Terça-feira, Abril 23, 2024

O Fim da História e o Seu Perpétuo Recomeço

André Pinotes Batista, Deputado Partido Socialista

O armistício de 14 de agosto de 1945, que gizou o termo da segunda grande guerra mundial, constituiu–se como pedra angular para a edificação de setenta e quatro anos de relativa estabilização da Europa ocidental. O desenvolvimento tecnológico, económico e social sustentado, que se registou desde esse, cristalizou na consciência coletiva dos povos uma ideia de prosperidade imutável, não obstante a incidência de algumas crises políticas, económicas e financeiras de vigorosa incidência, porém de célere, exceto na crise de 2008 ultrapassagem.

Se os primeiros apontamentos noticiosos sobre o surgimento de um novo coronavírus, na Ásia, no final de 2019, se fizeram sentir como mera brisa vinda de Leste, no momento do anúncio por parte da Organização Mundial de Saúde, a 11 de março de 2020, de que o surto se tinha elevado à categoria de pandemia, já a humanidade começava a tomar consciência da real dimensão do fosso que o vírus escavaria nas Nações do mundo dito Ocidental.

O “ano que virou o mundo ao contrário” alterou de forma súbita, drástica e irreversível o nosso modo de vida na sua esfera pessoal, familiar, social e profissional, bem como a estruturação das diversas economias do velho continente e, em última análise, de sobrevivência dos próprios regimes democráticos que, de forma igualmente infundada, nos acomodámos a dar por garantidos.

Foram 366 dias feitos de longas e escuras horas que, não obstante, também se inscreverão positivamente na história, pela resiliência de pessoas e empresas na hercúlea batalha pelo controlo da pandemia, da proteção das pessoas e pela recuperação da economia. A forma articulada e eficaz com que se investigaram, desenvolveram, produziram e distribuíram vacinas, constituem cabal exemplo da magnitude do esforço global da humanidade.

Por outro lado, em Portugal, o desempenho abnegado dos trabalhadores do Serviço Nacional de Saúde, dos agentes de autoridade e proteção civil e, muito em particular, dos milhares de empresários que nos haviam colocado como um País a crescer, sustentadamente, acima da média europeia, é merecedora de elevadíssima nota de destaque.

Aos titulares de cargos públicos coube a enorme responsabilidade de construir soluções de resposta inovadoras e eficazes. Neste quadro, o Governo da República, as autarquias locais e as entidades desconcentradas do Estado, revolucionaram – eficazmente – a sua forma de intervenção, apoiando a economia em 22 mil milhões de euros, negociando pacotes financeiros de recuperação e transição no valor de 57,9 mil milhões de euros, a aplicar até 2029, acelerando a transição digital e criando novos mecanismos de proteção social e laboral. No seu conjunto, estas medidas representam uma verdadeira ponte sobre o abismo que a pandemia abriu, uma infraestrutura de políticas públicas que nos tem permitido atravessar, com tanta normalidade quanto possível, sob um mar de absoluta exceção.

O otimismo realista é, neste contexto, o nosso melhor instrumento. Na vertigem do fim da história, aguarda-nos sempre um novo recomeço. Providos de conhecimento científico, humanismo e visão estratégica temos uma oportunidade ímpar de edificar novos paradigmas. Na alvorada deste novo tempo, em que a esperança se reacende, mas há ainda tanto por fazer, deixemo-nos guiar pelas palavras belas de Sebastião da Gama. “Chegamos? Partimos. Vamos. Somos.”

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