“O Futuro das Ciências” é o título de um velho livro que comprei a um alfarrabista numa rua de Lausanne no final dos anos setenta.
O jovem físico aprendiz que naquele tempo me habitava fez então o “voto” de nunca cair em elucubrações sobre o futuro, pois os ilustres académicos que escreveram o dito livro, sem surpresa, não acertaram uma única previsão.
A amizade e grande estima pelo António Cunha Vaz faz-me quebrar aqui este voto juvenil e escrever estas linhas.
O amigo e, espero benevolente leitor, não vai encontrar nas minhas palavras nenhum prognóstico sobre tecnologia, automação, robótica, energia, ‘data science’, computação quântica, nem sobre demografia, mobilidade, ética, moral, democracia, governação, embora esteja seguro que todos eles, entre muitos outros, vão evoluir e ter uma enorme influência nos próximos tempos.
Quero somente a benevolência do leitor pelas ideias que aqui partilho, consciente de não ter sobre elas a profundidade necessária.
Se falamos de futuro e de passado estamos a lidar com essa grande e difícil questão que é o “tempo”. Noção ligada essencialmente a acontecimentos e relações entre eles. À nossa dimensão, humana, temos a consciência de um “sentido” para o tempo, provavelmente mais correcto se substituído por “ordem”: “Ordem do tempo”.
Todo o conhecimento sobre “tempo”, que na opinião de alguns cientistas não é mais do que uma “ignorância”, poderá ter uma evolução com consequências no avanço da ciência.
E é sobre esse avanço que tenho a esperança de que algum importante ‘break-through’ possa acontecer.
Nos últimos anos não têm existido avanços teóricos de grande relevância como existiram no princípio do Séc. XX e que permitiram um mundo com o conhecemos hoje.
A Física Teórica tem estado “perdida” numa matemática maravilhosamente complexa, mas sem conseguir os resultados que todos gostaríamos. Um avanço grande no conhecimento poderá trazer uma realidade não imaginada ainda.
Chego assim ao cerne do que queria partilhar com o leitor amigo: a minha visão do futuro, a minha esperança, o meu desejo é o de que aconteça algo muito diferente daquilo que imaginamos.
Se uma ideia gostaria de deixar aqui será a de “indeterminação”. Simplesmente não sei, não posso mesmo saber!
Espero um futuro que surpreenda e que seja diferente da evolução a curto prazo que eventualmente vislumbro hoje.
E essa surpresa poderá vir da alteração de uma posição actual demasiado antropocêntrica. Se no passado descobrimos que a terra não é o centro do universo, nem o sol, por vezes parece-me que actualmente nesse centro colocamos o “humano”.
A devastação do nosso pequeno mas belo planeta, faz-nos pensar na necessidade de destronar os humanos, substituindo-os pela “criação”, naquela perspectiva porventura “bíblica” de domínio no sentido do “cuidar” da natureza.
Vislumbro, assim, um “pós antropocentrismo”. Evolução de alguma forma também ligada a uma abolição da fronteira entre o humano e o não humano. Noutras palavras acho que a fronteira entre o corpo humano e a “tecnologia” se vai esbater e, porque não, eventualmente desaparecer.
Podemos até sonhar, com a total desmaterialização do corpo humano construindo um novo “ser” que seria, imagine o leitor amigo, eterno!