A evolução das relações entre Portugal e a China na próxima década e meia deve ser avaliada à luz da situação política, económica e tecnológica que caracteriza o mundo de hoje. Situação que, por sua vez, reflecte o quadro geo-político e institucional internacional saído do pós-guerra – a partir de 1945 – que tem vindo a absorver pressões de complexidade crescente.
A “grande recessão” com origem na crise financeira que, a partir de 2007/2008, assolou os mercados norte-americanos, enfraqueceu as economias ocidentais mais desenvolvidas, com um duplo efeito: a nível político interno, favoreceu o crescimento de forças populistas e nacionalistas, hostis à construção europeia; a nível internacional, enfraqueceu as economias ocidentais desenvolvidas o que, por sua vez, “abriu caminho” à emersão da China como uma potência que, a prazo, constitui uma ameaça à hegemonia política, económica e militar dos E.U.A. Como reacção e com o objectivo declarado de conter a expansão da influência chinesa – para além de querer inverter o processo de desindustrialização da economia, provocado pelo movimento de deslocalização – a Administração Trump tem vindo a pôr em causa o quadro político/institucional e jurídico/regulamentar internacional que favoreceu a globalização da economia mundial. Quadro que foi concebido e implantado com o suporte e a liderança norte-americana.
Acresce que esta evolução tem-se vindo a verificar num contexto marcado por grandes transformações e avanços tecnológicos com impactos de grande complexidade, tanto a nível político, como económico e financeiro.
Neste quadro não é naturalmente tarefa simples procurar avaliar e antecipar o que virá a ser o futuro das relações entre Portugal e a China. Mesmo que se trate de um futuro relativamente próximo como o que é sugerido para esta reflexão: década e meia.
Se, por um lado, mantemos tradicionalmente com a República Popular da China relações políticas favoráveis à intensificação do intercâmbio comercial e financeiro – em particular depois das negociações que conduziram à nossa saída do Território de Macau – por outro, a nossa economia encontra-se integrada e é parte do espaço económico do Euro. Deste modo, o futuro das nossas relações políticas e económicas e financeiras com o exterior não deixa de estar condicionado pela evolução do movimento de integração da Europa do Euro. À nossa economia interessa atrair capitais e investimentos chineses, desde que tal não signifique a perda de controle de actividades e sectores estratégicos. Assim como é do nosso interesse intensificar a presença das nossas empresas no enorme mercado chinês – exportando directamente ou através de parcerias e da associação com empresários e/ou investidores locais.
Por seu lado, a China – tanto as autoridades políticas, como grupos e empresários chineses – têm mostrado interesse em investir na nossa economia e em desenvolver as relações políticas, económicas, financeiras e culturais.
Como resultado deste interesse mútuo temos na última década assistido já a um fluxo importante de investimentos chineses na nossa economia. Investimento que, nos últimos anos, se tem dirigido para múltiplos sectores: em particular, energia, transportes, serviços financeiros, seguros, saúde, imobiliário e hotelaria. Por outro lado, tem vindo a crescer e a desenvolver-se o relacionamento de empresas portuguesas com os mercados e com os investidores e empresários chineses, o que constitui uma plataforma importante para o futuro.
Permaneço por isso convencido que, apesar da complexidade, dos riscos e das incertezas que ameaçam a estabilidade dos mercados e as relações comerciais e financeiras mundiais, estas irão continuar a desenvolver-se. A ser assim, o nosso País pode tirar partido do seu bom relacionamento com a República Popular da China para – nos próximos 15 anos – consolidar e intensificar as relações com este grande País, com importantes vantagens para a nossa economia.
Uma última observação para referir que, na sua área de intervenção, e de acordo com a sua missão estatutária – em especial no que se refere ao intercâmbio cultural e artístico – a Fundação Oriente irá prosseguir o seu apoio à consolidação e ao desenvolvimento das relações entre Portugal e a China.