Bruno Rosa*, Prémio
Um certo ar de otimismo vem varrendo a economia global. Dos Estados Unidos a países da Europa e nações da Ásia, empresas estão retomando as atividades em ritmo cada vez maior. É reflexo do aumento do consumo das famílias, que voltam paulatinamente às sus rotinas. Otimistas, já planejam trocar de carro, reformar a casa e viajar nas férias de verão.
Todo esse ambiente vem trazendo um efeito adicional: a escalada dos preços das ‘commodities’ no comércio internacional. Petróleo, minério de ferro e soja são alguns dos exemplos de matérias-primas que acumulam fortes altas neste ano de 2021.Economistas já se arriscam em afirmar que passamos por um novo “superciclo de commodities”.
E o Brasil, um dos maiores produtores de ‘commodities’ do mundo, surfa no crescimento desses preços. Embora a pandemia da Covid-19 continue fora de controle no maior país da América do Sul, com mais de 430 mil mortes, empresas se voltam para o mercado externo e aceleram sua produção. Há ainda o ganho com a variação cambial, o que confere um duplo benefício, já que um único dólar segue valendo pouco mais de cinco reais.
Hoje, ver a cotação do preço do barril do petróleo tipo Brent a quase US$ 70 era impensável em abril de 2020, quando o valor atingiu US$ 21, no auge das incertezas trazidas pela pandemia. O movimento ainda está em trajetória de alta. Consultorias preveem cotações acima de US$ 75 por cada barril a curto e médio prazos.
E a estatal brasileira Petrobras, uma das maiores produtoras do mundo, registra o aumento das exportações. Nos primeiros três meses deste ano, as vendas do petróleo brasileiro para o exterior subiram quase 14% em relação ao último quarto de 2020. A China, país que registrou crescimento econômico de 18,3% entre janeiro e março deste ano, aumentou as compras e já soma 56% do total vendido pela Petrobras, seguido de Índia e Portugal, cada um com 7%.
Para aproveitar os preços em alta, a estatal brasileira vem focando todas as suas energias no desenvolvimento dos super campos de petróleo do pré-sal, principal região produtora do país. A área somou US$ 1 bilhão dos investimentos totais de US$ 1,9 bilhão entre janeiro e março. Porém, já começa a sentir a concorrência internacional. A estatal destacou em teleconferência com analistas, em meados de maio, que a produção dos países do Oriente Médio, como o Irão, pode afetar as vendas para seu maior comprador: a China.
Na esteira do aumento do preço do petróleo, o minério de ferro também sente os reflexos da maior demanda global. Em maio, a cotação chegou perto dos US$ 220 por tonelada, quase o triplo dos US$ 80 em abril do ano passado. Assim, o minério de ferro tende a superar a soja e se tornar a ‘commodity’ mais exportada do país neste ano, prevê a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Dessa forma, a brasileira Vale, uma das maiores produtoras de minério de ferro do mundo, se tornou no fim de abril a empresa mais valiosa da América Latina, com valor acima de US$ 103 bilhões na Bolsa de Valores. A mineradora registra geração de caixa recorde neste ano e prevê aumentar a produção, mesmo com a maior concorrência com as rivais da Austrália.
Além do minério de ferro, a Vale também mira em seus outros metais como níquel e cobre, que tiveram avanço em suas cotações. Por trás desse crescimento está o forte avanço dos carros elétricos no mundo e no Brasil. Isso porque as baterias dos veículos têm em sua composição níquel e cobre. Como forma de agregar valor a suas operações, a Vale quer reunir em uma nova empresa as minas em que extrai esses metais e abrir seu capital na Bolsa de Valores.
Outras petroleiras e mineradoras privadas no Brasil também seguem os exemplos das duas gigantes e aceleram suas apostas como forma de aproveitar o ciclo de alta nos preços e tentar recuperar as perdas do ano passado.
Mas todo crescimento traz um efeito colateral. O receio de economistas é de que forma esse movimento pode acelerar a inflação, colocando em xeque os planos dos consumidores de trocar de carro, reformar a casa e programar as férias de verão.
Ainda é cedo para saber se esse novo ciclo será temporário ou duradouro.
*Texto escrito na língua de origem do autor