Energia e Geologia, João Bernardo, este afirmava que o investimento estimado previsto no sector da energia até 2030 será de 22 a 24 mil milhões de Euros, contribuindo isto não só para redução em cerca de 50% da emissão de Gases com Efeito de Estufa, face a 2005, mas também para a criação de emprego, a riqueza e o bem-estar no País.

Exemplo disto é o potencial económico que a indústria do lítio, peça fundamental para que se concretize este Roteiro, tem para Portugal. O RNC50 é claro a referir que o que se pretende nos próximos 30 anos é que haja uma “electrificação” da economia, sendo quase todas as formas de energia que chega ao consumidor substituídas por esta, produzida através de fontes renováveis.

O lítio é, para já, a única fonte de qualidade no armazenamento de electricidade e será ainda mais essencial na economia mundial, quando a investigação permitir desenvolver baterias mais pequenas, baratas, eficazes e duradouras, com capacidade suficiente para que uma casa produza e armazene a sua energia.

E Portugal é o País da Europa com mais minério de lítio, o qual precisa de ser refinado para depois poder vir a ser utilizado no fabrico das referidas baterias. Por essa razão, o Governo criou o Grupo de Trabalho “Lítio” e está a organizar um concurso internacional de atribuição de novas concessões, as quais, juntamente com uma refinaria que produzirá cloreto ou hidróxido de lítio. Por si só, esta indústria tem potencial para ser transformadora do País e atrair fabricantes de baterias e componentes automóveis, indústria na qual Portugal já tem tradição.

O mesmo sucede com as potenciais reservas de gás natural existentes no nosso País, e que, a confirmar-se a viabilidade da exploração comercial do mesmo, poderão ter um papel preponderante nesta transição energética de Portugal.

Com o consumo de gás natural a aumentar, tal como prevê o RNC50, Portugal terá de importar cada vez mais LNG, o qual tem um impacto ambiental consideravelmente mais elevado que o gás local ou importando por gasodutos. Assim, a potencial existência de gás natural em território nacional, que a empresa que detém as concessões, a Australis Oil & Gas, já comunicou poder ser em quantidade equivalente a duas vezes e meia o consumo nacional de gás natural em 2017, poderá ter uma forte contribuição nas metas para a neutralidade carbónica, mas também um significativo impacto positivo na balança comercial.

O gás natural e o minério de lítio são exemplos concretos de como Portugal tem uma oportunidade de conjugar a redução da emissão de gases com efeito de estufa com uma oportunidade económica para o País, que pode assim assumir um papel de relevo a nível internacional.

Juntamente com a investigação e inovação que muitas empresas nacionais estão a desenvolver, o RNC50 pode tão simplesmente ser o mapa que identifica o ‘cluster’ energético como o futuro da economia nacional.

At the end of 2018, the Portuguese Government presented the Roadmap for Carbon Neutrality 2050 (RNC50), a document that includes the goals expressed in the Paris Agreement and outlining the path Portugal should follow to achieve carbon neutrality over the next 30 years.

This document and the presentations and statements that followed show the Government’s commitment and most of the future decisions made by the Government and Public Institutions in the areas of energy and the environment are expected to take the established roadmap into account.

In the presentation of the RNC50 roadmap, the Minister of the Environment and Energy Transition, João Pedro Matos Fernandes, in charge of drawing this document, summarized the objectives of this work as follows: “In order for Portugal to be carbon neutral in 2050 it will have to move, as of 2017, from 68 to 12 megatons of CO2 emissions “and” to increase the capacity of forest capture capacity available in our country from 9 to 12 megatons.” This means reducing and compensating.

In order to meet these goals, the Minister identified the three main actions to achieve carbon neutrality: the development of the territory, the circular economy and the decarbonisation of society. 

Effective implementation of this Roadmap creates unique opportunities for the country: making a clear contribution to fight climate changes that devastate Planet Earth, setting the example for other countries as regards reducing polluting emissions and innovation; and defining and fostering a path of continuous and sustainable growth of the national economy as the result of economic opportunities this global energy transition may bring with it.

A transformation with almost constant results

One of the main conclusions that can be drawn from this Roadmap is that in order to achieve carbon neutrality the environment has to be as essential as the goals themselves. There are several intermediate goals that need to be achieved before the final objective of 100% of energy consumed in Portugal through renewable sources.

The document advocates the gradual replacement of the most polluting sources of energy production with others and ensuring, above all, “security of supply”, as Nuno Lacasta, President of the Portuguese Environment Agency, said during a presentation on this issue.

The recent announcement that Thermoelectric Power Plants such as those Pego and Sines should abandon coal in the next 10 years, replacing this raw material with something less polluting like biomass or natural gas are a good example of this

Natural Gas will, according to the Roadmap, continue to have a major role in national energy production and consumption and is due to start decreasing in 20 years. Despite being a fossil energy, Natural Gas is considerably less polluting than coal, oil and its liquid derivatives and has a central role in this Roadmap.

Innovation needed

Another reason for the failure to operate immediate changes in the current state of renewable energy is the poor value for money of existing technologies. We need to optimize the technology for the production of electricity at affordable costs through renewable sources, as is the case with solar panels; there is the challenge of good cost-capacity sources of electricity storage; and potential new sources of revolutionary energy, such as hydrogen, are still far from being fully implemented.

Companies in the energy, automotive, construction, environmental and other sectors have been working for several years in order to ensure the sustainability of their business and this involves preparing to invest in R & D and to upgrade or discontinue equipment or techniques currently in operation.

People, in turn, will adapt and within a few decades, the Roadmap predicts that many consumers, households or companies will produce and store their own electricity. Until then, the future involves production in large power plants or energy farms.

The economic potential of this transformation

This transformation will create business opportunities and economic growth for the country.

In a presentation by the Director General of the Directorate-General for Energy and Geology, João Bernardo, the latter stated that the estimated investment forecasted in the energy sector by 2030 will be between €22 and €24 billion, leading not only to a reduction of around 50% of greenhouse gas emissions compared to 2005, but also to job creation, wealth and well-being in the country.

A clear example of this is the economic potential of the lithium industry, a key element for the realization of this Roadmap, for Portugal. The RNC50 is very clear, stating that the intention is to achieve “electrification” of the economy in the next 30 years, e.g. almost all forms of energy should be replaced by the latter and produced through renewable sources.

Lithium is for now the only source of quality storage of electricity and will be far more essential for the world economy after the development of smaller, cheaper, effective and long lasting batteries with enough capacity to allow homes to produce and store their own energy.

And Portugal is the country in Europe with more lithium ore, which needs to be refined before it can be used to manufacture these batteries. For this reason, the Government created the “Lithium” Working Group and is currently organizing an international tender to award new concessions and the building of a refinery to produce lithium chloride or hydroxide. This industry alone has the potential to transform the country and attract manufacturers of batteries and automotive components, an industry in which Portugal already has a tradition.

The same happens with the potential reserves of natural gas available in our country, and which, should the feasibility of commercial operation prove right they may play a major role in this energy transition in Portugal.

With the increase in natural gas consumption, as predicted in the RNC50 roadmap, Portugal will have to import more and more LNG, which has a considerably higher environmental impact than local gas or gas imported via pipelines. Thus, the existence of natural gas in the national territory, which the company that owns the concessions, Australis Oil & Gas, has already reported can be in the amount of two and a half times the national consumption of natural gas in 2017, may provide a strong contribution for carbon neutrality targets and will have also a significant positive impact on the trade balance.

Natural gas and lithium ore are good examples of how Portugal has an opportunity to combine the reduction of greenhouse gas emissions with economic opportunities for the country and can therefore play an important role internationally.

Together with the research and innovation many national companies are developing, RNC50 may become the right roadmap to single out the energy cluster as the future of the national economy.

Partilhe este artigo:

- Advertisement -
- Advertisement -

Artigos recentes | Recent articles

Um país na flor da idade

Nos últimos 20 anos Angola sofreu inúmeras transformações, desde a mais simples até à mais complexa. Realizou quatro eleições legislativas, participou pela primeira vez numa fase final de um campeonato do mundo, realizou o CAN e colocou um satélite em órbita.

David Cameron

David Cameron foi Primeiro-Ministro do Reino Unido entre 2010 e 2016, liderando o primeiro Governo de coligação britânico em quase 70 anos e, nas eleições gerais de 2015, formando o primeiro Governo de maioria conservadora no Reino Unido em mais de duas décadas.

Cameron chegou ao poder em 2010, num momento de crise económica e com um desafio fiscal sem precedentes. Sob a sua liderança, a economia do Reino Unido transformou-se. O défice foi reduzido em mais de dois terços, foram criadas um milhão de empresas e um número recorde de postos de trabalho, tornando-se a Grã-Bretanha a economia avançada com o crescimento mais rápido do mundo.

Conferências com chancela CV&A

Ao longo de duas décadas, a CV&A tem vindo a promover conferências de relevo e interesse nacional, com a presença de diversos ex-chefes de Estado e de Governo e dirigentes políticos de influência mundial.

Mais na Prémio

More at Prémio

- Advertisement -