André Pinotes Batista, Deputado do PS
O uso da palavra é uma finíssima arte. Com sabedoria e planeamento, a palavra conduz massas e antecipa realidade. O seu poder é incomensurável e, quando bem orientado, indutor de novíssimos alentos. Na Política, na Justiça, na Economia e na Cultura é sempre a palavra, nas suas diversas formas, que nos diz que “o longe é aqui”.
No dia 30 de janeiro, as urnas fecharam-se e, à medida que a vontade soberana dos portugueses era apurada, fomos tomando consciência da abertura de um ciclo de enorme potencial para a Governação de Portugal.
Vale a pena determo-nos sobre o estado da arte do “komentariado português”, que nestas eleições – com sóbrias, porém parcas exceções – se apresentou determinista e arrogante, produzindo mais ressonância do que pensamento, mais narrativa do que reflexão.
A opinião é uma responsabilidade de quem a emite. Todavia, impõe-se questionar que valor terá de facto essa vinculação, se aquilo que afirmam às massas não for, pelo menos, revisitado e sindicado.
Nos últimos meses, a maioria dos fazedores de opinião apresentou muita ressonância e pouco pensamento. Falta-lhes a “dinamite cerebral” que nos deixe pasmados, mais críticos e informados.
Os responsáveis pelos nossos órgãos de comunicação deveriam aplicar parâmetros de maior exigência no cast daqueles a quem emprestam os microfones e páginas.
Se como um dia disse um grandíssimo mestre, não raras vezes “a notícia faz a realidade”, não podemos – coletivamente – permitir que os seus pincéis sejam reféns de tão “fracos pintores”.
Enquanto consumidor sôfrego de opinião qualificada, ambiciono que os bons pensadores não se diluam num mar de trivialidades. Aos intervenientes políticos, que servem transitoriamente a Nação, são indispensáveis os testemunhos e críticas de personalidades experientes, repletas de mundo e desassombro. Em Portugal, manifestamente, não faltam, mas falta-lhes como é notório apropriados palcos.
O ciclo que ora se abriu vai ser inexoravelmente marcado pela modernização da arquitetura do Estado, pela aplicação dos milhões afetos ao PRR e ao PT2030, pela recuperação do investimento público e, deste modo, pelo impulso da recuperação pós-pandémica da nossa Economia, que poderá finalmente consertar o elevador social e por um termo à desesperança geracional que a sua paragem gerou.
Para que sejamos bem-sucedidos será indispensável a cooperação entre público e privado, a coesão social, o diálogo e, apesar de raras vezes referido, é determinante que a boa palavra se faça ouvir.
Em suma, é urgente que a palavra dos melhores da nossa sociedade, atue sobre o real e – como escreveu o Poeta – nos ajude a transformar o pensamento em braços e ação.
(Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)