Convidado a escrever sobre o futuro do mundo do desporto e ainda mais particularmente do futebol recordo um adágio popular que nos diz que quem aprende com os seus próprios erros é inteligente; quem aprende com os erros dos outros é sábio.
Como Presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) olho para o futuro com o otimismo de quem sabe que a inovação será uma peça chave nos próximos anos e com a clara consciência de que o imobilismo redundará na irrelevância.
Gestor de uma atividade que não se resume às suas fronteiras, arriscaria deixar algumas pistas sobre as áreas em que prevejo verdadeiras mudanças de paradigma que todos teremos de saber acompanhar.
Na performance desportiva teremos uma cada vez maior predominância da área médica. Se o futebolista dos dias de hoje não tem nada a ver com o de há quarenta anos isso também se deve à evolução da medicina desportiva, à prevenção e tratamento de lesões, à melhoria de índices físicos do atleta que é a base da pirâmide no desporto.
Considero que a sustentabilidade ambiental será igualmente um dos pontos no qual assentará o desenvolvimento desportivo. Estádios de fibra de carbono que permitem transmutações espaciais; infraestruturas desportivas com menor pegada ambiental que permitirão a sua edificação no centro das cidades; utilização massiva do relvado sintético na formação são apenas algumas das mudanças que têm permitido, à volta de todo o mundo e em Portugal, uma maior aproximação do futebol a um espetador que é, cada vez mais, o centro da atividade desportiva e o verdadeiro decisor em relação aos caminhos que o futebol terá de trilhar.
A tecnologia será outro dos vetores essenciais de um futuro já tão próximo. A introdução do vídeo árbitro como instrumento de credibilidade, que já tinha sido iniciado no rugby e no ténis, será decisivo no futebol. A diminuição do erro centrará o desporto na sua própria atividade, não dando margem de manobra a uma discussão estéril sobre arbitragem que nenhum bem trouxe à nossa modalidade e que, pior, não alargou a sua base de adeptos.
Não serão estas as únicas mudanças tecnológicas de fundo. Terei, até porque é um caminho que já está a ser feito na FPF, de dar um enfoque especial aos e-sports que caminham para ser tão populares como os desportos realistas. A sua base de adeptos é indiscutivelmente alargada e tem demonstrado uma enorme resiliência e capacidade de se afirmar nos mercados de entretenimento. Quando o desporto e os e-sports se juntarem as federações quebrarão, nas próximas décadas, todos os recordes históricos de praticantes.
Sabendo que nenhuma mudança será tão drástica como aquela que se está a operar no domínio dos direitos televisivos e comerciais do desporto, considero que estas mudanças de paradigma tecnológico também se refletirão nas transmissões televisivas e, consequentemente, no financiamento do desporto.
Prevejo que inevitavelmente as cadeias de televisão perderão algum espaço à medida que federações, ligas, jogadores e fans aprofundarem o seu caminho de produtores de conteúdos sem mediação de jornalistas ou até comentadores. As grandes plataformas ‘online’, como o google, Facebook ou os canais pay per view poderão ser grandes detentores de direitos nos melhores produtos televisivos desportivos. Os fãs terão acesso a conteúdos por multiplataformas e poderão até escolher e personalizar as perspetivas através das quais assistem ao futebol. Teremos um futebol mais dirigido ao adepto que é também cliente e principal alvo do marketing e comunicação desportivos
Parece-me que o futuro continuará, no entanto, no futebol e no desporto, assente em valores milenares. Todas as perspetivas do futuro não terão acolhimento se não assentarem na credibilidade, honestidade, boa gestão e talento. Tem a palavra o tempo.