As previsões que ficam para a história são as que falham desastrosamente. Como a de Robert Metcalfe, inventor da Ethernet, que dizia em 1995 que a internet iria colapsar em 1996, ou o futuro risonho da família Jetson, nos desenhos animados, no qual, por esta altura, todos teríamos carros voadores.
As previsões falham quase sempre de duas formas.
A primeira porque não incorporam o potencial de transformação à sua frente – “disruptivo”, como agora se diz. Exemplo: William Orton, presidente da Western Union afirmava que o telefone tinha demasiados constrangimentos para ser uma forma de comunicação.
A segunda, porque dá demasiada importância a uma possibilidade, projetando um futuro em que um só fator faz toda a diferença. Outro exemplo, o do fundador da companhia de aspiradores Lewyt que previa, em 1955, que numa década estes eletrodomésticos seriam alimentados a energia nuclear.
Tudo isto se reduz na Lei de Roy Amara: sobrestimamos o efeito duma tecnologia no curto prazo e subestimamos o seu efeito a longo termo.
E constatamos isto mesmo quando olhamos para o que o mundo mudou nos últimos 15 anos.
Começava a Guerra do Iraque e, apesar dos ataques do 11 de Setembro, não se duvidava da supremacia política, militar e económica dos EUA.
Na Europa o alargamento prosseguia, com vários países a celebrar a sua entrada na União Europeia. Hoje, entre a China e o Brexit, tudo parece tão distante.
Em 2003, o mundo não tinha Facebook, que só seria lançado no ano seguinte, nem sequer o IPhone, que só apareceria quatro anos mais tarde.
Não existia YouTube e a Netflix ainda enviava os DVD por encomenda postal. Sem Uber ou sequer GoogleMaps, a forma como comunicávamos, nos relacionávamos, víamos um filme ou as notícias parece agora que foi a um século de distância.
Se o futuro nos parece estar a acelerar, é porque está mesmo a acelerar. Durante grande parte da história da Humanidade a experiência foi local e linear e hoje é global e exponencial. Como explica Ray Kurzweil, não se trata de mais um degrau igual ao anterior, mas de uma multiplicação. Quando o genoma humano começou a ser sequenciado, os peritos previam que iria demorar milhares de anos a ser concluído, mas foi terminado há 15 anos. A previsão considerou tudo menos a aceleração da mudança e a evolução dos próprios processos.
Tudo isto torna uma previsão a 15 anos quase impossível.
Podemos apenas falar do que é provável ou possível. Se o modo como nos relacionamos e a relação com o consumo mudou, é provável que o modo como trabalhamos, aprendemos e vivemos também tenha de mudar. A capacidade de adaptação, de ligar questões diferentes para encontrar soluções radicalmente novas, vai ser essencial para uma pessoa, empresa ou país. É mesmo “a” competência estratégica essencial. Não se pode travar administrativamente o futuro.
Portugal tem alguns trunfos para os próximos 15 anos. Uma dimensão média e uma posição moderada capitalizável na atração do turismo, captação de investimento e traduzida em vários sucessos diplomáticos – como a eleição para o Conselho de Segurança da ONU, a Presidência da Comissão Europeia ou a eleição do Secretário-geral da ONU. Este ‘goodwill’ tem de ser aproveitado, num mundo com cada vez maior tensão e apreensão sobre o futuro.
Outro trunfo é a possibilidade de reformas ágeis, um fenómeno chamado ‘leapfroging’, em que os saltos tecnológicos permitem recuperar atrasos de competitividade – como foi o caso dos serviços multibanco ou da via verde, em que Portugal liderou na inovação.
Essencial é mesmo a preparação e reação à mudança. Antigamente, a mudança demorava uma ou muitas gerações a acontecer. Hoje, muitas mudanças vão acontecer no espaço da nossa geração.
O ministro do Petróleo Saudita alertou numa cimeira da OPEP: “A idade da pedra não acabou por falta de pedras, e a idade do petróleo vai acabar muito antes do ficarmos sem petróleo”. A descoberta do Bronze fez a humanidade sair da idade da Pedra, da mesma forma que novas fontes de energia vão disromper a idade do petróleo.
A questão que se nos coloca para os próximos 15 anos é mesmo essa: Estamos preparados para abraçar a mudança?